Periscópio Entrevista – Maria Ângela Mangeon
A entrevistada desta semana é a professora e vice-presidente da Academia Ituana de Letras Maria Ângela Pimentel Mangeon Elias. Formada em Filosofia, Letras Anglo-Germânicas, Direito e em cursos específicos da área da educação, Maria Ângela conta sobre os trabalhos realizados na Acadil, como avalia o cenário da literatura ituana e a educação no país. Confira:
JP – A senhora não é ituana (nasceu em Amparo), mas vive há muito tempo aqui. Qual é a sua relação com a cidade?
Eu vim para Itu em 1959, como professora de inglês do Instituto de Educação Regente Feijó. Cheguei no dia 15 de maio para tomar posse porque foi por concurso de remoção. Estava aquela festança na Praça da Matriz porque era a Festa do Divino. No dia seguinte, 16 de maio, tomei posse e o diretor me convidou para um jantar de confraternização dos professores porque era aniversário da escola. Já cheguei com festa, desde esse dia não saí mais de Itu e na década de 1980 ganhei o título de cidadã ituana.
JP – Como começou o seu trabalho na Acadil?
A Acadil foi fundada em 1992, eu sou da turma fundadora. Me convidaram para fazer parte da academia e eu entrei. A academia está fazendo este ano 25 anos, nosso jubileu de prata.
JP – Como é estar participando desses 25 anos da Acadil?
Eu sou muito festeira. Então, eu ajudo dentro do que for possível nessa parte de festas porque eu gosto de organizar. Nós estamos fazendo agora vários eventos para os 25 anos. Já fizemos esse ano várias renovações das cadeiras. As cadeiras só ficam vagas quando o acadêmico morre. Nós tivemos algumas mortes ano passado e tivemos que fazer a renovação, por isso já fizemos esse ano várias renovações. Resolvemos fazer também um chá comemorativo, bem gostoso, bem diferente para comemorar.
JP – Quais são as outras programações para comemorar os 25 anos da Acadil?
Vamos ficar este ano inteiro, de julho agora até julho do ano que vem fazendo eventos comemorativos como palestras e saraus.
JP – Como a senhora avalia o cenário da literatura ituana?
Eu fico encantada de ver como Itu tem gente que gosta e se dedica a escrever. Vários livros estão sendo publicados na academia e a academia já publicou vários livros também. Eu até gostaria que as pessoas que fossem publicar livros, publicassem junto com a academia porque é interessante. Eu acho o pessoal de Itu bem interessado, motivado, e a gente tem tido sempre em nossas palestras, em nossos eventos, um bom público. Acho que é uma cidade boa para a gente trabalhar essa parte. Agora, a gente trabalha também a parte da motivação às letras nas escolas e procuramos também nos entrosar. Estamos entrosando a academia com programas, por exemplo, dos vereadores. Tem o Vereador Mirim, tem também a Escola Cidadã, então a gente se entrosa nessas coisas porque é interessante.
JP – A academia tem outros projetos?
Nós fazemos muitos lançamentos de livros. Temos as nossas publicações, todo ano tem a revista da academia que sai sempre em novembro. Fora a revista, nós temos uma publicação chamada “Itu, presenças ilustres” que já está no volume 4, que são biografias de pessoas que moraram na cidade e que deixaram alguma coisa interessante sobre a sua vida na cidade, sua contribuição. Os acadêmicos escolhem pessoas, consultam a família e fazem as biografias, mas é uma biografia mais carinhosa, porque são pessoas que deixaram uma passagem e são ilustres nesse sentido, porque senão tinha só aquela biografia dos historiadores, dos convencionais, e Itu continua dando gente que faz coisas boas pela cidade. Depois nós temos “Pirilampos”, que é uma coletânea de crônicas leves e já está no terceiro volume.
JP – O que a senhora mais gosta de escrever?
Eu gosto muito de crônica. Você passa em um lugar vê uma coisa, acha interessante. Eu acho que a crônica é um momento de emoção.
JP – Qual foi a maior motivação para a senhora seguir na carreira de educadora?
Eu sempre gostei de estudar. Na garagem da minha casa, em Campinas, tinha uma lousa e meus primos iam para lá e eu ficava recordando a matéria com eles. Eu não gostava de Matemática, eu gostava de Letras, de História, mas mesmo assim eu dava as aulas de Matemática para eles. Quando eu explicava e olhava neles e eles entendiam, eu perguntava e sabiam, eu me sentia muito bem, sentia que tinha a vocação.
JP – O que a senhora acha da educação atualmente?
A minha vida sempre foi educação, faz 71 anos que estou nessa área. A gente vê algumas coisas que às vezes aborrece. Eu tenho notado que, em geral, a educação que deveria ser prioridade absoluta é deixada um pouquinho de lado, principalmente o atendimento ao professor e eu não estou falando apenas de dinheiro, que é um absurdo o que um professor ganha hoje, aí ninguém quer ser professor. Mas acontece também o problema do próprio atendimento à profissionalização da profissão, porque já ganha pouco, como é que vão fazer cursos? Eu acho que os métodos do atendimento à formação do professor têm que mudar para ele enfrentar o século 21. Mas não adianta você mudar os métodos, dar currículo, dar tudo, se você não prepara a pessoa que vai fazer aquilo, então eu vejo um pouco de dificuldade nisso. São as maiores diferenças que eu vejo da minha época para agora. Eu sinto que tinha que haver uma conscientização maior na formação e na preparação mesmo daqueles que já estão trabalhando, tem que ter continuidade na formação intelectual.