NATAL DA MINHA INFÂNCIA

Qualquer um com mais de dez anos de idade sabe a verdade: Papai Noel existe, sim, e é uma mulher.

Quem mais tem a capacidade de comprar presentes para dezenas de pessoas? Ou habilidade de montar presépio, árvore de natal, fazer a decoração e a arrumação da casa toda? Ou o bom humor para se levantar às 5 horas da manhã e começar a lutar com um peru de mais de cinco kilos?

É só mesmo a mulher faz tudo isso para agradar toda a família à espera da chegada do Menino Jesus que vem, mais uma vez, para nos proteger e abençoar.

Como fugir dos sinos de Natal que têm os sons das lembranças de todos os Natais da nossa infância?

Presépio mecânico

Na minha infância todos os anos na Igreja do Bom Jesus, exatamente no Salão São Domingos, era montado um enorme presépio mecânico com muitas atrações, luzes, cores, renas e pontes abauladas atravessando riachinhos, patinhos nadando no espelho; era tudo tão mágico… O barulho da serra; a cachoeira soltando água; a moenda chupando a cana; o lenhador cortando a lenha e o Menino Jesus mais belo do mundo. As crianças, diante desse presépio ficavam horas extasiadas. Pessoas vinham de outras cidades apreciarem essa obra de arte totalmente artesanal.

Medo do Papai Noel

Mas tenho uma história que por muito tempo tive vergonha de contar e, hoje, com o passar dos anos, me atrevo a tornar pública.

A primeira vez que os brinquedos de Natal foram trazidos pelo Papai Noel, meus irmãos, meus primos e eu aguardamos com grande ansiedade o dia todo por sua chegada. Quando ele finalmente chegou alguém gritou “Vamos, crianças! Papai Noel está chegando”. Levei um susto e fugi desesperadamente e, chorando, fui me esconder debaixo da mesa onde fora montado o presépio.

Todos me procuravam e eu permaneci ali tremendo de medo.

Conclusão: privei meus irmãos e primos da vinda do Papai Noel nos anos seguintes.

Uma cartinha de Amor

Papai Noel, naquele ano, na cartinha que lhe escrevi eu lhe pedia uma bicicleta e, no dia de Natal, procurei-a pela casa inteira. Minha mãe me convencia de que o senhor disse que não podia comprá-la. Chorei porque você podia tudo. Distribuía sonhos. Minhas lágrimas eram minhas. Mas, o senhor me deixou um urso de pelúcia lindo, que guardo até hoje.

Acho que não só as crianças devem escrever-lhe. Os adultos têm muitos sonhos a pedir; brinquedos para voltar a ser criança… Uma imensa vontade de refazer sonhos.

O tempo fez-me sumir da infância. Depois chegou a tarde e veio o anoitecer e os sonhos levaram para longe o Natal da minha infância. Papai Noel, agora, já não preciso enviar-lhe cartinhas, mas você continua sendo o meu herói. Esta já é uma carta de amor. Ela viaja no tempo e enche de afeto e fidelidade o sonho de todas as crianças. O verdadeiro herói é aquele que não desiste de seu sonho. E eu sonhei…

Ditinha Schanoski
Cadeira nº 19 | Patrono Benedito Motta Navarro