Saúde em Foco: Aquilo que nossos pais olhavam e não compreendiam
Por Dr. Eneas Rocco*
Algumas situações comuns do nosso cotidiano, e que a décadas, não eram associadas com a ideia de doença, com o passar do tempo e a evolução da pesquisa médica, acabaram sendo identificadas como possíveis transtornos genéticos e neurológicos. Vamos falar de duas delas: os transtornos obsessivo-compulsivo (TOC) e os transtornos de atenção e hiperatividade (TDAH).
Os primeiros, abreviadamente conhecidos pela sigla TOC, são os comportamentos repetitivos executados pelo paciente, sem nenhuma racionalidade, dada a sua natureza, em geral buscando aliviar uma intuição negativa. Um exemplo típico, é o ato de ficar mexendo na maçaneta das portas, para se certificar de que está de fato trancada.
No passado, esse comportamento indecifrável, era um dilema para os adultos que padeciam do mal, como para os progenitores que, diante do desconhecido, não sabiam como abordar racionalmente a esquisitice dos filhos. Hoje, sabemos que esses gestos realizados à exaustão, às vezes, causam bastante sofrimento ao executor, que pode ter prejuízo em seu desempenho pessoal e profissional em decorrência desses rituais.
O tratamento para o TOC, pode ser medicamentoso e através de técnicas de psicoterapia, para identificar os pensamentos associados à prática compulsiva e lidar com eles, até que o paciente aprenda a contornar sua dificuldade.
A segunda entidade cujo diagnóstico foi definido recentemente, são os TDAH.
Não era incomum de se ver, alguns alunos nas escolas – sempre os mesmos – na sala de castigo. Eram postos para fora da sala de aula, porque, dizia-se, “não tinham sossego e perturbavam os colegas”!!
Há duas ou três gerações atrás, não havia e nem podia haver, outra atitude por parte das famílias, que não fosse de descontentamento. Parecia um comportamento proposital, para chamar a atenção. Talvez, até já existisse no meio médico, alguma informação a respeito, mas para o leigo, a única explicação possível era de que seus filhos fossem mesmo irrequietos e travessos. A conversa de pais e professores com essas crianças era invariavelmente punitiva.
Os TDAH, começam a se manifestar em idade escolar e muitas vezes perduram até a vida adulta. Hoje, se observa até uma tendência em diagnosticar esse transtorno até nos normais, com alguma característica isolada.
Na criança, tarefas que demandam uma concentração mais constante, podem expor a sua desatenção. A hiperatividade, se observa tanto em crianças como em adultos pela evidência de impaciência e agitação constantes. Tais características trazem prejuízo de desempenho, comprometem as habilidades, e o pensamento mais sistemático.
Os adultos que permanecem hiperativos e com déficit de atenção, em geral apresentam oscilações de humor e dificuldades de se concentrar e concluir tarefas.
Esse conjunto de alterações comportamentais, não passava desapercebido de pais e professores no passado, e infelizmente não se sabia como conduzir.
Não foi nada fácil a vida da molecada nessa época, pois todas essas condutas, eram tidas como o desejo voluntário de ser extravagante. Criança endiabrada, dizia-se!! Às vezes de fato éramos acometidos de grandes ímpetos de pensar ou realizar outras coisas além daquelas que estavam ali à nossa volta. O intuito não era em nenhum momento atrapalhar os demais. Só que atrapalhava! Boa semana a todos.
*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.
Excelente abordagem do Dr. Eneas
Excelente Dr°, evoluímos muito na medicina e hoje temos grandes conquistas e resultados alcançados !
Quem nunca teve um “TOCzinho” que atire a primeira maçaneta…
Grande De Eneas