O mau humor do ituano
Por André Roedel
Na última terça-feira (12), o jornal “O Estado de São Paulo” publicou um artigo sobre o mau humor do povo brasileiro e o espírito de descrença nas instituições nacionais que vem se apossando da população nos últimos tempos – clima agravado durante a greve dos caminhoneiros. Lendo aquele texto, foi impossível não traçar um paralelo com a realidade apresentada na sociedade ituana.
Desde que o prefeito Guilherme Gazzola iniciou seu mandato, inúmeras críticas ao seu modo de administrar a cidade passaram a surgir principalmente nas redes sociais. Misturadas com as “fake news”, essas opiniões muitas vezes difusas ganham corpo em meio a essa temporada de caça às bruxas que se tornou a política brasileira (em que todos os políticos são tachados de corruptos).
É claro que muitas críticas até têm fundamento e mesmo as que não têm devem ser ouvidas. Afinal, assim funciona a democracia. O que mais chama a atenção na realidade, porém, nem são os julgamentos negativos, e sim quem os emite: pessoas descontentes com o atual governo por conta de uma série de interesses pessoais e/ou de grupos políticos (alguns escusos).
Motivada por esses comentários depreciativos e pela tendência nacional de criminalização da política, a população não perde tempo para “descer a lenha” na administração municipal. E aqui nem é uma defesa a Gazzola – que, como qualquer outro político, comete suas falhas e nem sempre toma a melhor decisão –, mas, sim, a constatação de que essa movimentação não seria a mesma caso o clima instaurado no País fosse outro.
O Brasil vem de uma ressaca moral pós-impeachment que deixou “coxinhas” e “mortadelas” num mesmo barco praticamente sem rumo. Além disso, vivemos uma crise econômica aterrorizante, que corroeu o poder de compra do brasileiro. Pra piorar, uma crescente onda apolítica – inflada por movimentos que se dizem democráticos, mas são tão ditatoriais como os piores regimes atuais – vem ganhando força nas redes sociais e, após o movimento dos caminhoneiros, tende a alterar os rumos das votações de outubro.
Mas em Itu esse clima de rabugice também vem de décadas. Desde os mais antigos essa insatisfação “com tudo que está aí” perdura. Há anos eu ouço dizer que a cidade está fadada ao fracasso, que Indaiatuba e Salto têm mais futuro e que nenhum político daqui presta. Só que até quando vamos achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa e arregaçar as mãos para melhorar a situação?
Após a vitória de Gazzola nas eleições de 2016, o que mais se viu foi comemoração – de seus eleitores e também de eleitores que não votaram nos seus dois principais adversários. Muitos se alegraram com a alternância de poder e viram no atual prefeito uma chance de mudança. Pois essa mudança vem sendo executada, quer o munícipe goste ou não. Agora, cabe a estes colaborar para que as mudanças sejam sempre a contento da população, e não ficar “criticando por criticar” na internet. Esse mau humor – também exposto com força agora, durante a realização da Copa do Mundo – precisa dar lugar a um clima de tranquilidade, respeito e colaboração. Essa onda de animosidade não leva as pessoas a nada e só ajuda a enfraquecer ainda mais nossa já tão combalida democracia.