Prancha de ituano vira obra de arte em homenagem a Gabriel Medina
Os Jogos Olímpicos Paris 2024 chegaram ao fim no domingo (11) e deixaram inúmeros momentos marcantes e eternizados em imagens, que já se tornaram históricas. Para os brasileiros, uma foto em especial chamou a atenção: a que o surfista Gabriel Medina parece ‘levitar’ sobre as ondas ao lado de sua prancha, apontando o dedo indicador para o céu.
O registro foi feito pelo fotógrafo francês Jerome Brouillet durante a disputa das oitavas de final do torneio de surfe masculino, em que Medina venceu o japonês Kanoa Igarashi obtendo nas ondas de Teahupoo, no Taiti, a nota mais alta das Olimpíadas (9,90). O surfista brasileiro viria a conquistar a medalha de bronze na competição.
A imagem rodou o mundo e, nas redes sociais, virou meme. Teve também quem tenha feito arte em cima da icônica fotografia. O artista Eduardo Kobra, conhecido por seu estilo “street art”, transformou a foto em uma obra de arte estampada em uma prancha de surf, e divulgou o trabalho em suas redes sociais.
“Tenho uma coisa em comum com o surfista Gabriel Medina, brasileiro que ganhou bronze na Olimpíada: ambos temos muita fé em Deus. Esta conexão fez com que eu me sentisse privilegiado em eternizar, em uma prancha de surfe, a foto mais icônica destes Jogos Olímpicos, a imagem que o fotojornalista francês Jerome Brouillet fez do atleta. Com esta cena, quero deixar aqui minha homenagem a todos os que estão representando, com dedicação e talento, as cores do Brasil lá em Paris”, escreveu Kobra nas redes sociais.
A homenagem foi elogiada por muitas pessoas, incluindo Medina e Brouillet. “Amei isso”, comentou o fotógrafo francês. “Ficou muito linda! Obrigado pelo carinho, irmão. Deus é bom o tempo todo”, escreveu o surfista brasileiro.
A arte foi pintada no ateliê de Kobra em Itu, localizado nas dependências do Centro Cultural Fábrica São Pedro. O que muita gente não sabe é que a prancha utilizada foi fornecida por um ituano apaixonado pelo surfe: o diretor financeiro Rodrigo Candini, 45 anos, que hoje mora em Salto e que contou ao JP como essa conexão aconteceu.
Rodrigo explica que conhecia o trabalho do artista somente pela internet, mas é amigo de uma assessora dele, chamada Luana. Kobra precisava de uma prancha para fazer a homenagem encomendada pelo apresentador da TV Globo Tadeu Schmidt, e o ituano era o único surfista próximo que ela conhecia.
O ituano tinha uma prancha parada há cerca de dois anos e o próprio Kobra foi até a casa dele buscá-la. “Ele é uma pessoa extremamente simples, do bem. Eu sou católico e sei que a religião também faz parte do convívio dele, então a gente teve uma afinidade muito boa desde o início”, conta Rodrigo, que teve a experiência de, junto com seus filhos (Davi, de 9 anos, e Helena, de 6 anos), conversar com o artista.
Ver uma prancha que era sua virar uma obra de arte o deixou realizado. “Até agora estou ‘amarradão’, em um momento de êxtase”, conta Rodrigo, que além de ser fã do artista também admira a carreira de Medina, considerado um ícone do surfe e mestre das ondas grandes. “Para mim é o surfista mais completo do mundo”.
Agora, Rodrigo desfruta da honra de ter participado dessa homenagem a um ídolo. “Fiquei honrado, felizaço, em êxtase até agora. É uma história magnífica que conto para meus amigos e a galera nem acredita”, conta o ituano, que até mandou mensagens para o surfista, o padrasto dele, Charlão, e a irmã Sophia na esperança de conseguir uma camisa de lycra autografada. Nada mais justo para um verdadeiro amante do surfe, que ajudou a viabilizar tal homenagem.
Amor pelo surfe
Rodrigo Candini nasceu e foi criado em Itu. Seu amor pelo surfe aflorou já na infância. “Ao invés de prestar atenção nas aulas, ficava fazendo desenho de ondas, de pranchas”, diverte-se ele. Os pais – grandes incentivadores dessa paixão – o presentearam com uma prancha quando ele tinha 14 anos. Em uma época sem as facilidades da internet, lia a extinta revista “Fluir” para se inteirar mais sobre o assunto.
O esporte estava na veia de Rodrigo, que praticava natação, futebol, capoeira e skate, mas o surfe era o que despertava mais paixão. E essa paixão virou estilo de vida. “É uma religião para mim”, afirma o ituano, que começou a ir com frequência de carro para Guarujá (SP), no Litoral Sul, quando completou 18 anos.
Sem dinheiro para passar o fim de semana, fazia bate-volta aos sábados. Alguns desses dias foram perdidos, por conta das condições climáticas. Com isso, começou a perceber a importância da meteorologia para a prática do surfe. Rodrigo foi se dedicando cada vez mais à modalidade e, aos 21 anos, trocou as ondas do Guarujá pela Praia do Camburi, em São Sebastião (SP), no Litoral Norte – que se tornou sua praia favorita ao lado da Praia da Baleia.
“Todas as férias que eu tinha eu me dedicava para o surfe, seja nas férias de verão ou de inverno. Ao longo do tempo eu entendi que o outono e o inverno é o período que mais dá onda, onda de qualidade”, afirma. Com o passar dos anos, Rodrigo foi conhecendo outros destinos para o surfe, incluindo fora do país. Mas nunca competiu profissionalmente, pois seu foco sempre foi curtir o esporte que é devoto.
“Em todo o território brasileiro eu já surfei, menos em Fernando de Noronha, que tenho como projeto”, conta o surfista. Nos últimos 10 anos, em nove ele foi para El Salvador, na América Central. “É um país pelo qual eu me apaixonei, tem altas ondas. Estou fissurado por esse país e pelo povo. As pessoas são maravilhosas”, declara Rodrigo, que voltará para lá no fim deste mês.
“Ao longo desses 45 anos, hoje eu sou um cara realizado nesse esporte tão apaixonante, que é o esporte dos deuses, e que realmente fez todo o sentido na minha vida. Sou muito grato de ter tido essa devoção pelo esporte, porque eu tive que mudar meus hábitos, eu treino todos os dias para estar sempre bem, estar sempre pronto para uma nova ondulação”, conta ele, que sempre dedica um tempinho para pegar uma onda. “A mesma devoção que eu tenho pelos meus filhos, eu tenho pelo mar”, finaliza.