Espaço Acadil | Vicente Taques (1749-1825), o capitão-mor no auge da vila de Itu

Em 2025, comemoramos o bicentenário da morte do mais célebre capitão-mor dos tempos coloniais em São Paulo. Durante 46 anos foi o chefe incontestável de Itu, quando a vila vivia seu ápice: econômico, com a lavoura da cana; artístico, com a construção das suas principais igrejas; político, com o aparecimento de líderes liberais de importância nacional.

Vicente da Costa Taques Goes e Aranha, seu nome completo, imponente e heráldico, viveu 76 anos, longa existência, numa época e num local em que a vida média não passaria da metade disso. Não é fácil acharem-se, na história luso-brasileira, outras sete décadas de tantas tempestades. Nasceu em Itu no último ano do reinado de D. João V, e aí passou a infância e juventude quando a colônia e o reino estavam sujeitos às curtas rédeas do marquês de Pombal, ministro de D. José I. Com 20 anos, teve sua primeira nomeação para um cargo público – juiz de medição. Dez anos depois, em 1779, já durante o reinado de D. Maria I, foi feito capitão-mor da vila de Itu. Morreu no cargo, já cidadão de um país independente, com D. Pedro I imperador.

No período em que Vicente Taques foi capitão-mor, Itu liderava a produção de açúcar na província, fato que proporcionou as riquezas particulares que se refletiram nas construções e reformas das maiores igrejas da vila. A educação e a cultura estavam nas mãos da Igreja. O número de padres seculares, em certos momentos, passava de quarenta, mais uns vinte regulares, entre jesuítas, franciscanos e carmelitas, levou alguns exagerados a falar de uma Roma brasileira. Apareceram também os “casarões” das famílias mais prósperas, que caracterizam a velha cidade, (infelizmente poucos sobrevivem hoje). O patrimônio arquitetônico de Itu, frise-se, vem dos tempos do capitão-mor. No último quinquênio de sua vida, destacaram-se em Itu importantes figuras na área da política, religião e arte.

Várias originalidades tornaram o capitão-mor único na história paulista: retratado logo após sua morte, referido em memórias de contemporâneos, permanência de tanto tempo no cargo… O que queremos ressaltar, porém, é algo desconhecido por todos os historiadores que dele trataram no passado: era um bom poeta. Ignora-se outro anterior na capitania. Por algum motivo, uma sua poesia foi incluída erroneamente com outra autoria, na primeira antologia importante de versos escritos por brasileiros, a de Varnhagen (1850/1853). Só cem anos depois, numa reedição do livro pela Academia Brasileira de Letras, descobriu-se que o verdadeiro autor do poema era o nosso personagem.

Nunca antes e jamais depois, houve em Itu tanta prosperidade econômica, tantos homens eminentes, e um “prefeito” poeta, reconhecido nacionalmente: tempos do capitão-mor Vicente Taques.

Synesio Sampaio Goes Filho
Cadeira Nº 23 I Patrono Washington Luís Pereira de Souza

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