O laboratório e o 1º de maio
Em nossa Itu há coisas que permanecem além das nossas lembranças. Exemplo típico disso foi o “beco do fuxico”, local donde ainda hoje contam histórias, algumas folclóricas outras tenebrosas. Outro que ficou famoso foi o “laboratório”. Localizado na esquina ao lado da igrejinha de Santa Rita, o boteco criou fama. Provavelmente pelos frequentadores assíduos cuja maioria reunia-se ali, aos sábados, por volta do meio dia.
Eram representantes das famílias que residiam na rua do mesmo nome e adjacências: os Carpi; Brancalhoni; Fruet; Limongi; Barbi; Marmo; Del Campo; Bernardini; Bispo; Silva; Prado, além de Bastião; Zilando; Didi; Eder; Norival e tantos outros que me fogem a lembrança aos quais peço desculpas. Uma irmandade que sorvia e apreciava as famosas cachaças de Cabreúva e as caipirinhas feitas com ela. Também apareciam os fregueses do Bar São João e do Café Expresso, ali próximos.
Havia um congraçamento simpático e afetuoso como a troca de apertos de mãos e abraços sinceros. Mas o ponto alto daquela convivência ocorria no dia 1º de Maio.
Tradicionalmente e todos os anos os amigos reuniam-se para festejar a data do Dia do Trabalho. O local da confraternização era na Estrada Parque, nas proximidades da gruta. O caminhão da cervejaria Limongi levava os barris de chope, gelo, refrigerantes e água. Transportava as linguiças, a carne temperada, o vinagrete, as churrasqueiras e os pãezinhos da padaria Brasileira. Parecia uma romaria, carros, camionetes, jeeps, motos, Lambrettas e Vespas todos buzinando e soltando rojões. Não faltavam violeiros para alegrar a festa.
A confraternização era maravilhosa e depois de muito comer e beber havia o animado jogo de “montinho”. Montinho ou jogo do monte é a aposta em cada mão de cartas embaralhadas, distribuídas numa mesa e voltadas para baixo, onde cada apostador colocava dinheiro sobre o monte escolhido, podendo apostar em mais de um monte. Encerrada as apostas a banca virava sua própria carta e seguia desvirando os montes. Se a carta que aparecesse fosse maior que a da banca o banqueiro pagava o valor apostado em dobro, mas se fosse o contrário a banca ficava com a aposta feita.
Eu e meus amigos tínhamos as conhecidas “cinquentinhas”, motos de cinquenta cilindradas e com elas participávamos das comemorações seguindo pela Estrada Parque.
Como tínhamos apenas 16 ou 17 anos não bebíamos álcool e ficávamos nos refrigerantes, mas deliciávamos com o churrasco.
Confesso que até hoje, quando o 1º de Maio se aproxima, eu já penso em churrasco e nas doces lembranças daqueles saudosos tempos.
Guilherme Del Campo
Cadeira nº 11 | Patrono Mario de Andrade