Psicólogo destaca importância de campanha na prevenção do suicídio
Além do suporte profissional, o apoio de familiares e amigos é fundamental no tratamento contra o ato suicida
Daniel Nápoli
Neste mês é realizado o “Setembro Amarelo”, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, todos os dias, aproximadamente três mil pessoas tiram a própria vida no mundo. Isso significa que, a cada meio minuto, um indivíduo se mata. Além disso, há estimativas de que, para cada pessoa que comete suicídio, pelo menos outras 20 tentaram sem sucesso.
Atualmente, o ato é a terceira maior causa de mortes entre jovens e adultos ao redor do planeta, perdendo apenas para homicídios e acidentes de trânsito. Diante desses dados, o Jornal “Periscópio” conversou com o psicólogo Marco Aurélio Ferrão dos Santos sobre o suicídio. Além de expor as causas, o profissional apontou os caminhos para evitá-lo e expôs sua opinião a respeito da campanha de conscientização denominada “Setembro Amarelo”.
Para o Dr. Marco Aurélio, nos dias atuais, o conceito suicídio está mais presente nos debates. “Há tempos o ato é tratado como crime contra a própria vida. Conceito difundido por religiões, dentre outros conceitos, que, ao longo da história da humanidade, impuseram isto. No entanto, hoje, o suicídio é encarado como um problema de saúde pública. A pessoa de alguma forma está debilitada e acaba cometendo uma atitude que lhe tira a própria vida”, explica.
O psicólogo reforça que o caso é complexo, sendo necessária uma ampla reflexão, já que é preciso compreender a natureza humana para buscar uma explicação para o ato. “Todo nosso comportamento busca algum tipo de recompensa. Ou a recompensa é o alívio de um sofrimento ou uma promoção de prazer. Então, a pessoa que comete ou tenta cometer o suicídio está buscando o alívio de um sofrimento – e esse sofrimento é muito intenso em seu entender”, adverte.
Situação complexa
Para chegar a esta atitude extrema, Dr. Marco explica que o processo vem acompanhado de diversos fatores, desde a depressão a outros transtornos mentais, que envolvem alucinações. “A característica depressiva é a consequência de algo maior. Pessoas com transtornos mentais, muitas vezes, veem certos problemas do cotidiano como algo maior do que realmente é; e isso começa a gerar ansiedade, angústia. Quando uma pessoa não consegue lidar com problemas, as exigências e os desafios acabam gerando toda essa carga. Além disso, algumas pessoas com dores físicas muito fortes ou graves doenças acabam tendo também seu emocional abalado, podendo chegar a ponto de interromper essa dor”, ressalta.
Outro ponto abordado pelo profissional diz respeito ao bullying, considerado um dos grandes fatores que podem desencadear o problema. “O bullying sempre existiu, porém não tinha esse nome lá atrás. Esse é um dos pontos que mencionei sobre ‘algo maior’, que pode gerar na pessoa uma ansiedade e que pode acarretar um transtorno depressivo e terminar em suicídio. Por exemplo, no Japão, o bullying é realizado até com mais intensidade que no Brasil, sendo o país que mais tem casos de suicídio”.
Cobrança social
A dinâmica atual da sociedade também é apontada pelo profissional como uma das responsáveis pela geração da ansiedade, do transtorno depressivo e de um consequente suicídio. “Hoje, as pessoas têm que produzir, agradecer, participar, mostrar que estão felizes. As pessoas perderam a liberdade de viver. Vivemos na imposição de acompanhar os movimentos e as ideias. Temos que sair bonitos na foto e nas redes sociais. Temos que ter uma opinião e estamos pressionados para sermos iguais à maioria. Somos pressionados no trabalho, na escola, na faculdade, socialmente… 24 horas não são suficientes. Ficamos mal com isso; vivemos para responder. Ou deixamos tudo uma bagunça ou deixamos de viver pequenas oportunidades, que seriam significativas”, alerta.
Apoio
Segundo Dr. Marco Aurélio, os familiares e amigos podem auxiliar uma pessoa que sofre de transtornos depressivos. “Muitas vezes a pessoa tem uma fala suicida, mas não é aquela ‘eu vou me matar’; ela vai deixando nas entrelinhas. Esse indivíduo está passando por uma debilidade emocional. Ao invés de julgar e criticar a pessoa que tenha tentado um suicídio ou esteja expondo um pensamento suicida, é preciso deixar esse indivíduo falar e expor seus sentimentos. Deixá-lo sem medo de ser julgado, pois é esse medo que muitas vezes faz com que a pessoa que está sofrendo permaneça calada”, orienta o profissional.
É com esse entendimento que o psicólogo enaltece o projeto “Setembro Amarelo” na luta pela conscientização. “Eu acredito que a campanha faz com que as pessoas vençam esse preconceito e passem a falar a respeito. Os amigos e os familiares têm que conversar e mostrar que essa pessoa é importante, pois, sim, cada pessoa desse mundo é muito importante”, destaca.
Como último alerta, Dr. Marco Aurélio aconselhou a população a ouvir. “O que está faltando hoje é uma pessoa ouvir a outra; prestar mais atenção umas nas outras. Conversem, se exponham, não tenham medo de falar sobre seus problemas e angústias com familiares e amigos. Caso a pessoa não consiga lidar com isso, procurem o auxílio de um especialista, que saberá ajudar essa pessoa a enfrentar seus desafios e lidar com seus sentimentos”, finaliza.