Periscópio Entrevista: Vincent Menu

Nesta semana, o “Periscópio” entrevista Vincent Menu, superintendente da CIS (Companhia Ituana de Saneamento) – autarquia responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto em Itu desde fevereiro. Ele fala sobre os avanços no sistema de abastecimento da cidade, as obras que devem ser realizadas e a situação hídrica no momento.

 

JP: Após pouco mais de quatro meses de autarquia, quais foram os principais avanços promovidos pela CIS?

A CIS conseguiu diminuir sensivelmente a falta de água em algumas regiões que sofriam de falta de água crônica, particularmente na região do Pirapitingui. Os números demonstram muito este efeito: no primeiro mês de operação, em fevereiro de 2017, a CIS recebeu um total da ordem de 600 reclamações por falta de água, patamar que vinha sendo observado nos meses anteriores. Após algumas intervenções na captação de água bruta da ETA (Estação de Tratamento de Água) do Pirapitingui, e na ETA do Portal do Éden, a CIS conseguiu aumentar a quantidade de água distribuída no Distrito e o número de reclamações por falta de água registradas no atendimento diminuiu para um patamar de 100 por mês. As equipes de manutenção de redes estão trabalhando com muito mais empenho nos reparos, e as reclamações de buracos na rua diminuíram muito também. Até janeiro de 2017, o número de reclamações oscilava entre 150 e 200 por mês. Desde fevereiro este número vem caindo constantemente, e em maio já está abaixo de 70.

 

JP: Quais foram as principais dificuldades encontradas após anos de privatização do serviço?

Nos últimos anos, principalmente desde 2011, a operação dos sistemas deixou muito a desejar, particularmente no aspecto de manutenção dos sistemas, e também no planejamento de longo prazo de expansão dos sistemas. A CIS assumiu um sistema praticamente sucateado. As estações de tratamento de água e de esgoto estão funcionando, mas de forma precária. A maioria das estações elevatórias não tem bomba e/ou motor reserva. As redes de distribuição de água e de coleta de esgoto estão em condições ruins e temos vazamentos em muitos pontos, e em alguns casos já não comportam mais a demanda e precisariam de ampliações. A capacidade dos reservatórios de água tratada é insuficiente para operar corretamente e muitos que existem estão em má condição. As bacias hidrográficas que abastecem a cidade de água bruta estão todas com uma capacidade de armazenamento reduzida, por assoreamento das represas, até rompimento de represas existentes e falta de investimento em novas represas.

 

JP: Quais serão as próximas ações importantes que serão tomadas pela CIS para garantir o abastecimento na cidade?

A CIS tem um grande trabalho de recuperação dos sistemas existentes, conforme já dito, para que eles funcionem de forma otimizada. A cidade tem a capacidade de abastecer os seus munícipes com qualidade com as instalações das quais ela dispõe se elas estivessem em condições plenas de funcionamento, e é este o trabalho que a CIS já começou a desenvolver, utilizando recursos próprios e contrapartidas de empreendedores. Além destes recursos, a CIS está se organizando para pleitear recursos do Estado e da União, a fundo perdido ou oneroso, para viabilizar este enorme trabalho de recuperação. Na busca pela eficiência operacional, a CIS também está se organizando para implementar um plano de redução das perdas de água. Por falta de medição correta, não se tem um número exato, mas estima-se que de 100 litros de água captados dos mananciais, apenas a ordem de 50 litros são efetivamente registrados e faturados. Esta água é perdida em vazamentos na rede e em reservatórios, mas também pode estar sendo consumida sem ser faturada devido a hidrômetros antigos que medem mal, deficiências no cadastro comercial ou até desvios clandestinos – vulgo “gato”. Com este plano fazendo efeito, parte da água desperdiçada hoje seria efetivamente faturada, ou simplesmente não precisaria mais ser captada e tratada. O resultado esperado é um uso mais racional dos mananciais da cidade, a redução das despesas operacionais devido à redução do volume de água tratada e distribuída e um aumento da receita, permitindo assim uma maior geração de recursos próprios da CIS que serão reinvestidos integralmente nos sistemas de água e de esgoto. Enfim, outra frente estruturante que está sendo preparada é a atualização do Plano Diretor de Água e de Esgoto. A última versão deste documento é de 2008, e precisa ser atualizada. Este documento, complementado por uma ferramenta de modelagem hidráulica, permitirá à CIS projetar a adequação e a expansão da infraestrutura necessárias para atender plenamente a cidade em abastecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgoto nos próximos 20 anos.

 

JP: Como está o nível de cada reservatório de água da cidade atualmente? A reserva pode garantir que Itu não sofra com racionamentos neste ano?

Atualmente os reservatórios existentes estão na maioria com sua capacidade plena, graças às chuvas que vêm ocorrendo nestas últimas semanas. Os mananciais têm uma capacidade média de suportar em torno de 60 dias sem chuva antes de começar a perder sua vazão disponível. A CIS monitora semanalmente o nível dos reservatórios e está sendo finalizado um plano de contingenciamento para monitorar os níveis dos reservatórios e desencadear as ações necessárias para fazer frente a uma eventual estiagem e redução de vazão disponível.

Na sede, Itu dispõe da água do Mombaça, que é um curso de água perene. Ao contrário dos outros mananciais, a vazão dele não diminui mesmo com períodos longos sem chuva, o que oferece uma segurança ao abastecimento.

No Pirapitingui, atualmente apenas uma bacia hidrográfica abastece as duas estações de tratamento de água, porém a CIS tem a previsão de ainda este ano concluir a obra de uma captação e uma adutora em um novo manancial que dará também mais segurança ao abastecimento do distrito. Portanto, neste ano, pelas circunstâncias climáticas e pelas ações que a CIS já conseguiu lançar, têm boas chances de que Itu não sofra com racionamentos, e esta condição tende a melhorar a cada ano.

 

JP: Como vão as tratativas com o Consórcio do Ribeirão Piraí? Poderemos ter boas notícias em breve com relação a ele?

O Consórcio do Ribeirão Piraí, composto pelos municípios de Cabreúva, Indaiatuba, Itu e Salto, está trabalhando consistentemente e preparando a realização da nova barragem, que significará uma adição de disponibilidade de água significativa para a cidade. O início das obras depende ainda da conclusão de algumas desapropriações e da captação de novos recursos federais. Podemos ter boas notícias em breve, porém é uma obra demorada e ainda é uma questão de alguns anos até que esta água esteja disponível para a cidade.

 

JP: E a respeito da Adutora Mombaça? As obras já foram concluídas?

A água do Rio Mombaça está disponível para a cidade. Existe uma captação e uma adutora que ainda merecem algumas intervenções para funcionar plenamente, e a CIS está também desenvolvendo projetos para finalizar definitivamente esta obra. A CIS não está usando esta água atualmente porque os outros mananciais atendem a cidade, mas se for necessário, a infraestrutura atual já permite trazer água do Mombaça para abastecer a cidade.

 

JP: E a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) do Pirajibu, em que pé está?

A ETE do Pirajibu foi praticamente concluída pela Águas de Itu, porém está parada desde 2014, inclusive com todos os equipamentos instalados ao tempo. A CIS está avaliando em que condições estão estes materiais e viabilizando os investimentos necessários para pôr esta  ETE em funcionamento até, no máximo, ano que vem, permitindo assim tratar todo o esgoto do Pirapitingui, que hoje é despejado integralmente no córrego do Sanatório.