Mudanças alimentares e a cultura do “in natura”
Gabriela Prado
Desde criança, sempre me disseram que eu tinha que ser bonita, sempre bem arrumada e bem produzida. Desde a infância, também, sempre comi carne. Nascemos já inseridos em um sistema capitalista e carnívoro. Assim como comer carne, quando nos tornamos adultos – ou até mesmo adolescentes –, podemos tomar as decisões por nós mesmos. E isso inclui querer parar de comer carne ou esquecer os “padrõezinhos” impostos.
Eu consegui mudar vários aspectos da minha personalidade. Um deles, de me amar e ser do jeito que eu quero ser – e não do jeito que a mídia retrata como o ideal –, me fez muito bem. Me tornar vegetariana também foi uma mudança radical, já que foi do dia para a noite, literalmente, que eu eliminei a carne da minha rotina. Muitos me elogiaram no início e muitas disseram que eu não iria aguentar. Faz quatro meses desde essa mudança e eu nunca estive melhor.
Mas muitos outros assuntos entram em pauta, já que a carne, nós e todo o nosso contexto estão inseridos no capitalismo e na onda de influências do tipo “compre isso”, “faça aquilo”, “coma isso” e “seja isso”. O ato de parar de comer carne surgiu após alguns anos observando pessoas a minha volta comendo apenas o que fosse natural, realmente, e nada originário de seres vivos. Hippie, “natureba” e outros adjetivos me foram aderidos quando eu decidi parar de participar da matança dos animais. Eu parei de comer carne porque vi que não queria fazer parte da crueldade sanguinária que é essa indústria.
E neste momento você está pensando: “mais um vegetariano no mundo não parará a matança dos animais”. Infelizmente, isso é pura verdade. Não é só porque mais uma pessoa se tornou vegetariana que os animais simplesmente pararão de morrer. Porém, é gratificante saber que estou conseguindo cumprir uma meta imposta por mim mesma. Fico feliz em saber que estou, sim, deixando de ver um prato de carne como apenas um prato. Eu escolhi ser vegetariana. Eu escolhi não participar da cultura carnívora – que é muito natural no mundo, inclusive – e escolhi também arcar com as críticas e provocações – e provações.
Outro ponto que se encaixa perfeitamente nesse assunto é a nova moda “in natura”. Parecer natural e “de cara lavada” está se tornando uma obsessão constante, tanto nas redes sociais quanto “ao vivo e a cores”. Há algum tempo, as influências midiáticas propuseram que fôssemos todos muito bem produzidos. Hoje, esse cenário está bem diferente. O quanto mais natural você aparentar ser, mais likes e elogios você receberá.
Há quem ache que essa nova onda está sendo benéfica para aqueles que sempre foram fora dos “padrões” – determinar padrões, em pleno século 21, é uma decisão um tanto quanto retrógrada –, mas talvez essas imposições não passem de ditaduras estéticas disfarçadas de desapego capitalista.