O mundo é rosa!
Você passou pelas ruas esses dias e percebeu que a cidade ganhou detalhes em rosa? Cláudia Zanotto Paulucci, da OncoItu, juntos com seus sócios, são os responsáveis por essa campanha tão linda ter chegado até Itu. O câncer de mama é o tipo de câncer que mais mata mulheres em todo o mundo. São cerca de meio milhão de mortes por ano. Apesar de ser uma campanha tão bonita, a causa é séria merece prioridade. A oncologista Melissa Fiorentini conta abaixo tudo o que você precisa saber sobre a doença.
Autoconhecimento
O ideal seria que toda mulher a partir do momento em que entra em idade fértil faça um autoexame, não em busca do câncer, mas em busca do autoconhecimento.
O autoexame é fazer o dedilhado na mama. Para as mulheres que menstruam, o ideal é que seja feito após o fim da menstruação, e na mulher que já entrou na menopausa, pode ser feito qualquer dia do mês. Se você está examinando a mama esquerda, coloque o braço esquerdo atrás da cabeça e use a mão direita para dedilhar como se fosse uma espiral, começando da região do mamilo e indo em direção à periferia. Assim, você percebe se tem algo que chame atenção. E no final, fazer uma leve pressão no bico do seio, como se você estivesse espremendo, para ver se tem a saída de algum líquido. Também não pode esquecer de mexer na axila, dedilhando debaixo do braço, em busca de uma íngua.
É essa cultura que a gente tem que mudar. O autoexame não previne o câncer, não tem o poder de impedir a doença de surgir, mas permite que a mulher aprenda a conhecer seu próprio corpo. A gente tem que perder esse medo, esse preconceito de tocar o próprio corpo. Isso não é vergonha nenhuma, é importante que seja feito.
Sintomas
Muitas vezes a doença não é palpável ou dolorida, e, quando esse sintoma aparece, é porque já está muito avançada. Alterações na textura da pele, inversão do bico do seio são coisas que devem sempre chamar atenção. A pele avermelhada, com aspecto de casca de laranja também é um alerta.
Hereditariedade
Esse é um estereótipo que precisamos quebrar. As pessoas acham que se não tem histórico familiar, você não tem chance nenhuma e isso é um mito. Na verdade, 90% dos cânceres são aleatórios. Só 10% tem o componente genético envolvido. Se você tem um histórico familiar, isso te serve de alerta para que inicie seu processo de rastreamento precocemente, mas ele não é um certificado de liberdade, do tipo: “olha, fica tranquila, você não precisa fazer exames, se não tem histórico na sua família, então você nunca terá”, não funciona assim.
Tratamentos
A cirurgia de retirada da mama ou de parte dela é necessária em todos os casos, o que muda é em que momento vai fazê-la, se é antes ou depois da quimio. Casos mais graves usam primeiro a quimioterapia e depois a cirurgia. A quimioterapia mata todas as células, ou seja, mata o vilão, mas também mata o mocinho, por isso que o cabelo cai, surgem aftas na boca e o intestino fica desregulado. A imunidade cai muito, já que a medula óssea também é afetada com essa parte do tratamento.
A radioterapia é responsável, principalmente, por diminuir o risco da doença voltar. Quando você tem um tumor de cinco centímetros ou quando a mulher não remove a mama inteira, é emitida uma radiação na mama, e, às vezes, na axila, para tentar diminuir o risco da doença voltar na própria mama. Mas a radioterapia não impede que a doença volte em outros lugares, é um tratamento local.
O futuro da oncologia é justamente a individualização da doença, tratando cada paciente com um medicamento que atinja apenas as células cancerígenas. Os estudos estão caminhando para isso.
Aceitação
Precisamos ter cuidado para não hipermedicar. Obviamente que é muito difícil para quem descobriu um câncer, perdeu a mama, está perdendo os cabelos, ficou inchada, sofreu queimadura, então é natural que haja um luto, no sentido de que a mulher já não é a mesma mulher de antes do diagnóstico. Eu falo que elas vão sair melhores do que entraram aqui.
Elas aprendem que não vale a pena se estressar por bobagens, não perdoar ou não pedir perdão. A vida é muito maior do que isso, muito mais valiosa do que isso. Lá na frente, elas aprendem que isso é uma lição. Mas é difícil pensar nisso enquanto vive o tratamento.
Há pacientes que ficam deprimidas de fato, nesses casos, é preciso medicar, e aqui na OncoItu, nós temos uma equipe de psicólogo, nutricionista e enfermeiros trabalhando comigo, e as pacientes precisam passar pelo menos uma vez com cada um. Mas é preciso diferenciar tristeza de depressão.
Rotina
Devido à remoção de boa parte da mama e da região da axila, a circulação do braço fica afetada, e ele torna-se um braço de cristal. Ela não deve usar anéis ou pulseiras apertados, tirar a cutícula, colher sangue naquele braço, fazer esforço físico. Durante a quimioterapia, por causa da fragilidade do sistema imunológico, ela não pode tomar sol, não pode comer alimentos crus ou mal cozidos e comer em qualquer lugar; deve redobrar a atenção com a higiene pessoal e das pessoas que a cercam e evitar aglomerações.
O convívio social é adaptado. Lugares como cinema, bancos em horários de pico, missas aos domingos, shopping aos finais de semana devem ser evitados. Fora a questão da queda o cabelo, da mutilação da mama, de se sentir menos mulher por isso, que mexem com a auto-estima.
Prevenção
Além do autoexame, da mamografia anual a partir dos 40 anos e das consultas regulares ao ginecologista, é importante lembrar da relação entre a obesidade e a doença. É preciso praticar atividade física, ter uma dieta equilibrada e saudável, rica em alimentos frescos, vegetais e fibras e pobre em alimentos industrializados. Não fumar e não beber são também duas coisas que ajudam não só na prevenção do câncer, mas são duas escolhas certas para a sua vida.