Macaia Terapias: O poder magístico da saia
Por Kelly Freire | Terapeuta naturopata e integrativa, oraculista, benzedeira por herança genética, erveira por amor
A dança inicia num compasso suave e o tecido começa seu movimento. Acompanha o balanço das pernas e dos quadris movimentando os chakras básico e sexual. Enquanto o ritmo vai embalando, a saia entra em seu ritual de empoderamento.
Começa despertando a energia kundalini, fonte vital de segurança, coragem, auto estima e sedução. Depois, convida para um mergulho no interior do Útero sagrado, onde a chama do desejo mora e cujo acesso fica comprometido com as demandas diárias. A conexão então acontece e a roda se abre, abrindo também os centros receptores de prazer.
O corpo que recebe a bênção de uma saia rodada guarda em sua memória celular os registros de celebrações em volta do fogo, da alegria efervescente de uma dança, a sedução, o encanto e a magia. Ela é a conexão com as mulheres antigas, as ancestrais que usavam saia como um acessório de proximidade com Gaia, já que essa permitia que seu Sangue Sagrado descesse livremente e voltasse para terra, nutrindo como forma de agradecimento.
Na roda da saia o encantamento se manifesta em movimentos elementares que trazem para o corpo que dança a força das águas, da terra, do fogo e do ar e lembra o ser uno com a Fonte Divina. A saia guarda e protege o portal da origem da vida, enquanto manifesta o movimento de expansão do amor das Deusas.
Foi por tamanho poder, que a saia foi aos poucos sendo separada das mulheres e substituída por calças para dar a falsa impressão de força e paridade com os homens. Mas é enganoso pensar que ao nos assemelharmos com o sexo oposto nos será dado o que nos foi tirado. Calças silenciam e sufocam nossos yonnis. Nos adoece e nos desconectam da terra, nossa mãe nutridora e amorosa. E durante esse processo fomos apagando nossos instintos e, cegas, acabamos por rejeitar o poder e a magia de uma boa saia rodada, que quanto mais roda, mais se impregna de magnetismo e magia.
Saias nos tiram da estagnação e nos colocam no movimento contínuo e fluido da vida. A roda da saia, nos lembra que os círculos são necessários e protetores. Que somos feitas de alegria, celebração, força, alimento e vida.
É pomba gira manifestada. É Maria Madalena e Maria de Nazaré. É a cigana árabe, grega, indiana e espanhola. É Jurema, é a Baiana e sua resistência, é a preta velha que enxuga as lágrimas na bainha da saia. É a cirandeira e jongueira. São tantas e Somos Todas.
A saia gira com o corpo que a ocupa trazendo sentido à vida através da sedução. O farfalhar ondulado de sua roda, busca dentro de nós potencialidades, emoções, saberes que muitas vezes são esquecidos ou abafados. Seu movimento nos desperta a alma e seus registros mais selvagens. É vento de Iansã é a dança da Deusa Bastet e o encanto do amor de Oxum. É um convite para dançar com a vida, afastando a tristeza, nos trazendo clareza e abrindo os caminhos.
Quem reconhece o poder da saia, encontra em si, beleza, sedução, sensualidade, coragem, amor próprio e cura. Para si e para o próximo.
“A demanda, minha fía, a gente corta é na roda da saia”.