Projeto Octo: muito além de brinquedinhos para bebês prematuros
Por Beatriz Pires
Desde 2017, bebês prematuros que ficam na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do Hospital São Camilo de Itu têm a companhia de polvos de crochê, que trazem diversos benefícios e até auxiliam na recuperação dos recém-nascidos. Próximo de completar dois anos, o Projeto Octo Itu – inspirado no projeto dinamarquês criado em 2013 – já doou 899 polvinhos.
Em Itu, esses polvinhos “nadam” ao encontro dos bebês através das mãos da psicóloga Teresa Cristina Leme Ribeiro, responsável pelo projeto na cidade, e de mais oito voluntárias. Tudo começou quando Teresa foi pesquisar um bichinho de crochê para confeccionar para sua sobrinha-neta e encontrou o polvo. “Fui ver o porquê do polvinho e aí me apaixonei pelo motivo. Resolvi fazer um para ver como era. Fiz um, fiz dois, fiz três e já fiz mais de 600”, diz.
Por não saber da existência da UTI neonatal em Itu, Teresa encaminhou os primeiros polvinhos para um hospital em São Paulo que já tinha o projeto implantado. Após se informar e descobrir a unidade no município, a psicóloga conversou com os responsáveis para dar início ao projeto. “Depois de um mês que eu entrei em contato e expliquei, já foi aprovado. Desde então está sendo muito bem aceito, tanto pelos pais, pelos bebês e pelo pessoal do corpo clínico”, ressalta.
Os bichinhos são totalmente artesanais, feitos com linha antialérgica e enchimento de fibra siliconada, e levam de três a quatro horas para ficarem prontos. O tamanho segue um padrão, com limite de 8 a 10 centímetros de cabecinha e no máximo 22 centímetros de tentáculo esticado. “É para não correr risco de enroscar no pescocinho, nada disso”, explica Teresa.
Além dos polvinhos doados para a UTI de Itu, o projeto recebeu pedidos de outros lugares. Dos 899 que já foram doados, 60 foram enviados para a Santa Casa de Passos/MG e 15 para o tratamento intensivo da Maternidade de Porto Feliz.
Apenas brinquedinhos?
Os polvinhos vão muito além de serem meros brinquedos ou enfeites. Os bichinhos são importantes para o recém-nascido e, de acordo com relatos de pais e profissionais de saúde da UTI neonatal, o uso do polvo parece acalmar os pequenos, ajudando a normalizar a respiração e os batimentos cardíacos e evitando que eles arranquem fios de monitores e sondas.
“Todos os polvos recebidos de doação passam por processo de esterilização. A utilização do brinquedo na unidade neonatal tem benefícios e não compromete a segurança do bebê”, destaca o enfermeiro e gerente assistencial, Fernando de Mattos. A coordenadora do setor Materno Infantil da Santa Casa, Liliane Lima Languer, destaca ainda que não há “relato de infecções ou danos à saúde dos bebês”.
A escolha do polvo foi feita pelas semelhanças que ele apresenta com o espaço que o bebê estava acostumado dentro da barriga da mãe. “O tentáculo do polvinho se assemelha ao cordão umbilical, que é assim enroladinho, e a cabeça se assemelha à textura da parede do útero, então ele se sente em um lugar conhecido”, explica Teresa.
Além disso, o polvinho tem vários tentáculos que abraçam o bebê e trazem tranquilidade. “Ele não se debate tanto, então consegue ganhar peso. Com o bebê ficando mais calmo, a febre acaba abaixando, os remédios têm mais eficácia e o tempo de internação diminui”, afirma a psicóloga.
Os primeiros bebês a receberem os primeiros polvos em Itu foram o casal de gêmeos Maria Luiza Gonçalves Stal e Felipe Gonçalves Stal, hoje com quase dois anos. “Nossos bebês pegaram a gente de surpresa, foi um susto e tanto, não imaginávamos que eles pudessem nascer com apenas 27 semanas de vida”, relata a mãe Lilian Ap. Gonçalves de Jesus.
Os gêmeos ficaram dois meses na UTI neonatal, sempre acompanhados do bichinho. “O projeto dos polvinhos foi muito importante na recuperação deles, acredito que deu mais segurança para eles naquela incubadora. Só tenho que agradecer”, destaca.
Para Teresa, o maior pagamento é a recepção das mães e também, ver os bebês fortes e saudáveis. “Saber que conseguimos ajudar alguém, e alguém que chega ao mundo tão despreparado, é gratificante”, finaliza. Quem quiser ajudar, pode entrar em contato através da página Projeto Octo Itu/SP, no Facebook.