Prefeitura e UNEI se reúnem após a polêmica envolvendo retirada de grafite
Representantes da UNEI (União Negra Ituana) se reuniram na manhã desta sexta-feira (19) com o governo municipal para debater acerca da polêmica envolvendo a remoção de grafites de Adelson de Andrade em tapumes que protegem as obras de restauro do Cruzeiro Franciscano – leia mais na página 04.
O encontro ocorreu entre o prefeito Guilherme Gazzola (PL) e a secretária de Cultura e Patrimônio Histórico, Maitê Velho, com o presidente da UNEI, Vicente Sampaio, o diretor de Educação, André Luigi, e diretora de Cultura, Selma Regina Dias.
Segundo a Prefeitura comunicou em nota, ficou entendido que a única razão pela qual o grafite foi apagado era a de estar em desacordo com a lei municipal 2043/19, em seu artigo terceiro, que proíbe intervenções em tapumes de obras no centro da cidade.
“Foi de entendimento do Poder Público Municipal e da entidade representativa dos negros que a conduta da Prefeitura se deu de forma administrativa e legalista, não havendo intencionalmente nenhuma implicação em questões de cunho racial”, diz a nota.
“Quanto ao episódio que gerou essa discussão, aplicamos a lei, protegendo um patrimônio histórico e cumprindo o nosso papel de gestores do município. Não há a intenção de fazer desse ocorrido uma situação conflitiva, mas sim encararmos como uma oportunidade para discutirmos como sociedade o racismo estrutural e tirarmos importantes aprendizados no tratamento de pautas voltadas à discriminação”, comentou o prefeito.
Aproveitando a oportunidade, a UNEI entregou uma proposta de implementação da Política Municipal de Promoção de Igualdade Racial, que foi recebida pelo chefe do Executivo, com a intenção de dar prosseguimento para a sua efetivação, além da criação da Coordenadoria da Igualdade Racial e refundar o Conselho do Negro em Itu – que existe, mas está inoperante.
Por sua vez, o prefeito relacionou as ações já em andamento para a valorização e resgate da cultura negra em Itu, como o próprio restauro do Cruzeiro, obra do aclamado Mestre Tebas. Guilherme e a secretária de Cultura mencionaram outras iniciativas do governo municipal neste aspecto como a inserção de aulas de História da Arquitetura e Educação Patrimonial na grade dos alunos das escolas públicas municipais, ações de conscientização das escolas para jovens e adultos, manutenção de grupos de pesquisas de universidades estaduais e federais direcionadas para a história de Itu com enfoque na cultura negra e indígena.
UNEI se posiciona
A UNEI gravou um vídeo, em que o presidente Vicente Sampaio nega uma suposta nota que estaria circulando na internet convocando para uma manifestação contra o prefeito. “Não tem aval da UNEI, a UNEI está imbuída de fazer a Missa Afro”, disse ele. Já o historiador André Luigi, diretor de Educação da entidade, também se posicionou.
Ele disse entender que alguns membros da entidade podem até participar de tal manifestação, mas que não é algo que parte da UNEI. Luigi também disse que a gestão atual tem aberto diálogo com a UNEI, desenvolvendo vários projetos com a Prefeitura.
Ao JP, André Luigi comentou o encontro. “A gente gostaria que houvesse a compreensão por parte da Prefeitura que esse conflito não se trata de um grafiteiro que foi pintar o tapume. Não se trata do prefeito fazer a lei ser cumprida ou não. Há camadas que envolvem esse conflito, é um conflito muito maior. É um conflito que expõe as estruturas da discriminação racial em nosso país, em nossa cidade, e que o prefeito tinha que compreender isso”, disse ele, apontando que a conversa foi “intensa”. Mas, segundo André, Gazzola e sua equipe compreenderam a fala.
“Esse conflito só pode ser resolvido não punindo o grafiteiro ou fazendo manifestação contra o prefeito. Isso não vai avançar a pauta”, afirmou ele, apontando que a UNEI buscou uma solução técnica e institucional – com a apresentação da proposta de Política de Igualdade Racial.