Especial: Mão de Onça, orgulho e lenda viva do futebol de Itu

Aos 85 anos, ex-goleiro fala da carreira e mostra-se uma pessoa tão humilde quanto importante para o futebol

Moura Nápoli

Do alto de seus 85 anos, Durval de Moraes é, hoje, uma pessoa que anda pelas ruas de Itu, passando de forma discreta pelas pessoas que em sua maioria não o conhecem. Uma pena, pois ele deveria ser reconhecido e reverenciado, como um dos grandes goleiros da história de Itu.

Durval de Moraes é Mão de Onça, goleiro extraordinário que integrou o elenco do CAI – Clube Atlético Ituano, bicampeão do interior nos anos de 1954/1955. Mão também passou por outros clubes e, jogando no Juventus, entrou para a história do futebol mundial.

É bem verdade que a recordação não é das mais lisonjeiras, pois foi Mão de Onça, com a camisa do Juventus, que sofreu o gol mais lindo marcado por Pelé em toda sua carreira. Mas, hoje, isso acaba sendo de certa forma até um orgulho. Afinal quantos goleiros mundo afora não levaram gols de Pelé? O mais lindo, entretanto, foi exatamente sobre Mão de Onça.

O goleiro despontou jogando no Ituano, onde chamou a atenção do então integrante da comissão técnica do São Paulo, Armando Renganeschi, que recomendou sua contratação. Na época, o treinador era Vicente Feola.

Naquela época Mão de Onça chegou para ser o terceiro goleiro, já que Poy era o titular e havia também outro goalkeeper que chamava-se Paulo, que havia vindo do Guarani de Campinas. Poy chegou a recomendar Mão de Onça para a direção do Juventus, mas por outro lado, Feola alertou sobre o Atlético Mineiro, que precisava de um goleiro e Mão acabou sendo emprestado ao clube mineiro.

“Eu estava assustado, estava acostumando com São Paulo e nunca havia jogado tão longe. Acabei indo para Belo Horizonte, fiz alguns jogos, mas acabei não ficando. Foi quando eu retornei e acabei acertando com o Juventus, onde fiquei por quase dez anos”, lembra Mão.

O goleiro embora não negue que o Juventus foi um grande clube, faz questão de ressaltar que “o que realmente me marcou como goleiro foi o Clube Atlético Ituano. Foi o início de tudo”, diz mencionando também o Primavera de Indaiatuba e o Irmãos Gazzola, de Itu.

Hoje, comparado com seu tempo de jogador, Mão de Onça vê um futebol muito diferente. “Nunca vou me esquecer de um lateral esquerdo que tínhamos aqui em Itu, o Tati. Os atacantes de hoje, não passariam pelo Tati. Era sério, jogava na bola, não dava espaços. O que se chama de moderno, hoje, ele já fazia”.

O ex-jogador até ironiza, dizendo que hoje tem jogador por ai que não dá para acreditar. “Não sei se é ruindade, ou é muito dinheiro que eles ganham… Não é falar mal, mas antigamente era muito amor. Eu fico irritado… antigamente tinha amor, era raça. Hoje a gente não vê isso, falta sangue”.

Se financeiramente Mão de Onça não ficou rico, ele também não pode reclamar muito. O que sente é apenas não ter dado ouvidos ao seu pai. “Eu comprei uma casinha aqui em Itu, mas quando eu perdi meu guia (o pai), poderia ter sido bem melhor. Mesmo assim eu ajudei a minha família, meus filhos”.

O mais importante é que Mão de Onça ressalta e destaca que é uma pessoa feliz. Tem seus filhos, netos e bisnetos, é Testemunha de Jeová e diz que não precisa de mais nada para sentir-se um homem feliz e realizado. Filhos são seis. “Netos uns 15, acho, e bisnetos são uns dez”, calcula.

Durval de Moraes, o Mão de Onça, atualmente mora no Grajaú, extremo sul de São Paulo. Está passando uma temporada em Itu para uma cirurgia na vista, ficando na casa de Rosangela, a Jaja, uma de suas filhas. Neste período não é difícil vê-lo esbanjando vitalidade e simpatia na Barbearia do Batista (Salão Central), Fogão de Ouro ou com o Dado, na Ótica Duílio. Ah, e também fazendo uma “fezinha” na Lotérica da Apae, na Vila Nova.

Foto – Arquivo Pessoal

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Time do Irmãos Gazzola, dezembro de 1948, jogo em que foi derrotado pelo Guarani de Campinas por 1×2. Em pé: Carlos, Abílio Savi, João Bonito, Zelindo, Boi Cego, Tati, Ireno, Mão, Paulino Malfa, Nin, Silvio e Mauro Gobi. Agachados: Mauro, Elcio, (?), Escuriça, Waldemar, Nego Bamba e Fernandinho (treinador).

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O inesquecível Clube Atlético Ituano, campeão em 1954. Em pé: Salgado (só aparece meio corpo, segurando a bola), Valter Borguinho (dirigente), Ferretti (presidente), Ireno, Tati, Mário, Jacó, Mão, Nin e Lapa (treinador). Marinho, Rubini, Ioiô, Mickey e Fortaleza.

Um comentário em “Especial: Mão de Onça, orgulho e lenda viva do futebol de Itu

  • 03/01/2020 em 23:15
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    Adorei saber do mão de onça, fomos amigos em Mogi das cruzes onde trabalhamos com dedetização, conheçi figuras lendárias apresentadas por mão de onça, Ze Perucet,Edson dono do Conservatório musical que tbm foi jogador da portuguesa

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