O Pipoqueiro da Matriz
“Seu” Antonio saiu mais cedo, naquele dia, da sua casa, levando todo material que costuma usar no seu trabalho de pipoqueiro ( meio de fazer um “bico”) para engordar um pouco o magro salário que recebe como aposentado.
O dia parecia ser promissor. Alguém falara que na metade do dia, haveria uma grande aglomeração de pessoas na Praça da Matriz. Não sabia bem do que se tratava, mas tinha esperança de ganhar um bom dinheirinho que o ajudaria na compra de um fogão (mesmo usado), pois no seu só funciona uma ‘boca’. Queria também poder comprar um casaco de frio para Maria Nazaré, sua mulher.
Quando chegou ao local, arrumou tudo direitinho e ficou esperando os fregueses. Num picar de olhos viu gente chegando de todos os lados. Em pouco tempo a Praça ficou lotada.
Nossa! A festa deve ser grande, pensou. Naquele momento “seu” Antonio viu um cortejo em procissão saindo da residência da Família Xavier de Oliveira. Eram crianças com trajes de rei, rainha, príncipes e princesas.
O pipoqueiro soube que o cortejo simbolizava o Império da Festa do Divino Espírito Santo. Segundo a professora Marly Germano Perecin esta é uma festa de inteligência,alegria religiosa e de cunho popular que se realiza anualmente em homenagem ao Divino Espírito Santo.
“Seu” Antonio,cada vez mais boquiaberto, viu surgir um desfile de carros de bois, carroças de lenha, exibição de bandeiras, cantadores, leilão de prendas, etc.
É sem dúvida uma festa de alegria religiosa.
Para alegria de “seu” Antonio, os fregueses começaram a chegar. Pessoas com ar de amigos o cumprimentavam e elogiavam a limpeza do seu carrinho de pipocas.
“Seu” Antonio, olhos sonhadores, contemplava tudo aquilo embevecido. Mas a festa continuava. Agora eram vozes alegres que cantavamhinos de louvor a Deus e a Maria, nossa mãe.
Quando parecia que o evento chegava ao fim, surge um helicóptero. Sem querer, o pipoqueiro se lembrou da notícia tão triste que vira na TV: “Helicóptero lança bombas sobre a cidade de…” mas logo afastou esse pensamento, pois o helicóptero que ele avistava no céu derramava pétalas de rosas coloridas e perfumadas.
Lindo! Tudo muito lindo! Só lamentava que a sua Maria de Nazaré não estivesse ali, ao seu lado.
Quando chegouemcasa, cansado, mas feliz, contou tudo para a esposa e ela, com aquele ar de tranquila sabedoria, lhe disse: Só pode ser coisa muito boa. Nada há mais belo do que quando o Espírito Santo distribui seus dons.
Ditinha Schanoski – Cadeira nº 09 | Patrono Benedito Motta Navarro