Médica de Itu fala sobre desafios na linha de frente no combate ao coronavírus
No último domingo (18) foi celebrado o Dia do Médico. A data, neste ano, tem um impacto maior, devido à pandemia de Covid-19, que tem desafiado constantemente estes profissionais que atuam na linha de frente no combate à doença. Nesta edição, o Periscópio traz um pouco da história da Dra. Nádia Ricci Guilger, que mora na cidade de Itu e atua no Hospital da Unimed do município de Salto.
Formada no ano de 2001, na XXXIV turma da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a profissional trabalha com quatro especialidades: Cirurgia Geral, Coloproctologia, Medicina Intensiva e Nutrologia – terapia nutricional enteral e parenteral.
À reportagem, Dra. Nádia comenta como foi lidar com uma doença nova e os aprendizados diários sobre a mesma. “A medicina é uma ciência dinâmica e que requer educação continuada, além de renovação e flexibilidade constante frente aos novos conhecimentos e tecnologias. Essa pandemia foi interessante porque demonstrou o quanto as crenças e conteúdos de internet por vezes tiveram mais destaques que o conhecimento científico e o quanto isso contribuiu com insegurança, medo e angústia para a sociedade”, destaca.
“Aqui no Brasil, apesar da novidade da doença, nós já podíamos contar com a experiência dos outros países no tratamento e convivência da pandemia e a tecnologia de comunicação que temos facilitou muito a integração de conhecimento no país e com referências internacionais”, explica a especialista.
Um período de muitos desafios e entregas. Assim Dra. Nádia define como é atuar na linha de frente. “A entrega pessoal sempre é muito grande, exige grande doação pessoal. O desafio da pandemia tem sido superar as dificuldades relacionadas a gerenciamento de stress, privação, gerenciamento emocional e gerenciamento de luto, seja no campo pessoal, junto à equipe multidisciplinar ou no contato direto com as pessoas doentes e suas famílias”.
A profissional destaca a importância do desenvolvimento de um plano de autocuidado no período. “Primeiramente a pessoa precisa estar bem e se cuidar em sua integralidade para depois partir para cuidar de outras pessoas entregando o seu melhor”.
Dra. Nádia relata outros desafios. “O risco de contágio de seus núcleos familiares e pessoas de convivência com o retorno para casa, com as relações afetivas, o preconceito e discriminação foram outras realidades que infelizmente os profissionais de saúde tiveram que conviver na pandemia. Esse período exigiu muita saúde física e mental do profissional de saúde para contribuir socialmente e muita inteligência emocional para superar as dificuldades do caminho”.
A médica ainda reforçou a importância do autocuidar para cuidar do próximo, citando ainda a utilização de EPI (Equipamento de Proteção Individual), além da soma do conhecimento técnico, aliado à compaixão, solidariedade e empatia.
Mesmo com tantos desafios diários, Dra. Nádia reflete sobre o período vivido e vê a pandemia como uma situação para aprendizado. “Trouxe uma oportunidade para a sociedade repensar seus valores, refletir sobre a interrupção da vida e as questões relacionadas à morte e rituais de luto, que são temas muito necessários para desenvolvimento social e pessoal”, comenta.
“Acredito que a pandemia também trouxe uma oportunidade para o exercício da compaixão com o outro e consigo mesmo e também de se exercitar o autocuidado e o cuidado com o outro. Foi um período bastante desafiador para os gestores públicos e privados, onde os valores do lucro capitalista foram sobrepostos por proteger e cuidar da vida das pessoas, além de estimular a solidariedade social para contribuir com as pessoas mais vulneráveis para que todos – enquanto sociedade – pudessem passar por esse caminho chamado pandemia com apoio mútuo”, reflete a profissional.
Dra. Nádia crê que quem teve oportunidade de aproveitar a reclusão social como um retiro para “autoconhecimento” teve “uma oportunidade única de rever valores e repensar seu propósito e papel social nesse mundo que vivemos”. Sobre a expectativa para os próximos meses, a profissional opina. “Acredito que estamos nos adaptando para conviver com essa doença que se manterá nos próximos meses com um número de casos reduzidos e tenho expectativa de vacinação como estratégia de controle público para 2021”, conclui.