Reze por Elas

De novo, uma crônica escrita ao léu, sobre guardanapo, em praça de alimentação, para matar o tempo. Não é guardanapo propriamente, e sim o verso daquela folha com que se forra a bandeja, em restaurantes e bares. O anverso tem sempre uma ilustração interessante ou ao menos publicidade vária. Neste caso, é destas últimas que exibem e explicam toda constelação, astros e estrelas.

Tema? Ainda não se sabe. É dar andamento à caneta que as ideias surgem.

Bem guardado o rascunho, algum dia a gente o publica.

Treze horas e quinze minutos.

Dia? Ah, sim. 19. Abril, deste 2017 que avança, veloz como nunca.

Você já leu o jornal hoje? Não. Então embarque nesta crônica e assim nos ajuda. Se no final disser que não houve nada de interessante, também não pense que perdeu seu tempo. Ajudou um amigo. Mesmo que fale da gente, pelo menos terá levado este bate-papo para além do papel. O que já é muito.

Percebeu o detalhe? Falar “da gente”! É diferente de falar “sobre a gente”. Não é mesmo? Falar mal dos outros (coisa feia) e todos o fazemos.

Às vezes a pessoa começa assim: Não é por falar mal, mas… E lá vem o despejo de toda maldade do mundo em cima do conceito de alguém. Alguém que está ausente e a quem se não concede a chance de se defender ou de se explicar. Certa e fatalmente, ainda, de quem você não gosta ou com quem não simpatiza muito, ele ou ela. Acertamos?

Então. Não lhe fora dito e prometido que se tivesse paciência de ficar conosco, alguma coisa boa sobraria? Que tal renovar o propósito de nunca mais maldizer alguém, embora a gente saiba que a recaída possa ser bem provável? Pelo menos agora, neste momento, a intenção será boa.

Faça, pois, este exercício.

Memorize três pessoas com quem você não se dá muito bem ou tem reservas para com elas.

Não há três?

Duas, então.

Nem duas?

Aquela, afinal.

Mas, não se lembra nem de uma sequer? Verdade?

Se assim é, parabéns. Considere-se qualificado ou qualificada a ir aos altares. E rogue por nós aqui embaixo.

Para quem conseguiu lembrar-se de várias ou de uma ao menos, recorde-se, com o maior número possível de detalhes, do rosto dela ou delas, das pessoas difíceis de sua vida. Rememore bem o semblante das mesmas. Imagine o seu rosto quando sério e quando elas sorriem. Pare um pouco. Pare aqui, no sorriso. E corresponda a esse sorriso imaginário. Faça um esforço, que todo mundo sabe, que você mesmo ou mesma não é má pessoa. Perdoe a ou as pessoas de quem assim se recordar.

Abrace-as simbolicamente.

E reze por elas.

Viu, agora, que agradável sensação de paz …

O que? Não conseguiu?

Não desanime. Feche o jornal. Releia o artigo mais tarde e tente de novo.

Mas, afinal, qual a origem deste exercício?

Não. Não foi aprendido com ninguém e também não deve constar de nenhum livro sobre espiritualidade ou de autoajuda.

Não houve uma advertência inicial, lá atrás, mesmo que não definido um assunto, se você monta uma primeira frase no papel, o bico da caneta faz o resto?

Acredite, tudo isto veio num repente. Não dele, exatamente, do bico. É que o bico é perfeito cumpridor de seus deveres e assimila, quieto e calmo, o que a imaginação lhe ordena.

Neste caso – o mundo modernizou-se – imprescindível depois levar o texto ao micro e daí, pela via da internet, trazer a crônica até o jornal.

Finalmente, seja qual for sua situação e voltando ao nosso tema, permita a liberdade de sugerir de novo:

Reze por elas.

 

Bernardo Campos

Cadeira nº 13

Patrono Luís Colaneri