O trote da enfermeira

J.C. Arruda

Quando este jornalista (ou seria jornaleiro?) critica os políticos atuais, principalmente os do Poder Legislativo, o faz em razão da comparação inevitável com legisladores de outras épocas. Um exemplo destes logo vem a memória na figura do inesquecível Archimedes Lammoglia, um médico saltense que alcançou projeção estadual e nacional porque, eleito e reeleito para a Assembléia Legislativa, chegou a ser Secretário da Saúde no governo Adhemar de Barros.

Só pelo fato de ter entrado e saído pobre da política, já seria um fato a ser destacado. No entanto é imprecindível recordar que, durante todos os seus mandatos, creio que em mais de 30 anos, jamais deixou de exercer a profissão de médico e o fez como se fosse um sacerdócio, pois ele era do tempo em que os médicos ficavam ricos com a profissão, coisa difícil de acontecer nos dias atuais. Como cirurgião especialista em hemorróidas, fez milhares de operações durante a vida profissional, atendendo pacientes pobres ou ricos.

O interessante é que Lammoglia nunca precisou fazer uma campanha vistosa ou majestosa para se eleger. Na verdade ele conseguia seus votos em centenas de pequenos municípios, em alguns bairros na capital e principalmente em Salto e Itu onde sempre era um dos mais votados. Querendo ou não, o deputado saltense fazia campanha durante o ano todo, da forma mais simplória. Por exemplo, comparecia a tudo quanto era baile, desde os mais luxuosos aos mais simples e procurava dançar com toda e qualquer mulher que estivesse desacompanhada.

Levava na esportiva enquanto diziam que ele era então, o consolo das encalhadas ou das viúvas. Outra prática simples, mas eficiente: ele visitava dezenas de cidades nas quais tinha “seus” bares preferidos, ou seja, seus “comitês políticos” permanentes. Para cada bar levava quilos de linguiça, de chouriço, de pancetas etc. que buscava diretamente em Tietê, cidade famosa por oferecer esses produtos por bons preços. Ele fazia tudo pelo preço de custo e, assim, mantinha essa rede de amizade com a qual contava a cada eleição.

Era freguês assíduo aqui do “Periscópio”. Difícil o mês em que não dava uma passada para bater um papo. Dizem que fazia isso com outras dezenas de jornais do interior e devia ser verdade. As visitas de Lammoglia eram ao gosto do freguês. Se ele percebia que estava atrapalhando, pegava logo sua trouxa e partia. Mas, se o papo estivesse bom, a visita poderia durar horas, pois Lammoglia sempre foi ótimo de conversa. Além de culto e poeta, ele era irônico, engraçado, emocionante, pois conhecia inúmeras piadas, causos e histórias dos mais variados assuntos. Ele contava passagens políticas impagáveis. Pena que não tenha deixado um livro de memórias.

Ele fazia cirurgias na Santa Casa de Itu somente nos finais de semana. De segunda a sexta clinicava no hospital Matarazzo da Capital onde se fez famoso. E também não perdia oportunidade de contar causos envolvendo colegas desse hospital. Certa vez falou sobre um médico, ainda jovenzinho, que foi contratado para trabalhar no Matarazzo, o Doutor Saulo Vieira. O que este tinha de tímido, tinha de beleza. Logo passou a ser o “ai Jesus” das médicas, enfermeiras e até das atendentes. Aos poucos o Dr. Saulo foi se desinibindo e acabou aceitando o papel de galã do hospital, chegando a “dar mole” para o mulherio. Sendo querido, também não escapava de algumas gozações e pegadinhas. Ficou famosa a passagem em que quatro enfermeiras se combinaram para dar um trote no queridinho.

Depois, no refeitório, as quatro se encontraram para contar em voz baixa o que haviam aprontado.

– Eu coloquei algodão no estetoscópio dele e ele pensou que estava ficando surdo – disse a primeira caindo na risada.

– Eu misturei todas as fichas dos pacientes dele que vai demorar mais de uma semana para organizar – contou a segunda.

– Eu fui bandida. – Disse a terceira – Achei uma caixa de camisinhas no jaleco dele e furei todas com uma agulha!
A quarta enfermeira caiu desmaiada.