OS QUINTAIS
Todas as casas tinham amplos quintais. E com naturalidade, quase todos ostentavam canteiros com hortaliças, árvores frutíferas, o galinheiro fechado com tela de arame, o gramado.
Os quintais eram a delícia das crianças, onde passavam a grande parte do dia. Ali se reuniam os vizinhos, muitas vezes os primos, para os campeonatos de bolinhas de gude ou de estiletes de ferro nos espaços de terra batida. Ali também se davam as peladas,quando não havia espaço gramado. As bolas eram feitas de meias velhas e invariavelmente se alojavam no telhado da garagem, do “quarto de despejo”, quando não ultrapassavam o muro e caiam no quintal do vizinho. Então um do time era escalado para resgatá-la. Para o telhado era destacado um menino. Já para bater à porta da casa vizinha a preferência era de uma menina, pois tinha “mais jeito”… Sim, porque o time era constituído de meninos e meninas! Por causa disso, as brincadeiras de “bandido e mocinho” se revezavam com as de “brincar de casinha” para atender aos garotinhos e garotinhas.
As amplas garagens às vezes se transformavam em sala de aula, onde uma compenetrada “professora” (sempre uma menina…) pontificava nas vésperas das famosas “sabatinas”.
Algumas casas eram verdadeiras chácaras. E era um luxo quando no fundo do quintal passava um rio. Até um riacho servia, pois só lá pelo final da década de 40 e início da de 50 surgiram as piscinas nas casas de moradia das cidades do interior.
Percebe-se, então, que os quintais foram instituições que fizeram parte muito importante da vida familiar. Não se sabe bem como, mas as crianças resolviam por si mesmas os conflitos que surgiam. Às vezes havia, na turma, algumas ausências, mas que logo retornavam, por obra e graça da turma do “deixa disso”.
Benditos quintais! A vida era risonha e franca!
Em Itu, 09 de julho de 2018.
Maria Angela Pimentel Mangeon Elias
Cadeira nº 17 | Patrono Olívia Sebastiana da Silva