Especial: a força da presença feminina na política
Ontem (08) foi celebrado o Dia Internacional da Mulher, importante data para celebrar as conquistas das mulheres ao longo da história, além de lembrar da importância de continuar lutando pela igualdade e reconhecer o papel fundamental delas em todas as esferas da sociedade – inclusive na política.
Vale destacar que faz menos de 100 anos que as mulheres podem votar no país. O voto feminino no Brasil foi reconhecido em 1932 e incorporado à Constituição de 1934, mas era facultativo. Em 1965, tornou-se obrigatório, sendo equiparado ao dos homens. A partir daí, as mulheres passaram a ocupar espaços até então predominantemente masculinos, sendo eleitas, inclusive.
Em 2010, o Brasil elegeu pela primeira vez uma mulher para a presidência da República: Dilma Rousseff (PT), que foi reeleita em 2014 e deposta após processo de impeachment em 2016. Para refletirmos mais sobre a presença da mulher na política, a reportagem do JP ouviu as três vereadoras de Itu e a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) também foi procurada através de sua assessoria, mas não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.
Maria do Carmo Piunti – Primeira mulher a ocupar a presidência da Câmara de Itu, Maria do Carmo Piunti (PSC) tem um histórico de luta pela presença feminina na política. “Após 40 anos na política e sempre lutando pela inserção da mulher nessa área, percebo que essa participação feminina ainda é muito pequena. Dos 13 atuais vereadores, apenas três são mulheres. Na legislatura passada, eu era a única. Essa é a realidade do país todo”, frisa.
Segundo ela, isso ocorre porque a carga dos filhos, na maioria das vezes, fica para as mulheres. “Hoje temos uma maior participação do homem na vida doméstica e familiar, mas ainda assim a carga maior é da mulher. Normalmente é ela quem toma conta da vida escolar dos filhos, que é responsável pela casa, etc”, afirma.
Na visão dela, para que haja maior equilíbrio nesse sentido, é necessário que as mulheres sejam mais ativas nas representações da sociedade, através, por exemplo, de associações culturais, religiosas, terceiro setor, entre outras. “Assim, ela terá visibilidade e destaque na sociedade, podendo mostrar liderança e capacidade de agregar pessoas a seu lado, que apoiem e incentivem sua participação política”.
Célia Rocha – Apesar de estar em seu primeiro mandato como vereadora, Célia Rocha (PL) já foi secretária e diretora de Educação, sempre transitando também no meio político. Para ela, atualmente a representatividade da mulher na política é de extrema importância. “É fundamental que todas as mulheres participem cada vez mais nos processos decisórios em todos os âmbitos de atuação, sendo imprescindível o compromisso de todas, para a conquista de uma sociedade mais justa e igualitária”, afirma.
Segundo a vereadora, a crescente participação das mulheres na política permite que pautas ligadas à “mulher na política e pela política” tenham maior visibilidade no poder público, inclusive para o avanço da legislação e na formulação de políticas públicas de sucesso.
Ainda de acordo com Célia, que é primeira-secretária do Legislativo, a participação efetiva da mulher na política, proporciona um “olhar” para a vulnerabilidade no país e constitui em políticas que impactam positivamente a vida das pessoas que mais precisam.
“A ampliação feminina em espaços políticos, transformam o cenário dominado pelos homens, assim como a percepção da necessidade sobre como aumentar a atuação das mulheres eleitas. Desde 1932 até o momento atual, houve um avanço significativo e nunca se falou tanto sobre a importância da mulher na política, mas é preciso que movimentos pró participação da mulher, representantes dos poderes executivo, judiciário e legislativo e de todos os segmentos debatam e entendam a importância desse aumento da atuação feminina na política nacional em prol do nosso país e pelo fortalecimento da Democracia”, finaliza a parlamentar.
Patrícia da ASPA – Também em seu primeiro mandato, Patrícia da ASPA (PSD) diz que a mulher vem conseguindo o seu espaço na política com muita determinação. “Isso mostra a sua importância e seu valor na sociedade. Aos poucos estamos conseguindo mudar estes números e cada vez mais conseguindo ter a oportunidade de entrar neste campo da sociedade e mostrar o quão grandes somos”, conta a vereadora.
“Com muito trabalho e determinação, consegui ser eleita vereadora e hoje ser vice-presidente do PSD. Todas as mulheres podem e devem procurar seu espaço na política e espero que esse número aumente consideravelmente no decorrer dos anos. Pois a mulher é guerreira, batalhadora e forte, afinal ‘lugar de mulher, é onde ela quiser!’”, declara.
Para ampliar a presença feminina na política, Patrícia acredita que é necessário que essa ideia seja bem compreendida e respeitada pela sociedade. “À medida que o respeito e a inclusão das mulheres forem de fato realizados, muito mais mulheres irão querer participar e fazer a diferença na política. Então, nós precisamos nos unir e propagar mais esse ideal em prol de uma política honesta, com objetivos claros, com leis funcionais e que ajudem de fato a população”, finaliza.
Erika Hilton – Primeira mulher trans eleita deputada federal, Erika Hilton (PSOL) começou a militar em Itu, onde se candidatou a vereadora em 2016. Depois, integrou o mandato coletivo de Monica Seixas (Bancada Ativista) e foi eleita vereadora em São Paulo no ano de 2020. Depois, em 2022, foi eleita a nona deputada mais votada no Estado de São Paulo.
Para ela, a participação política feminina vem crescendo nos últimos anos, em todo Brasil. “Mais mulheres, em toda a sua diversidade, como mulheres negras, indígenas, trans, mulheres do campo têm sido eleitas, mas ainda é absolutamente insuficiente. Não chegamos a ser 30% de nenhuma casa legislativa, então nossas pautas de saúde sexual e reprodutiva ainda são colocadas em cheque e como moeda de troca para acordos políticos entre conservadores, reacionários e homens que tutelam os nossos direitos”, afirma.
Ainda segundo ela, estamos avançando, “mas é necessário políticas públicas que permitam o avanço em maior escala, não só preenchendo vagas nas casas legislativas, mas essencialmente fazendo avançar as pautas que são caras para as mulheres”. Para ampliar a presença feminina na política, ela sugere que são necessárias políticas públicas afirmativas.
“Várias delas já em discussão há muitos anos, seja nas Câmaras Municipais, nas Assembleias e na política nacional, que passam por garantia de financiamento de campanhas de mulheres, o combate às candidaturas laranja, e até políticas de reserva de vagas específicas para mulheres na composição das casas legislativas. É claro que os homens podem e devem ser aliados de nossas pautas, mas garantir que haja igualdade de competição nas eleições para as mulheres, é até políticas paliativas e compensatórias como as cotas nas cadeiras para mulheres, são maneiras concretas de garantir que os nossos avanços sejam maiores, mais rápidos, e mais efetivos”, finaliza.