Moradores falam da rotina durante o isolamento social devido ao coronavírus

O isolamento social que vem sendo imposto é considerada a maneira mais eficaz de interromper a proliferação do novo coronavírus (Covid-19). Infelizmente, não são muitos os que estão acatando de forma correta a medida de precaução. Para ser eficiente, a taxa de isolamento ideal deve ser de 70% segundo o Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, mas Itu registrou na última quinta-feira (16) apenas 47%. Já no feriado de Tiradentes, o isolamento foi de 57%.

A redação do Periscópio foi atrás de ituanos que estão cumprindo à risca o isolamento social. Rafael Mattei Ferreira, 29 anos, e sua esposa, Christiana Mattei Ferreira, 28 anos, estão em isolamento desde o dia 17 de março. Rafael é o único que tem saído de casa, somente para ir ao mercado. “Diminui cerca de 80% a frequência com a qual vou ao mercado. Vou de máscara, procuro respeitar a distância recomendada e quando volto higienizamos todos os produtos comprados”.

Christiana e Rafael

Por conta dessa medida, Rafael está fazendo home office e conta que no começo foi difícil se adaptar, sentia falta do ambiente de trabalho, do barulho e das pessoas. Para ele, a medida é rigorosa, porém necessária. “Acho que é a única forma de contribuirmos para que isso acabe o mais rápido possível. Quando respeitamos o isolamento, estamos protegendo a nossa família e as outras famílias da nossa cidade”.

Apesar de estarem passando por um momento difícil e nunca visto antes, Rafael e Christiana estão aproveitando esse momento para arrumar a casa, aprender novas receitar e criar novos hobbies, como aprender a tocar instrumentos. “Além disso, minha esposa, que é escritora, está aproveitando para escrever seus livros”.Rafael diz ainda que o tempo em isolamento com a esposa fortaleceu o vínculo familiar e tem resultado em muitas risadas e novos projetos, mas que sente falta dos outros familiares e dos amigos.

“Embora estamos sempre em contato por meios eletrônicos, nada substitui um abraço e uma boa conversa cara a cara. Percebemos como realmente é importante estarmos com as pessoas que amamos, visto que agora não podemos visitá-las. Com certeza quando o isolamento acabar, valorizaremos ainda mais esses momentos”, finaliza.      

Mais tempo
O jornalista Demétrio Brocca, 61, está em quarentena desde 12 de março. “Sem sair de casa mesmo. Minha esposa não deixa, pois sou do grupo de risco. Procuro ocupar meu tempo com livros, gastronomia e atividade física (Pilates). Minha esposa e eu estamos trabalhando em casa”.

Ana Rosa e Demétrio

Para Demétrio, “o isolamento tem seu lado nocivo porque é obrigatório e tudo o que somos obrigados a fazer não é bom, principalmente pela parte emocional. O lado bom é a possibilidade de rever conceitos, valores, comportamentos sociais, políticos e financeiros”.

O jornalista entende que o mundo, de um modo geral, está bem conturbado, “pois perdemos a educação, o respeito, a solidariedade e outros valores importantes para o bom convívio em sociedade”. Brocca finaliza dizendo que a maior dificuldade é a interrupção em planos de projetos profissionais.

À risca
A artesã Karen Dutra e seu marido, Gabriel Antunes, estão seguindo à risca o isolamento social. “Para mim o isolamento social não fez muita diferença, até porque eu já trabalhava em casa antes, então não alterou muita coisa. Já o Gabriel está afastado do serviço há três semanas, para ele está sendo um tormento, pois ele detesta ficar em casa, mas fiquei surpresa porque ele super entendeu e se adaptou”.

Gabriel e Karen

A artesã explica que as saídas de casa estão sendo pontuais. “Para as saídas como mercados e farmácia, evitamos o máximo deixando para ir uma vez na semana e é sempre o Gabriel que vai, mas assim que ele chega, higienizamos tudo e ele já vai para o banho também”. Embora estejam confinados, de acordo com Karen, o tédio está passando longe do casal. “Pra gente se distrair o Gabriel está aproveitando o tempo e colocando os cursos online dele em dia e eu estudando a arte têxtil a fundo. O dia sempre termina com a gente assistindo uma série”.

O lado negativo, no entanto, é a saudade. “A única coisa que está nos afetando mesmo é a falta da família. Meus pais são do grupo de risco e passar a Páscoa longe doeu um pouquinho. Mas estamos nos adaptando bem em relação às pessoas que conhecemos, e sentimos que isso logo passará. É só uma fase, logo passará”, conclui Karen.

‘Sozinha’
A jornalista Gisele Scaravelli, 33 anos, está há um mês isolada. E ‘sozinha’, tendo apenas a companhia da cachorrinha Nina. “Como eu estou trabalhando em casa, mantive a rotina de horários e sento no computador, geralmente o horário que eu entrava pra trabalhar, manter a rotina ajuda a manter uma certa normalidade”, comenta ela.

Gisele Scarevelli

Gisele afirma que ainda não conseguiu ver o lado bom do isolamento. “Acho que tiraremos as lições quando isso passar, mas não acredito que voltaremos ao ‘normal’, mas que encontraremos um novo caminho no conviver, consumir e nas relações humanas”. O lado ruim, no caso dela, é o isolamento total. “Eu não vejo meus familiares e amigos há um mês e isso tem sido mais difícil do que imaginei, mesmo utilizando vídeo e etc. Não ter contato físico diariamente é algo muito difícil. Além, é claro, do lado emocional de vivenciar uma situação dessa”.

Ela, que sente falta de tudo, vê essa situação “como muito necessária”, mas não vê as pessoas se empenharem. “Acho que nesse primeiro momento ele [isolamento] é essencial, ainda que difícil. Precisamos pensar naqueles que não têm casa para se isolar e olhar além da nossa casa e ver se pessoas próximas não estão precisando de nossa ajuda, desde ir fazer uma compra para grupos de risco até ajudar com outras coisas, como doações e etc.”

Para ela, as relações humanas serão extremamente valorizadas após esse período. “Ficávamos tanto em nossos celulares quando estávamos em família ou com os amigos e agora tudo que temos é ele. Levantar a cabeça do umbigo e olhar além, praticar solidariedade e a ter muito mais responsabilidade ao votar. Pensar coletivamente é a chave de tudo!”