Indústria das multas

Por André Roedel

Ter um carro hoje em dia não sai barato. Além do alto custo do próprio bem, ainda tem os gastos com o IPVA, seguro, combustível e uma série de outras coisas que acabam tornando o automóvel como um membro da família. Porém, a “brincadeira” tem saído cada dia mais cara, pois um gasto que era esporádico tem se tornado praticamente fixo no orçamento mensal dos motoristas brasileiros: as multas.

As taxas chegam às casas das pessoas por diversos motivos: excesso de velocidade, não utilização do cinto de segurança, uso de celular enquanto dirige… Enfim, infrações não faltam. E eu até concordo que é necessário multar mesmo, pois o brasileiro, infelizmente, só começa a agir corretamente quando sente no bolso. É o famoso “jeitinho” que insiste em perdurar.

Entretanto, existem casos em que as multas são desnecessárias – e, até mesmo, incoerentes. Como no caso do motorista que não utilizar farol baixo nas rodovias mesmo durante o dia. Válida desde o dia 8 de julho, a nova legislação pune com quatro pontos na carteira e multa de R$ 85,13 os infratores – e essa multa aumentará para R$ 130,16 em novembro, quando as infrações médias terão um aumento de 52% no valor.

É difícil encontrar algum motorista que tenha concordado com a nova lei. O farol baixo durante o dia é algo totalmente dispensável. O Contran (Conselho Nacional de Trânsito) alega que “as cores e as formas dos veículos modernos contribuem para mascará-los no meio ambiente, dificultando a sua visualização”. Sério isso? É tão difícil assim ver um veículo se aproximando durante o dia? Parece piada…

Outro caso bem complicado é quanto ao limite de velocidade. É claro que a pressa não leva a nada, mas tem cabimento algumas vias, como vários trechos da Avenida Galileu Bicudo (uma das mais movimentadas de Itu), terem placas de limite de 40 km/h? E o que falar da estrada nova de Salto, que tem limite de 60 km/h? E olha que é uma rodovia!

Isso só reforça o que acredito faz tempo: que existe uma “indústria das multas” nesse país. Só pra ter uma noção, qualquer governo, no momento em que vai formular o seu orçamento anual, já considera a entrada do dinheiro que será arrecadado com multas – sendo que o melhor seria esperar que seus cidadãos não infringissem nenhuma lei.

E pra onde vai tanto dinheiro arrecadado com as multas? Para a sociedade é que não vai. Talvez para a conta de políticos corruptos, talvez para financiar a campanha de candidatos… Mas para manter o asfalto das vias em condições – essa sim uma medida de segurança muito mais efetiva do que acender farol baixo durante o dia – com certeza que não é.