Pais e professores opinam sobre lei queproíbe uso de celulares nas escolas de SP
Na última semana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou a lei que proíbe celulares nas escolas em todo o estado. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo do dia 6 de dezembro e a lei entrou em vigor a partir da mesma data.
A lei proíbe a utilização de celulares e outros dispositivos eletrônicos por estudantes da rede pública e privada de ensino básico do estado. A nova legislação considera “período das aulas” toda a permanência do aluno na escola. Isso inclui intervalos entre aulas, recreios e atividades extracurriculares.
A lei estabelece ainda que as instituições de ensino públicas e privadas deverão criar canais acessíveis para a comunicação entre pais, responsáveis e a instituição de ensino. Os estudantes que decidirem levar seus aparelhos eletrônicos para as escolas deverão deixá-los armazenados, mas sem acessá-los durante o período das aulas. A própria escola deverá, de acordo com a lei, disponibilizar os armazenamentos durante todo o horário escolar.
Apesar da proibição, o uso dos eletrônicos será permitido exclusivamente em caso de necessidade pedagógica na sala de aula ou para estudantes com deficiência que precisem de auxílio tecnológico para participar das atividades escolares.
Opiniões
A reportagem do Periscópio conversou com André Vacilotto, diretor da ETEC “Martinho Di Ciero”, que opinou a respeito da nova legislação. “Minha equipe pedagógica e eu vemos [a nova lei] como muito positiva. Na verdade, estamos sentindo que os adolescentes cada vez mais estão se perdendo em coisas desnecessárias que o celular oferece. Ele também tem coisas boas, mas ele tira muito a atenção do aluno, faz com que o aluno deixe de fazer coisas, pare de pensar e se preocupar com o que está sendo ensinado”.
Ao JP, João Paulo Camargo tem sua visão como professor e também como pai. O profissional, que leciona a disciplina de História, tem uma filha de 16 anos que está no 1° ano do Ensino Médio e outra de 11 anos, que está no 6° ano do Ensino Fundamental. Para João Paulo, a “proposta de reduzir o uso de celulares nas escolas tem boas intenções, especialmente ao tentar diminuir as distrações em sala de aula. No entanto, a aplicação desta lei nas escolas públicas será um grande desafio”.
Como coordenador pedagógico, o professor diz saber que a resistência dos alunos, principalmente os do Ensino Médio, e de algumas famílias será um obstáculo significativo. “O celular tornou-se parte da rotina de comunicação rápida entre pais e filhos, e isso não muda apenas com uma canetada”.
Já como pai, João Paulo diz entender a importância da conexão. “Estamos acostumados a trocar mensagens para saber se nossos filhos estão bem, algo que se tornou natural no dia a dia. Essa mudança cultural exige diálogo, não imposição”, pondera.
“Minhas filhas, por exemplo, sabem usar o celular de forma adequada: durante as aulas, elas se concentram; nos intervalos, trocamos mensagens eventualmente. Outro ponto crucial é a infraestrutura das escolas públicas. Muitos equipamentos estão quebrados ou são insuficientes, e frequentemente recorremos ao uso de celulares dos alunos para atividades pedagógicas. Proibir o celular completamente ignora essa realidade”, destaca o professor.
“Portanto, acredito que educar sobre o uso responsável dos celulares seria mais eficaz do que simplesmente proibi-los. É preciso envolver a comunidade escolar — professores, pais e alunos — para criar uma cultura de equilíbrio e bom senso. A mudança cultural que buscamos não virá com uma lei, mas com conscientização e diálogo”, conclui João Paulo.
Mãe de uma estudante do 8º ano do Ensino Fundamental, a assessora parlamentar Rosane Sabbadini também comenta. “Eu acredito que somente a longo prazo vamos saber se essa medida realmente será eficaz. Hoje, os alunos levam os celulares para a escola com o consentimento dos pais e com a permissão das escolas. Inclusive, celulares são usados para pesquisas e atividades realizadas nos aplicativos das escolas.”
“Isso tudo passará a ser prejudicado após a proibição. Mas quem garante que alunos não levarão celulares escondidos para a escola? Se isso de fato acontecer, veremos a utilidade dos celulares no ambiente escolar sendo suprimida, porém o uso indevido dos aparelhos vai permanecer. Será necessário redobrar a atenção, senão será mais uma lei ineficaz”, complementa Rosane.