Saúde em Foco: Morte súbita no esporte

A morte súbita (MS) é definida como sendo a ocorrência de uma morte inesperada, com ou sem testemunhas, dentro de uma hora após o início dos sintomas. Se diz popularmente que, “fulano morreu de repente” para identificar aquele vizinho ou parente que foi dormir bem por exemplo, e pela manhã não acordou.

O conceito de morte súbita também pode ser aplicado quando acontece dentro de 24 horas após a última vez em que a pessoa foi vista viva e sem sintomas. Quando relacionada a atividades esportivas, entende-se como MS aquela que ocorre dentro de uma hora após exercícios de moderada a alta intensidade. Esses eventos são mais comuns em indivíduos que possuem doenças cardíacas. 

Quando recebemos uma notícia da morte de indivíduo conhecido pela prática esportiva, quer como atleta amador ou profissional, o impacto sobre a opinião pública é sempre muito chocante e surpreendente. Afinal, trata-se de pessoas com “saúde de ferro”. E muitas das vezes, a causa da morte não é esclarecida.

As principais doenças cardíacas que podem levar à morte súbita relacionada ao exercício, variam conforme a faixa etária, tendo como causa principal acima dos trinta e cinco anos a doença coronariana e abaixo dessa faixa etária, de um modo geral as doenças congênitas ou geneticamente estabelecidas. 

Estudos indicam que a incidência de morte súbita entre atletas competitivos varia de 1 em um milhão a 1 em 5.000 atletas por ano. No entanto, é possível que essa estimativa subestime a real incidência, já que em alguns países a notificação de morte súbita em atletas não é obrigatória. 

É importante ressaltar que evidências científicas sugerem que alguns atletas possuem um risco maior de morte súbita de acordo com seu sexo, grupo étnico ou tipo de esporte praticado, sendo mais frequente em atletas do sexo masculino, de etnia negra e em esportes como futebol e basquete, onde os esforços menos intensos são alternados com períodos de explosão de grande intensidade. Estima-se que a incidência anual de morte súbita em jogadores negros de basquete do sexo masculino chegue a 1 em 5.300.

Dessa forma, é fundamental realizar uma triagem médica em candidatos a práticas de atividades físicas de alta intensidade, para descartar possíveis causas de morte súbita. Antes de iniciarmos nossos treinamentos, é de extrema importância passar por uma avaliação médica, conhecida como Avaliação Pré-Participação Esportiva, a fim de mitigar esse risco. 

Essa avaliação para os que praticam exercícios físicos regulares deve ser periódica e constar da história clínica, exame físico, eletrocardiograma e idealmente um teste ergométrico e um ecocardiograma. Dependendo do resultado da avaliação, o indivíduo pode ser desaconselhado da prática de exercícios de alta intensidade.

Determinados diagnósticos podem suscitar a discussão quanto a indicação de implante de um cardioversor desfibrilador implantável; são aqueles casos nos quais existe a possibilidade de uma arritmia fatal. Mas aqui estamos falando de outro tema, também muito interessante, que fica para a próxima!!!

*Dr. Rodrigo Otavio Bougleux Alo é médico cardiologista e ergometrista. Chefe da seção de Cardioesporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.