Não Se Aceitam Devoluções

Por André Roedel

Se tem uma coisa que eu detesto com relação a filmes é a divulgação do mesmo vender uma coisa e o resultado ser outro. Foi assim que ocorreu com Esquadrão Suicida, que apresentou trailers incríveis e o produto final foi um longa-metragem sofrível. Isso também ocorre com Não Se Aceitam Devoluções, produção nacional com o comediante Leandro Hassum de protagonista.

Toda as sinopses e fichas técnicas do filme o divulgaram como uma comédia. Porém, o espectador não consegue rir em nenhum momento. Aliás, até ri: de nervoso e de vergonha alheia. O roteiro é um pavor, recheado de clichês e frases feitas. E olha que a concepção do argumento, adaptação brasileira do mexicano No se aceptan devoluciones, é interessante – mesmo não sendo muito original.

Na trama, Hassum interpreta Juca Valente, um mulherengo morador do Guarujá que, de uma hora pra outra, se depara com um grande desafio: cuidar de sua filha, Emma, deixada aos seus cuidados pela mãe, uma estrangeira com quem Juca teve um caso no passado. O protagonista então vai até os EUA “devolver” a bebê, mas acaba se afeiçoando a ela e arranja um emprego de dublê para sustentá-la.

A relação de Juca com sua filha já crescida, interpretada por Manuela Kfouri, até que é interessante. Hassum se esforça e faz uma de suas melhores performances. Só que sua atuação se destaca muito pela fraqueza do elenco de apoio, repleto de atores de baixo escalão. É sério: tudo que sai da boca dos personagens de Laura Ramos, Zéu Britto e Jarbas Homem de Mello soa tão falso quanto nota de três reais.

Pra piorar a “falsidade” do filme, a trilha sonora é ridícula (só tem uma música repetida à exaustão), as locações são confusas (ora nos EUA, ora em um parque de diversões no interior de São Paulo) e a direção de André Moraes é tão artificial que devem existir produções amadoras com mais identidade e técnica apurada.

Mas o que mais me incomodou mesmo foi a ausência de riso durante as quase duas horas de duração do filme. Pra piorar, a sessão que fui tinha exatamente cinco pessoas – contando comigo –, o que deixou a experiência ainda mais deprimente. Só para o leitor ter uma noção, o filme que é vendido como uma comédia acaba sendo bem mais eficiente como um drama raso.

Não Se Aceitam Devoluções infelizmente é mais um filme da leva dos dispensáveis, que só servirão para preencher a cota de produções nacionais nos canais de TV paga no futuro. Infelizmente, porque tinha potencial.

 

Nota:

 

 

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