O Lar das Crianças Peculiares

Por André Roedel
Uma coletânea de todas as fases de Tim Burton. Assim dá para descrever o novo filme do consagrado diretor, O Lar das Crianças Peculiares, que estreou no fim de setembro e segue em cartaz. Adaptação do sucesso literário “O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”, de Ransom Riggs, o longa-metragem traz diversos elementos e referências à carreira do cineasta.
A começar pela atmosfera bem, como o próprio nome já diz, peculiar do filme. A trama mostra o jovem Jake (Asa Butterfield) tendo que lidar com a perda de seu avô, Abe (Terence Stamp). Para isso, ele vai até uma pequena ilha no País de Gales para encontrar o orfanato em que o avô cresceu – cenário de muitas histórias inusitadas contadas a ele quando criança.
Porém, o local na verdade é uma espécie de esconderijo para crianças que têm algum dom, as consideradas “peculiares”. Ou seja, uma mistura muito interessante entre os universos de Harry Potter e X-Men. A interação dos jovens e a utilização dos poderes, junto com todo o tom empregado por Tim Burton, resultam num clima de fábula.
As atuações de Eva Green (que interpreta a diretora do orfanato, a srta. Peregrine) e de Samuel L. Jackson (que dá vida ao megalomaníaco vilão Barron) destoam em meio a um elenco repleto de jovens inexperientes – mas que podem surpreender no futuro, como o caso de Ella Purnell, Lauren McCrostie e Finlay MacMillan. O filme ainda conta com uma participação relâmpago da experiente Judi Dench, que pouco acrescenta.
Já tinha lido o livro e gostei muito. E, por conta disso, fui ao cinema esperando por mudanças que sempre ocorrem. Entretanto, o filme altera muita coisa. Mas muita coisa mesmo. Isso pode decepcionar os fãs da versão escrita – que já tem duas continuações e um livro de contos. Mas, quem nunca leu, pode ir ao cinema tranquilamente que vai conferir o melhor (e o pior) de Tim Burton.
O filme tem cenas que lembram os ótimos Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack (incluindo uma em stop-motion) e Sweeney Todd. Porém, muitas vezes lembram o fracassado Sombras da Noite. Pelo menos não tem Johnny Depp dessa vez… E O Lar das Crianças Peculiares sofre também com um ritmo arrastado no primeiro ato, fruto de cortes errôneos e um roteiro com alguns furos – principalmente pelo conceito de viagem no tempo utilizado.
Mas, apesar de problemático, o filme tem um visual fantástico, cenas muito divertidas e que certamente valem o ingresso.
