NOSSOS PROFESSORES ESTÃO ADOECENDO?
Um tema recorrente e que está se tornando cada vez mais objeto de investigação científica é a saúde mental dos professores. Como psicólogo tenho verificado que muitos docentes estão desorientados com relação aos rumos de suas vidas, pessoal e profissionalmente. Não era incomum que tal situação já deixara marcas em seus corpos e mentes, a ponto de comprometer de modo considerável a qualidade de vida. Como também atuo na área da saúde mental, noto que essa situação não é apenas produto de um quadro de angústia normal e esperada de qualquer existência humana. Em minha visão, eles estavam doentes ou adoecendo psiquicamente.
No dia a dia de trabalho presenciei o reflexo dessa situação: pedidos de afastamento médico; problemas de relacionamento, mesmo com aqueles com os quais tinham amizade; dificuldades para lidar com a dinâmica dos educandos; e, consequente, maior quantidade de encaminhamento de alunos para psicólogos e outros profissionais (médicos, por exemplo) e relatos de sintomas de pânico quando tinham que se dirigir à escola na qual desempenham sua função profissional.
Mesmo em face dos avanços possibilitados pelas leis trabalhistas, visando ao bem estar do funcionário, sociólogos como Sennett e Bauman observaram que a cultura do imediatismo, da efemeridade e da flexibilidade – características próprias do capitalismo pós-industrial – tem obrigado o trabalhador atual a se renovar constantemente e a não se apegar a nada, pois tudo é julgado passageiro ou pode se tornar obsoleto, além de inexistirem estímulos que possibilitem o estabelecimento de vínculos profundos com o objeto de trabalho.
Como corolário, pouca reserva psíquica tem sido destinada ao campo das relações intra e interpessoais, pois a subjetividade produzida tende a levar o empregado a viver em estado permanente de ansiedade e inconstância. Afinal, não há lugar no mundo para a construção de suas narrativas. Para os citados intelectuais, esses caracteres da atualidade podem explicar a alta incidência de trabalhadores mentalmente adoecidos, especialmente entre aqueles que lidam diretamente com outras pessoas – como é o caso dos professores.
Esse quadro acaba por acarretar o esgotamento mental dos educadores, a ponto de eles serem incapazes de lidar com as demandas características da profissão, além de destruir sua tolerância e resiliência.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) colocam o Brasil como o país com maior proporção de ansiosos (9,3%) e o 5º no ranking de depressivos (5,8%).
Verificamos, com esse estudo, que 22,7% dos docentes apresentaram sintomatologia condizente ao quadro de Transtorno de Ansiedade e 12,9% para o de Depressão. Se considerarmos ambos, 27% dos educadores apresentaram ao menos uma dessas psicopatologias. A realidade torna-se mais preocupante na medida em que, ao investigarmos os níveis de ansiedade e depressão, sem nos atermos a diagnósticos psiquiátricos, os resultados apontaram que 60,0% dos participantes encontravam-se psiquicamente adoecidos.
Talvez, o dado mais significativo de toda essa avaliação seja o reconhecimento que vivemos hoje em uma sociedade cujas pessoas estão no “limite” de suas reservas psíquicas, em razão da efemeridade das relações, da velocidade e do excesso de estímulos que devemos dar conta diariamente. Ao refletirmos sobre as fontes de esgotamento mental, julgamos que nada exige mais de nossas energias do que lidar com outro ser humano, em virtude dos sentimentos gerados nessas relações. Posto isto, o Magistério pode ser visto como uma das carreiras mais desgastantes, com o agravante de que o docente já não possui hoje a reserva energética que outrora os mestres dispunham para a execução de seu trabalho.
Rodney Querino Ferreira-Costa – Psicologia Escolar de Paraíbuna(SP)