Especial: a relação de ituanos com o “Homem Sorriso”

Com mais de 60 anos de atividade diante das câmeras, Silvio Santos sequer tinha ideia de quantas pessoas passaram pelos mais diversos quadros de seus programas. Milhares, milhões, talvez. De norte a sul, de leste a oeste, pessoas anônimas de centenas de municípios brasileiros, pelo menos uma vez, passaram pelo palco de seus programas.

Em Itu não foram poucos que em algum momento estiveram frente a frente com o “patrão”. Há quem esteve, aliás, mais de uma vez. O Periscópio ouviu algumas histórias.

O ex-prefeito Olavo Volpato, embora apenas tivesse tido breves contatos com Silvio Santos, conta que foi em sua gestão como prefeito que Itu ganhou projeção nacional no quadro Cidade Contra Cidade. “Na verdade eu ficava mais nos bastidores e tinha mais contato com o Gugu [Liberato] que trabalhava na produção. Mas me lembro que foi uma grande época em que participamos de 12 programas e obtivemos dez vitórias”, orgulha-se.

Olavo tem uma história curiosa sobre o programa, que era uma gincana semanal entre cidades. “Uma das provas era levar um burro fantasiado. Nós tínhamos um burrinho mansinho e o levamos em uma carretinha e a fantasia dele estava com o [saudoso] Paulinho de Francisco que foi com o resto do pessoal em um ônibus fretado. Como o ônibus não podia ficar parado na Avenida Ataliba Leonel [onde era a sede do SBT], o pessoal desceu e o motorista ficou de passar por lá ao final das gravações”.

Só houve um problema: a fantasia do burrinho ficou no ônibus. “Foi uma correria. A gente saiu no encalço do motorista e ninguém conseguia saber onde o ônibus estava estacionado. Não havia celular na época e ficamos das dez da manhã até às três da tarde correndo atrás, até que alguém localizou o ônibus em um posto de gasolina na avenida Marginal. No fim pegamos o material, fantasiamos o burrinho e ainda vencemos a prova”, falou entre risos Olavo.

Sacramur Garcia da Conceição foi eleita a mais bela mulata no “Cidade Contra Cidade”

Também no Cidade contra Cidade, uma das provas consistia em levar a mais bela mulata e Olavo convidou a jovem Sacramur Garcia da Conceição, que na época trabalhava na Prefeitura. Em contato com a reportagem ela disse que “participei em oito vezes e nas oito Itu foi vencedora. A sensação de conhecer Silvio Santos foi fantástica. Um homem educado, super bacana. Foi muito maravilhoso com todos nós que participamos” emociona-se.

Foi a primeira vez que Sacramur participou de um programa de TV, mas saiu-se muito bem, tanto que venceu em todas as oportunidades, não apenas pela beleza, como pela desenvoltura. Ainda em se tratando do quadro Cidade Contra Cidade, quem tem inúmeras histórias para contar é o conhecido Vicente Elias Schanoski, radialista dos mais completos, que foi o Mestre de Cerimônias das apresentações de Itu no programa.

Schanoski, evidentemente, foi dentre os ituanos quem mais esteve frente a frente com Silvio Santos, já que participou de 12 edições do quadro. Com sua simpatia e memória prodigiosa, Schanoski poderia passar horas falando sobre o assunto. Porém, infelizmente, encontrava-se hospitalizado durante a realização desta matéria, vindo a falecer nesta sexta-feira (23). 

Mas o velho Schana não poderia passar sem ser lembrado e reverenciado nesta matéria, ele que em inúmeras vezes contou histórias e bastidores da participação de Itu no Cidade Contra Cidade. Fica, então, a gratidão dos ituanos e de Itu a pessoa de Schanoski, que com tanta competência e orgulho representou o município.

A jornalista Rosana Bueno participou do quadro “Namoro ou Amizade”, em 1997. Ela lembra que “no final de 97 me falaram que estavam fazendo uma seleção na Casa da Cultura e era um pessoal do SBT, procurando pessoas para participar de um programa e pagavam um cachê de R$ 300,00. Eu tinha acabado de colocar um aparelho nos dentes e precisava pagar meu dentista e estava desempregada. Assim, me interessei em ir”.

A jornalista Rosana Bueno com o apresentador no “Namoro ou Amizade”

Rosana disse que “fui até a Casa da Cultura, conversei com uma moça, tiraram uma foto e disseram que entrariam em contato. Dois dias após me ligaram e me chamaram para o programa. Veio uma van e o pessoal de Itu foi. Tudo muito legal, divertido, pessoal eufórico”. Ela lembra rindo que “os figurinistas tiveram dificuldades para arrumar minha roupa, pois eu era muito alta e magra”.

Uma curiosidade que Rosana destaca é que “havia também seis meninos de Itu, mas na verdade ninguém queria namorar. A gente queria conhecer o Silvio Santos, aparecer na televisão… acho que só eu é que tinha um intuito financeiro [pagar o dentista]. O programa foi gravado e demorou acho que uns dois meses para passar”.

Depois que o programa foi ao ar, Rosana constatou de perto a repercussão. “Na época eu já estava trabalhando e era caixa no Barateiro [que depois virou Extra e agora é Pão de Açúcar] e tinha uma menina que também participou do programa que também era caixa e ficava ao meu lado. As pessoas queriam passar nos nossos caixas, comentavam que nós participamos do programa. As pessoas queriam passar conosco porque ficavam curiosas”. 

As pessoas também paravam Rosana nas ruas. “As senhoras, principalmente, queriam saber como era o Silvio Santos. Algumas falavam que ‘não deu certo o namoro, você era muito bonita para ele [o candidato]’, e coisas assim”, brinca.

Rosana, afinal, diz que foi bacana, bem divertido. “Conhecer o Silvio Santos, que me pareceu ser exatamente aquela pessoa que eu via na televisão, foi muito legal”, conclui, dizendo ainda que teve uma tia que já ganhou um Fusca no Baú da Felicidade. E principalmente quem tem mais de 50 anos, deve lembrar que os Fuscas do Baú da Felicidade sempre eram sempre assim: “novinho, novinho… zerinho, zerinho”!!!

A pequena Ket ao lado de Silvio Santos no quadro “Boa Noite, Cinderela”

Ketlin Cristine Antonio Rocco é paulistana do Tatuapé, mas há muito vive em Itu. Sua relação com Silvio Santos não poderia ser mais terna. Uma ternura que na verdade era da própria Ket, que com apenas três anos participou do quadro Boa Noite, Cinderela.

“Foi em 1985 que eu participei e na época era TVS. Eu não me lembro de nada, apenas do que a minha mãe contou e pelas imagens que ela gravou em casa. Me parece que a emissora não brindava as participantes com a gravação, mas minha mãe deixou o videocassete programado para gravar o programa e por isso eu tenho ainda”, disse.

Ela lembra que em 1985 sua participação foi em um dos últimos programas, pois logo o quadro acabou. Ket diz ainda que “são poucos os registros desse quadro, pois o SBT passou por um incêndio e perdeu muita coisa. Então os vídeos da época, que estão na internet são como o meu, gravado em casa”. Vale lembrar que o vídeo de Ket, após divulgado na internet, viralizou.

Ket disse que pela sua participação no programa, ganhou uma boneca. “Essa boneca era uma ‘febre’ entre as meninas na época. Era uma bonequinha que vinha com um bebê no carrinho, e como eu acabei sendo coroada a Cinderela do programa, ganhamos também cinco milhões de cruzeiros, prêmio que ficou para a família, sendo que meu pai até comprou um táxi na época”.

A mãe de Ket dizia que a menina gostava muito do Silvio Santos e por isso, ela acabou escrevendo uma carta, mas nunca imaginou que a pequena seria chamada para participar do quadro. “Um belo dia a produção entrou em contato com minha mãe e pediu para me conhecer. Eles vieram em casa, fizeram algumas filmagens e a partir disso, fui selecionada”, afirma.

Quando da gravação do programa, Ket deu trabalho. “Eu era muito agarrada à minha mãe e na hora de entrar eu comecei a chorar. Chorava muito e minha mãe ficou desesperada. Eu estranhei o lugar, as luzes, a platéia e não tinha ninguém para me substituir e a produtora também ficou desesperada”.

Foi nesta hora, segundo a publicitária, que “Silvio Santos passou e eu estendi a mão para ele. Então o Silvio veio até mim, me pegou no colo, conversou comigo e isso me acalmou. Isso deu certo, tanto que eu era a menor das três candidatas, mas acabei me saindo melhor e ganhei”.

Ela acredita que não era a produção que escolhia a vencedora, mas sim a reação da plateia e ela, Ketlin, foi a que mais agradou. Na verdade tudo o que Ket relatou foi o que recebeu de informações por meio de sua mãe, pois ela com apenas três anos, não tinha as lembranças. Ket, depois de mais velha, gostaria de ter tido mais um contato com Silvio, mas isso nunca chegou a acontecer.

A mãe de Ketlin chamava-se Maria José Baticioto Antonio e tudo o que se relatou, tudo o que aconteceu, deve-se à dona Maria José, que faleceu em 2017, mas que deve estar muito orgulhosa da filha e de ter conhecido de perto o ídolo Silvio Santos.

Para aqueles que se lembram do grande Simplício, alter-ego de Francisco Flaviano de Almeida, não podem se esquecer que a amizade entre ele e Silvio Santos foi um sentimento tão sincero quanto duradouro.

Foram décadas de convivência em que dividiram teatros, circos, camarins e câmeras de TV. Simplício faleceu em 2004 e seu filho Francisco Jolkesky de Almeida foi contatado pelo Periscópio para esta matéria. Chiquinho, como é conhecido, disse que ele, particularmente, não teve um contato pessoal com Silvio, mas deixou um depoimento que destaca uma vida de amizade e respeito mútuo.

“O grande Silvio Santos chegou a vender ingressos para a companhia teatral do meu pai quando saía pelas ruas de São Paulo com seu Realejo com aquele pássaro que tira bilhetes da sorte. E vendia muito! Por ironia do destino, depois meu pai foi trabalhar na emissora criada por ele, Silvio, a TVS, que depois virou o SBT”.

“Meu pai passou por praticamente todas as emissoras de TV e jamais foi tão respeitado como no SBT. No final da carreira e da vida, Carlos Alberto de Nóbrega e o SBT, de Silvio Santos, mantiveram meu pai até o fim, mesmo ele estando impossibilitado para trabalhar, meu pai recebeu salário e todos os benefícios do contrato até o último dia de sua vida”.

“Deve ser satisfatório terminar a vida ao lado da família. Poucos terão esse prazer. Até nisso Silvio Santos foi completo. Nunca fui idólatra! Mas aqui e agora quero deixar meu muito obrigado para meu ídolo Silvio Santos e pra toda família Abravanel”!

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