Pantanal: voluntários partem de Itu para auxiliar animais atingidos por incêndios
Um grupo de voluntários partiu ontem (22) de Itu para o Mato Grosso do Sul para auxiliar no tratamento de animais afetados pelos incêndios na região do Pantanal – que já devastaram cerca de 20% da área. De acordo com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o números de multas e de focos de queimadas no estado já superam 2019, sendo que nos primeiros oito meses de 2020 foram 42 multas e em 2019 foram 20.
Vindos de São Paulo, os voluntários carregaram uma van com donativos arrecadados por uma empresa do ramo de pet shop em Itu. A previsão de chegada em solo sul-mato-grossense era na manhã de hoje (23).
Segundo o biólogo Antônio Miranda Fernandes, fundador da ONG Gaiola Aberta – que trabalha para garantir o bem-estar de aves e outros animais que foram vítimas de maus tratos e retiradas de seu habitat natural de forma ilegal –, a expedição do grupo de voluntários não tem data para acabar. “A ideia é que a gente volte quando acabar o dinheiro que nós conseguimos, acabar os mantimentos ou não houver mais a necessidade da nossa equipe lá”, declara.
Antonio explica como será o trabalho no Pantanal. “Nós vamos fazer a captura desses animais. Os animais aptos a gente leva para uma área de ocorrência livre de incêndio e solta esse animal. Os que precisarem de tratamento médico, a gente vai levar uma veterinária para fazer esse tratamento. E aqueles animais que, porventura, estiverem numa situação muito mais grave, nós vamos levar para um hospital veterinário em Campo Grande”, relata o biólogo.
Na capital, a equipe receberá informações dos locais que mais foram afetados pelo fogo. “Por incrível que pareça a informação é muito reduzida. A nossa esperança, como biólogo, é encontrar uma situação contrária àquela que pouco a gente tem de informação, de que a situação lá é muito grave”, conta. “Nós estamos preparados para o pior cenário possível”.
São duas equipes da ONG que foram ao Pantanal, sendo uma composta por três biólogos e uma médica-veterinária, que saiu de São Paulo e passou por Itu. “Assim que a gente estiver em Campo Grande, estiver com a logística preparada, na semana que vem nós vamos enviar uma outra equipe com mais três biólogos e mais um veterinário”, informa. Uma outra equipe de biólogos nativos irá orientar os profissionais paulistas no Mato Grosso do Sul.
Situação terrível
O biólogo Leandro Javarini, que também integra a ONG Gaiola Aberta, comenta que tem sido “terrível” acompanhar o incêndio no Pantanal sem poder fazer nada. “Pra gente é muito importante poder estar ajudando”, conta. Das informações que recebe de profissionais in loco, Javarini relata que existem muitos traficantes de animais se aproveitando da situação como falsos voluntários.
Nos últimos dias, por conta da chuva e o aumento da umidade, houve uma amenizada nos focos de incêndio. “Isso é muito bom, porém agora é a hora que os bichos vão começa a sair para procurar comida e não tem, porque já está tudo queimado. Então a gente está indo também fazer a nossa parte em relação a isso: distribuir comedouros e bebedouros para esses animais que sobreviveram”, declara Javarini.
O biólogo explica que a região conta com muitas espécies endêmicas – ou seja, que só vivem naquela área – e esse é o grande problema da situação. “Correm um sério risco de extinção. A gente pode perder a fauna do Pantanal”, projeta o profissional ao JP.
Experiência nova
Antônio Miranda conta à imprensa de Itu que sua equipe não tem experiência em situações como essa. Apenas ele, em 2015 no rompimento da barragem em Mariana/MG, teve contato com uma situação de desastre. “Eu trabalhei em Mariana como voluntário, só que lá eu auxiliei no resgate de animais domésticos”, conta o biólogo. “Era uma situação aparentemente menor (de Mariana), porque era uma região bem pequena, do que essa que eu vou enfrentar no Pantanal. Essa do Pantanal realmente vai ser uma novidade para mim”, declarou.
Para auxiliar nessa jornada, o biólogo contou com a ajuda de uma campanha de arrecadação de donativos promovido pela empresa Pet Niva, em Itu. Ele conta como tudo começou: “Como eu sou biólogo, ativista, sempre trabalhei com isso e amo o que eu faço, eu acordei um belo dia e falei: ‘estou indo para o Pantanal fazer qualquer coisa’. Salvar um animal, pra mim era essa a ideia”, conta Antonio, que ligou para um amigo da loja e recebeu o apoio.
Uma campanha então foi iniciada e hoje conta com apoio inclusive de artistas, tomando grandes proporções. Foram arrecadados aproximadamente R$ 20 mil reais em produtos, como ração e medicamentos, entre doações feitas pela própria loja, fornecedores e clientes. “O objetivo principal é a ajuda. Como a gente precisa contar com o máximo de pessoas possível, precisa ser divulgado. Mas essa parte de conscientização com o meio ambiente, os problemas que o mundo está enfrentando, eu acho que a gente tem que vestir a camisa e nós, da área, temos que participar e ajudar nessa causa”, conta o médico- veterinário Nivaldo Fioravanti Filho, proprietário da loja.
Antonio informa que os voluntários ainda precisam de ajuda, como doações para pagar pedágios e outros custos. Quem quiser auxiliar pode entrar em contato diretamente com o biólogo pelo WhatsApp (11) 97032-1492 ou com a loja Pet Niva, que fica localizada na Avenida Otaviano Pereira Mendes, 290, Centro. Telefone: (11) 4013-2654. Para conhecer mais o projeto Gaiola Aberta, acesse www.projetogaiolaaberta.org.
Aqui teve queimadas também. Farão alguma coisa? Em Itu.