Jornal Periscópio desvenda o mapa do tráfico de drogas em Itu
Entre janeiro e agosto deste ano, o 50º Batalhão da Polícia Militar do Interior registrou mais de 300 ocorrências de tráfico de drogas em Itu. Os números são alarmantes, pois são apenas 41 casos a mais que o registrado durante todo o ano passado. As informações são da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, que indicam ainda que, do total de 2016, 101 ocorrências envolvem menores de idade.
Em Itu, os bairros com maior incidência de tráfico de entorpecentes são Jardim Vitória, Cidade Nova, Portal do Éden, São Judas e Vila Lucinda. Segundo a Polícia Militar e o Conselho Tutelar de Itu, os números refletem a falta de estrutura familiar e a ausência de diálogo entre pais e filhos.
Trabalho da PM
Segundo o Capitão PM Carlos Eduardo Carrilho, do 50º Batalhão, o aumento do número de ocorrências registradas na região não significa, necessariamente, que as cidades estão mais violentas. “Nós tivemos um aumento no efetivo da polícia em relação ao ano passado. Com mais policiais nas ruas, se consegue combater mais o tráfico de drogas, ou seja, aumenta o número de prisões e apreensões”, destaca.
Para a autoridade, no entanto, para que haja um combate efetivo do tráfico de drogas, é necessário ter apoio e investimento em outros órgãos de segurança pública. “Não basta só a Polícia Militar. Tem que ter um investimento do Governo do Estado, da União e, principalmente, da família. É necessário conscientizar a criança sobre as consequências e malefícios das drogas para que não entrem nesse caminho”, alerta.
De acordo com o policial, o envolvimento dos menores de idade com o tráfico têm se tornado cada vez mais comum, uma vez que os adolescentes são utilizados para transportar os entorpecentes. “Este jovem será punido, mas não preso. Já se é um adulto, este sim será preso. O traficante escolhe o menor, vulgo ‘aviãozinho’, conhecendo sua vida. Ele vai atrás daquele menor que tem dificuldade financeira”, pondera. “Esse jovem vê a possibilidade do chamado ‘dinheiro fácil’, e aí a situação acaba virando uma bola de neve”.
Para o Capitão, é nesse momento que a família se torna peça-chave no combate ao tráfico. “Ao invés de querer saber o porquê da pessoa ‘cair no mundo das drogas’, tem que prevenir para que ela não entre nessa história. Investindo e valorizando a família, começando o trabalho a partir dos pais, os jovens estarão mais orientados. Pois está faltando muito diálogo entre as famílias – e esse trabalho começa com a criança. Tem que ser entendido que o usuário alimenta o tráfico. Sem o usuário, o traficante não poderá atuar”, enfatiza Carrilho.
Orientação
Contando com 541 policiais em suas oito cidades de abrangência, o 50º BPMI conta com um trabalho de conscientização a crianças e adolescentes, o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência). “Ele existe há 20 anos e é aplicado em todo o Estado de São Paulo. Essa foi uma iniciativa da PM que se institucionalizou e seguirá sempre sendo aplicada nas escolas. Trabalhamos com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, informando o mal que pode ser causado pelo uso das drogas. Também abordamos a necessidade de dizer ‘não’ a esse mal”, comenta o Capitão.
Outro trabalho promovido pela Polícia Militar nas escolas é o JBA (Jovens Brasileiros em Ação). Segundo o Capitão PM Carlos Eduardo Carrilho, o programa reforça a importância de se manter longe das drogas por meio de situações práticas, com a realização de ações solidárias, como arrecadação de dinheiro, agasalhos, alimentos e móveis para pessoas carentes.
O Capitão ainda ressalta que, caso a família já possua algum membro envolvido com as drogas, o apoio se mostra ainda mais fundamental para o tratamento e a recuperação. “A droga é uma doença e acarreta diversos problemas; a pessoa destrói a si mesma, a família e outras pessoas. Muitas vezes, ou para sustentar o vício ou para pagar alguma dívida, essa pessoa rouba e pratica outros crimes”, adverte. “Não abandone essa pessoa; não pense que está perdida. A luta é pesada, mas no final se ganha a batalha”.
Atenção
Segundo o Conselho Tutelar de Itu, o primeiro contato com o adolescente é feito a partir da demanda dos pais. “Muitas vezes, os pais nos procuram desesperados. Imediatamente encaminhamos esse menor para serviços como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e o Ambulatório de Saúde Mental, que promovem os atendimentos específicos”, explica a conselheira Elisabete Mariza Teixeira.
A também conselheira Mariana Gonçalves de Almeida Nicolau explica quais são os principais grupos de jovens envolvidos com as drogas em Itu. “Recebemos casos de adolescentes de todas as faixas etárias, principalmente entre 14 e 17 anos. Pelos relatos dos pais, o primeiro contato com as drogas ocorre na porta da escola. Outro ponto é o contexto de crise econômica que o país está vivendo. Já ouvimos menores que alegavam não ter o que comer e, com as drogas, ganharam R$ 100,00 em um dia”, observa.
A conselheira Ana Paula de Moura Silva orienta os pais a observarem o comportamento dos filhos para detectar um possível envolvimento com o tráfico. “Há casos em que o menor chega em casa com uma roupa nova, um celular novo, mas os pais não perguntam a origem”, pondera. “Tudo se inicia dentro de casa. Ninguém amanhece usuário ou traficante. É preciso analisar e dar atenção à criança e ao adolescente”.