Espaço Acadil: Saudosas lembranças
A evolução dos seres humanos, da tecnologia e da inteligência artificial avançam a passos rápidos, difíceis de acompanhar. Lembro-me, quando criança, não tinha com que me preocupar com o advento da televisão, pois aqui no interior, estávamos protegidos contra ela.
Meu tio Eridano Del Campo (in memoriam), que residia em São Paulo e em Itu, relatou-nos a novidade da televisão inaugurada na Capital, creio que a TV Tupi cujo logotipo era um indiozinho; a gente balançou a cabeça. Disse-nos que a TV era similar a um rádio com uma pequena tela, onde se via a imagem da pessoa que estava falando ou cantando. A gente caía na gargalhada, só podia ser mentira.
Em dezembro de 1956 ele trouxe um presente para a sua mãe Clotilde (in memoriam), minha avó, no Hotel Central, uma TV preto e branco marca Windsor.Na época não havia retransmissão dos sinais televisivos, ligada à tomada só apresentou chuviscos. Minha avó educadamente disse:
– Muito obrigada, o presente é muito bonito!
Eridano foi o primeiro ituano a trazer uma geladeira elétrica para Itu e fundou a loja “A Elétrica” na rua Floriano Peixoto. Contava que, para vender as geladeiras precisava deixar o aparelho na casa do comprador por um mês. Se ninguém adoecesse, a compra se concretizava.
Eridano era empreendedor e comerciante. Lançou em Itu o loteamento Jardim Eridano, Jardim São José, O Bom Viver e em Indaiatuba o Jardim Santa Rita. Foi combatente do 4° RAM, durante a Revolução de 1932.
Nos anos sessenta, se não me falha a memória, foi inaugurado o primeiro semáforo na esquina da Floriano Peixoto com a Sete de Setembro, antigo “beco do fuxico”. Além das autoridades, compareceu a banda União dos Artistas executando seus dobrados sob aplausos e foguetes.Eu estava lá, ao lado do Acácio, famoso caçador de rãs,nosso companheiro de caçadas:
– Já vão ligar o cremasco!!!
– Não é cremasco, é semáforo Acácio.
O primeiro rádio a entrar em casa foi comprado por meu pai Osvaldo Del Campo (in memoriam), na Casa das Máquinas do Orlando da Silva (in memoriam), pescador e nosso amigo. O rádio só pipocava e Orlando gentilmente trocou-o por outro (GE) com a instalação de uma antena no telhado. Dava para acompanhar pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, as radionovelas do “Jerônimo, o herói do sertão” e “As Aventuras do Anjo”.
Osvaldo, aos onze anos, ingressou no Banco de Itu, da família Bicudo. O menino precisou abandonar os estudos para trabalhar e ajudar a família. Banco comprado pela família Vidigal,dona do Banco Mercantil de São Paulo S/A, onde meu pai fez carreira e chegou a gerente da instituição.
Quando atingi meus onze anos, meu pai matriculou-me na escola Remington de datilografia, das professoras Emília e Plínia (in memoriam) e que me foram úteis por toda a vida.
Recordações que trazem saudades dos que já se foram.
Guilherme Del Campo
Cadeira Nº 11 I Patrono Mário de Andrade