O papel da mídia
Por Beatriz Pires*
Todos os dias somos expostos a diversas notícias, seja por meio de jornais, televisão, rádio, revistas e, hoje, principalmente através de sites e das redes sociais. Toda essa profusão de informações tende a fazer-nos refletir e discutir sobre os variados assuntos que estão sendo veiculados na mídia – o que é absolutamente necessário e positivo –, mas, muitas vezes, outros tipos de comportamentos e sentimentos são produzidos, ainda mais com a enorme onda de más notícias que tem estado presente em nosso dia a dia, geralmente, de maneira maçante.
É fato que o papel da mídia é noticiar acontecimentos. E a seleção de notícias que são colocadas em qualquer meio de comunicação depende de alguns fatores como atualidade, periodicidade, proximidade, interesse público e curiosidade. Esses dois últimos fatores são justamente os que fazem com que a veiculação de algumas notícias repercutam tanto.
Isso porque mesmo com influências da linha editorial, interesse na venda de anúncios publicitários, entre outros elementos que fazem parte do lado “empresarial” dos veículos de comunicação, ainda assim a prioridade é informar a sociedade. Dessa maneira, o feedback, ibope e algoritmos alcançados em certas publicações servem de base para mais produções de conteúdo do tipo.
Por isso, o que tem acontecido cada vez mais é uma grande repercussão de tragédias. É possível analisar que esse tipo de cobertura tem sido explorada de todas as maneiras, muitas vezes com todos os detalhes, o que tem levado algumas pessoas a questionarem a necessidade de uma propagação tão minuciosa dos fatos.
Ainda assim, a procura por este tipo de notícia demonstra que grande parte do público tem interesse em consumir conteúdos relacionados a tragédias, catástrofes e violência. Ou seja, a publicação impertinente desse tipo de assunto não é divulgada por um acaso. Há consumidores para isso.
No entanto, uma pesquisa realizada pela psicóloga Jodie Jackson, mestra em Psicologia Positiva Aplicada pela University of East London (Reino Unido), aponta para o impacto psicológico das informações presentes nas notícias sobre o leitor e, em particular, sobre o papel das notícias positivas e os efeitos percebidos. A psicóloga relata que a excessiva negatividade nas notícias nos torna infelizes, ou indiferentes, desencadeando mau humor e outros sintomas como ansiedade e depressão.
Em entrevista para o site constructivejournalism.org, projeto do qual faz parte e que desenvolve métodos para que jornalistas tragam elementos mais positivos e focados na solução, além de uma visão mais completa do mundo, Jodie afirma que “ao captar o impacto psicológico que as notícias têm sobre nós, podemos passar de meros consumidores a consumidores conscientes. Se criarmos uma mudança na demanda, isso poderá criar uma mudança na oferta”.
Apesar disso, a psicóloga diz que não se trata de ignorar a realidade e o negativo, mas sim, não ignorar o positivo. Ao procurar manter um equilíbrio entre o positivo e o negativo é possível analisar de maneira mais categórica os acontecimentos e, assim, elaborar outros jeitos de contribuir com ideias para os diversos problemas que nos cercam. Quem sabe, assim, algumas situações não melhorem, mesmo que aos poucos.
* É repórter do Periscópio.