Saúde em Foco: O que as crianças deveriam aprender na escola

Por Dr. Eneas Rocco*

A educação formal constituiu-se desde sempre, no ensino das matérias mais básicas como a matemática, a linguagem, a história, a geografia e as ciências. Gradativamente, no entanto, o que se vê, é o papel da escola reduzir-se ao “ler e escrever”.

Eu tive uma professora de italiano que se chamava Maria Marini, que dizia uma frase inesquecível: “Dottore, o que as crianças têm para aprender, devem aprender até o quinto ano”. Essa ideia grudou na minha cabeça, feito aquela música que acordamos cantando, e que passa o dia nos perseguindo. Afinal, essa premissa faz todo sentido. Nos nossos primeiros anos, gravamos impressões e moldamos comportamentos, que ficam impregnados como um DNA do nosso humano. E daí para frente é só para lapidar; para o bem, ou para o mal!

Nossa educação, familiar e escolar deveriam complementar-se; os pilares do caráter e da virtude que poderão fazer de nós cidadãos dignos, são fundamentos aprendidos em casa através do convívio, do exemplo e das palavras ditas por nossos pais. O comportamento social, as leis de convivência, a compreensão do mundo, os compromissos conosco mesmos e com nosso próximo, deveriam em tese, ser compartilhados entre família e escola. E a escola poderia ter um papel especial, nestes tempos de pai e mãe tão ocupados durante o dia, e tão cansados à noite após a jornada de trabalho. Além do que, é na escola que começamos a viver em sociedade.

Vejamos o seguinte exemplo, que poderia receber um tratamento mais sério dentro da grade curricular; o deslocamento urbano. Podemos chegar em outro ponto da cidade de várias maneiras; de bicicleta, motocicleta, transporte público coletivo e privado, carro particular, a pé e às vezes por meio de uma combinação desses meios todos. Esse tema está muito presente em todos os dias de nossas vidas, e por isso mesmo mereceria uma disciplina escolar. O que se aplica à educação infantil de hoje são traços do que poderia ser essa matéria. 

Os riscos que corremos ao nos deslocar, vão desde a perda do horário de um compromisso, até outros maiores como atropelamentos, quedas, colisão, brigas, crimes. Tudo é possível acontecer quando saímos de casa, e nos tempos da covid, até o risco de contaminação por essa grave doença nós corríamos! 

O cenário desejável é que fossemos educados desde a infância a nos preocupar com a segurança; a nossa e a dos outros, quer estivéssemos a pé, de carro ou como fosse. Dirigir com prudência, sem desrespeitar as leis de tráfego é algo que deveria ser ensinado desde os primeiros anos de vida, e não quando da requisição da carteira de habilitação. 

Povos com tradição de respeito ao próximo, circulam de modo disciplinado, com atenção à sinalização, sem avançar o semáforo, sem atirar resíduos nas calçadas, dando prioridade àqueles em maior dificuldade, utilizando máscaras quando apresentam sintomas respiratórios. 

O respeito dá o tom, quando falamos de educação. E no caso brasileiro, não será com uma única geração de garotos e garotas bem treinados, que mudaremos nosso estigma. Estamos muito atrás!

A lista é muito longa quando tratamos de temas referentes à civilidade e à mudança de mentalidade e de atitude. 

A educação para temas de saúde, logicamente também poderia ser ministrada através de disciplina própria. Deveria ser papel da escola, ensinar os primeiros passos referentes à prevenção em relação aos cuidados com o nosso corpo. Esse não é um tema médico, é um tema educacional. Mas esse é assunto da próxima coluna! Bom fim de semana a todos!

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.