Saúde em Foco: Clima e saúde
Por Dr. Eneas Rocco*
Ao velho refrão “de médico e de louco, todos nós temos um pouco” eu acrescentaria que de meteorologista, também! Todos gostamos de falar sobre o tempo; ao telefone com a mãe, no elevador com estranhos, com nossa esposa que quer saber se amanhã vai esfriar!!
A minha geração viveu um período romântico em relação a essa área do conhecimento; acontece que as previsões quase nunca davam certo…
Tínhamos um adorável Narciso Vernize – o homem do tempo – que trazia seus boletins diários falando das condições climáticas e das prováveis intempéries futuras. Era muito comum a suspeita de frentes frias, em especial às vésperas dos finais de semana do verão; até parecia um mau agouro!!!
Chegávamos a dizer que se havia previsão de chuva, então não havia motivo nenhum para se preocupar com a chuva!! Tratava-se evidentemente de uma brincadeira vinculada ao nosso homem do tempo, que buscava dentro das informações que possuía, orientar da melhor maneira a nossa população.
Naqueles anos sessenta e setenta os equipamentos não eram tão aprimorados e por essa razão as falhas na previsão aconteciam com frequência.
Hoje existe uma grande assertividade. Dificilmente os sites de clima deixam de prever adequadamente o que virá ao longo da próxima semana, incluindo-se aqui as questões mais catastróficas como alagamentos, furacões e temperaturas recorde.
Com o aperfeiçoamento da tecnologia, veio também a deterioração ecológica de nosso planeta, com questões que todos sabemos sobre desmatamento, ausência de políticas para exploração de substratos energéticos renováveis, entre outras medidas necessárias, e tendo como consequência um total desmanche das nossas primaveras, nossos verões, outonos e invernos.
Quando a gente brinca dizendo que em São Paulo temos as quatro estações do ano todos os dias, estamos falando de saúde populacional. Os eventos climáticos extremos impactam na qualidade da água potável predispondo às infecções e comprometendo a produção de alimentos em especial em determinados continentes.
A poluição do ar, também decorrente da agressão à ecologia, acarreta o adoecimento e a morte em especial por causas respiratórias de milhões de pessoas. Outras perturbações mais corriqueiras e passageiras nesse contexto são os fenômenos alérgicos, a desidratação e a hipotermia.
A Fundação Oswaldo Cruz alerta para os perigos das mudanças climáticas em relação a doenças como a dengue e a malária, bem como a hepatite A, transmissíveis através do consumo de água e de alimentos contaminados.
Esta coluna sobre saúde tem por objetivo alertar o leitor para medidas de prevenção capazes de evitar ou retardar o adoecimento. Nossa matéria de hoje, no entanto, é carregada de tarefas que não são nossas, mas dos nossos governantes. Matérias que dependem de políticas, de boa vontade e de compreensão entre os homens.
Para nós da população geral restam somente algumas medidas de autoproteção; aí vem a hidratação, os protetores solares e os velhos e bons agasalhos, que de longa data éramos recomendados a não descuidar pelas nossas mães e nossas vovós. Boa semana a todos!
*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.