LEITURA E ESCRITA
O que é ser escritor? Pergunta difícil de responder. Creio que o escritor nasce com esse dom, como o compositor elabora partituras memoráveis. É um desperdício que talentos não coloquem no papel suas ideias, sua potencialidade. Provavelmente por timidez ou então não se consideram suficientemente aptos para tal tarefa.
Afirmo que um escritor é excelente leitor e possui elevado grau de observação. Seja dos ambientes, a descoberta de personagens e ocorrências históricas. Ouso dizer que o ato de escrever é fruto de uma impulsividade incontrolável. As frases brotam com velocidade e não fosse a tecnologia dos computadores ficaria impossível jogar tudo no papel e muita coisa perder-se-ia.
Não há escritor que não seja um bom leitor. Os livros expandem o conhecimento e aumentam o vocabulário. Facilita colocar as ideias no papel, além de você se expressar melhor. Lembro que no ginásio eu devorava os livros de Monteiro Lobato e me tornei imbatível nas redações.
Há quatro anos conheci um indivíduo que se intitulava poeta. Sujeito bem alto, gordo, que possuía uma cabeça minúscula e mantinha sobre ela um chapeuzinho ridículo. Vivia se proclamando escritor e, desajeitado, abordava mulheres de meia-idade, solteironas e viúvas pretendendo um relacionamento amoroso.
Trocamos livros, o meu de contos e o dele de poesias. No primeiro contato com sua obra constatei que era mal escrita, sem criatividade ou arte literária. Diria que medíocre, o que logo me obrigou a livrar-me dele.
Em maio deste ano voltei a encontrá-lo e, curiosamente, ele fingiu não me conhecer. Talvez ao ler meu livro constatasse a insignificância da sua obra.
Afirmo, entretanto, que não gosto de divulgar que escrevo. Prefiro a humildade do anonimato. Observei por várias vezes que quando presenteio alguém com meu livro ou tenho revelada minha pretensão a escritor, a maioria se retrai e se cala, inclusive a conversa se transforma num monólogo.
Quando não, revelam:
- Sabe, tenho ideias. Vou colocá-las no papel e publicar um livro.
- Excelente! Como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo, como um simples estalar dos dedos ou o apagar das luzes. A verdade é que quando a maioria tenta colocar tudo no papel, não ultrapassa a terceira linha.
O fato é que a gente não fala como escreve. A conversa envolve expressões faciais diversas, gírias, caretas e sorrisos, além dos gestos das mãos, etc…
A escrita requer muito mais. É necessário descrever e nomear os personagens, os ambientes onde se desenrola a trama, a personalidade dos envolvidos e criatividade para desenrolar todo o texto, além dos diálogos coerentes com a proposta da obra.
Eu reconheço um bom escritor quando leio um texto elegante, claro, poético, de sutis metáforas que denotam uma pena primorosa, que não escapa de uma observação clínica e o alto poder de identificação do cotidiano.
Quem sabe, daqui a alguns anos, eu seja reconhecido como escritor.
Guilherme Del Campo
Cadeira nº 11 | Patrono Mario de Andrade