Museu São Pedro inaugura três exposições e uma instalação em maio

O Museu São Pedro, antes Fábrica de Arte Marcos Amaro – FAMA Museu, abre no dia 1o de maio (domingo), às 11h, as exposições Um Presente para Ciccillo, José Antônio da Silva : Um Caipira Moderno e Aurora Imprevisível, além da instalação permanente Tiamm Schuoomm Cash!, do artista José Spaniol, que pode ser conferida no Galpão do Urubu, a partir de 7 de maio.

Obra de Aldemir Martins,  presente na exposição “Uma Homenagem para Ciccillo” (Foto: Camilla Jan/Divulgação)

Um Presente para Ciccillo

Com curadoria de Denise Mattar, esta mostraapresenta obras do álbum organizado por Pedroso d’Horta e dado como presente a Ciccillo Matarazzo em 1953, reunindo diversas gerações de artistas, alguns já consagrados, outros no meio ou início de carreira. O álbum contém desenhos, aquarelas e gravuras, cada um deles fixado em uma prancha de papel 72,5 x 50,5cm. 

A homenagem, mais do que merecida, ocorreu em meio à atribulada realização da II Bienal Internacional do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que iria ser inaugurada em dezembro de 1953, antecedendo a abertura das comemorações do IV Centenário de São Paulo. No mês anterior, numa festa na casa de Oscar Pedroso d’Horta, foi oferecido a Ciccillo Matarazzo (Francisco Matarazzo Sobrinho) este presente especial, o álbum que reúne quarenta e oito trabalhos dos mais importantes artistas daquele período.

A II Bienal de São Paulo contou com artistas como Henry Moore, Alexander Calder e Pablo Picasso, este representado por 51 obras, entre as quais Guernica. A exposição, que proporcionava um amplo panorama das principais tendências internacionais, foi considerada uma das mais importantes mostras coletivas que já ocorreram em todo o mundo. Porém, o critério de seleção dos artistas brasileiros foi alvo de diversas polêmicas.

Ciccillo Matarazzo era o presidente da comissão encarregada da comemoração do IV Centenário e dirigia um exército de pessoas para coordenar a tempo os inúmeros festejos, a inauguração do Parque Ibirapuera, do Ballet do IV Centenário e de outras centenas de eventos. Sofria ainda com o prefeito Jânio Quadros, que, sentindo-se melindrado com a eficiência e a influência de Ciccillo, criava problemas de todos os tipos para as comemorações e não perdia a oportunidade de atacá-lo através da imprensa.

Sobre o episódio, a curadora Denise Mattar diz: “Acreditamos que, devido a todas estas pressões, Oscar Pedroso d’Horta, um grande amigo de Ciccillo, resolveu articular uma homenagem dos artistas, procurando dar a ela um caráter mais íntimo e carinhoso. Através das informações contidas na folha de rosto do álbum e em reportagens da Folha da Manhã e do Diário de São Paulo, sabemos que Ciccillo foi convidado pelo amigo para um ´uísque´ e lá homenageado com uma festa surpresa e a entrega do presente”.

O corpo principal do álbum é constituído de artistas que participaram da edição. O conjunto de obras reflete o período de transição pelo qual passava a arte brasileira. Há representantes do primeiro Modernismo, do Grupo Santa Helena, da Família Artística Paulista, do Grupo dos 19, do Atelier Abstração, além de artistas do Ceará, Bahia e Minas Gerais.

Estão também presentes artistas italianos, que aqui viveram por um certo período e participaram da Bienal e do Ballet do IV Centenário. A qualidade do conjunto torna o álbum muito especial. Na ocasião da abertura da mostra será feita uma homenagem ao comandante Rolim Amaro, empresário e fundador da TAM, que deixou sua marca no ramo da aviação brasileira. O espaço expositivo da mostra também ganha um busto do comandante.

“Grito do Ipiranga” (1977), do artista José Antônio da Silva (Foto: Rogério Emílio/Divulgação)

José Antônio da Silva: Um Caipira Moderno

Esta individual reúne trabalhos de José Antônio da Silva, popularmente conhecido como Silva. A iniciativa traz um dos ícones, reconhecido internacionalmente, saído das entranhas da Zona Rural de Salles Oliveira e vivendo entre o mundo urbano de São José do Rio Preto e São Paulo, cada um com suas particularidades, que através de seus traços pitorescos e “ingênuos” proporcionou uma fina arte.

A mostra “José Antônio da Silva: Um Caipira Moderno” reúne a pluralidade de Silva e o universo em que transitava e tinha como fonte de inspiração para sua produção: plantações, casinhas de madeira ou barro e árvores frutíferas. Como caipira, Silva era religioso e sua fé católica é representada por suas igrejas, bem como a frequência dos colonos que faziam da missa um momento de encontro, onde trocavam experiências, informações e marcavam suas atividades colaborativas. Nessa estação, também é possível conferir as obras que Silva produziu acerca dos festejos, como os folguedos adultos, o de São João, a Festa de Reis, o Natal e a Páscoa.

O mundo dos tropeiros, profissão e atuação que Silva exerceu com seu pai na adolescência, é representado de maneira singular – seja pelos pratos típicos da região, seja pela representação de boiadeiros e seu gado, carros de bois, cavalos, as comidas, as violas caipiras, enfim, tudo aquilo que representa os horizontes da Paulistânia – expansão da cultura caipira para outros estados.

No ano em que a Semana de Arte Moderna de 22 completa seu centenário, o Museu São Pedro mostra  o quanto o artista foi ousado e buscou além das cercas rurais a sua marca nos espaços mais  modernos de arte brasileira. Silva marcou presença no MAM – Museu de Arte Moderna e teve obras no MASP – Museu de Arte de São Paulo em 1948, além da participação em diversas Bienais de São Paulo e na Bienal de Veneza. Vale ressaltar que o artista “bebeu” da fonte da Pop Art e ousou fazer  colagens, assemblages e muitas criações nada caipiras feitas na década de 80 e 90, que podem ser conferidas na mostra. 

Frame do vídeo Nyctinasty, de André Schütz, presente na mostra Aurora Imprevisível (Foto: Reprodução)

Aurora Imprevisível

A terceira exposição inaugurada pelo Museu São Pedro traz, a partir da exibição conjunta dos trabalhos de nove artistas e pesquisadores contemporâneos, uma  busca pelo transbordamento do que hoje reconhecemos e classificamos como “espaço”, palavra que por si só tem a capacidade de representar algo ilimitado. Seja pelo uso das cores, pela extrapolação da imagem ou presença física do corpo humano, seja pela subjetividade de memórias e ruínas que impregnam ambientes, corpo e paisagens, a exposição cria diálogos e entremeios entre as obras artísticas e as mais variadas possibilidades de ocupação e criação de novos “espaços”.

Nesta coletiva, o confinamento se desdobra em amplitude. O grupo de artistas e a curadoria que propõem a mostra e sua expografia integram o Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes da UNESP, da linha de pesquisa em Processos e Procedimentos Artísticos, juntamente com José Spaniol, artista, professor e pesquisador, orientador de projetos acadêmicos. Durante a pandemia e diante da exigência de isolamento social, estes agentes tornam-se um grupo, reinventando as dinâmicas das reuniões de trabalho e transformando-as em debates coletivos quanto às produções poéticas e pessoais de cada um.

A mostra teve projeto contemplado pelo ProAC de 2021 e propõe um diálogo com as possibilidades de uma nova criação pós-pandêmica, nascente e ainda incerta, imprevisível em seus desdobramentos, mas caracterizada pelas expansões revitalizadas dos artistas e das suas formas de se relacionar com os espaços como locais de criação e de corporificação do que é produzido. Consequentemente, mobilizando corpos e mentes a se voltarem para um além, uma expansão, contrastante com os dois últimos anos de isolamento.

Detalhe da instalação de José Spaniol (Foto: Camilla Jan/Divulgação)

Tiamm Schuoomm Cash!

Além de novas exposições, o público pode conferir a instalação permanente “Tiamm Schuoomm Cash!” (2016), do escultor, pintor, desenhista, gravador e professor, José Spaniol (1960), a partir do dia 7 de maio, no Galpão do Urubu. A instalação, feita com barcos e bambus de dimensões variadas, está relacionada à sonoridade do mar, exposta pela primeira vez na Pinacoteca do Estado de São Paulo e, agora, no Museu São Pedro. A proposta de José Spaniol é enfraquecer as relações espaciais para que, a partir delas, o observador construa novas verticalidades e perspectivas. A sonoridade presente na instalação conecta o barco ao mar, mesmo na ausência de água, fazendo-o navegar com instabilidade e integrando-se ao espaço.

Sobre o Museu São Pedro

O Museu São Pedro é um dos maiores museus de arte da América Latina, aberto ao público desde 2018. Ocupa uma área de 25.000 m2 no centro histórico da cidade de Itu, São Paulo, onde por muitos anos funcionou a Companhia Fiação e Tecelagem São Pedro, indústria têxtil de grande relevância econômica nacional. O Museu São Pedro oferece grandes exposições, editais públicos e atividades de mediação cultural.

O acervo com foco na arte brasileira inclui obras de artistas fundamentais, do moderno ao contemporâneo, contemplando diversas linguagens artísticas, escultura, gravura, desenho, instalações, pinturas e fotografia.Com mais de oito salas expositivas, destacam-se os jardins e galpões, onde a arquitetura do início do século XX envolve o visitante em uma experiência única, em que o patrimônio dialoga com a arte brasileira.

Serviço:

Exposições no Museu São Pedro
Data: de 1o de maio a 2 de outubro 
Horário: Quarta-feira a domingo, das 11h às 17h
Endereço: Rua Padre Bartolomeu Tadei, nº 9 – Vila São Francisco, Itu
Telefone: (11) 4022-4828
Informações para o público: contato@famamuseu.org.br
Site: https://famamuseu.org.br/