Saúde em Foco: Para que serve o teste ergométrico?

Por Dr. Eneas Rocco*

Nossa coluna de hoje para os leitores do Periscópio, foi o tema da semana para os especialistas em cardiologia. A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou a nova Diretriz Brasileira de Teste Ergométrico.

Diretrizes são documentos de grande importância para nortear a prática clínica, escritas por um conselho de especialistas que reúnem as melhores e mais atuais evidências da literatura médica sobre tópicos diversos. E 2024 começou pelo teste de esforço. 

Dentro da busca pelo diagnóstico, o Ergométrico teve seu desenvolvimento baseado na observação clínica, feita há cerca de um século, de que pacientes que manifestavam dor no peito ao executar esforços, apresentavam alterações simultâneas do eletrocardiograma nesse momento de ocorrência da dor.

Esses registros foram sendo obtidos de modo cada vez mais sistematizado, com o esforço sendo realizado em ambiente de consultório, no início utilizando-se degraus e posteriormente a bicicleta, até chegarmos nas esteiras que são hoje os ergômetros mais utilizados. O teste ergométrico é um exame de cargas crescentes, que por essa característica, permite situar os limites individuais.

O teste era aplicado inicialmente, buscando evidenciar essas alterações eletrocardiográficas que corroboravam o diagnóstico da origem cardíaca da dor. A evolução do método, permitiu observar que outras variáveis também tinham grande importância, como o comportamento da frequência cardíaca e da pressão arterial durante a realização do exame. As mudanças verificadas na fase de recuperação pós exercício, mostraram significado tão valioso quanto aquelas observadas no esforço. 

E ressalta-se nas últimas décadas, a tolerância maior ou menor que o paciente apresenta às cargas progressivamente maiores dos protocolos incrementais que utilizamos. Os estudos relacionados à sobrevida de pacientes submetidos ao Teste Ergométrico, deram conta de que os que toleravam maiores cargas de trabalho na esteira, eram os que tinham melhor prognóstico.

O teste ergométrico é um assunto bem familiar para as pessoas da idade adulta, porque já fizeram ou já ouviram falar desse exame. Alguns até querem fugir do exame porque acabam muito cansados. Pois bem, quando o teste ergométrico é bem feito, é para cansar mesmo!!!

À medida que surgiram novos exames de imagem, o teste ergométrico passou a ser utilizado em associação a esses métodos. Hoje temos o ecocardiograma de esforço, feito em equipamento próprio, a ergomaca, que o paciente realiza deitado, pedalando, enquanto o médico registra os movimentos do coração através do ecocardiograma. Esse tipo de avaliação permite obter as informações eletrocardiográficas, bem como as relativas à anatomia do coração e a contratilidade de suas paredes.

Outro método associado à ergometria, é a cintilografia de perfusão miocárdica. O paciente faz o teste de esforço, e recebe a infusão de um radiofármaco. Esse contraste, por suas características, permite diferenciar a difusão do oxigênio nas células miocárdicas, no repouso e no esforço, aumentando consideravelmente a capacidade diagnóstica do Teste Ergométrico simples.

Existe ainda um outro método muito usado para avaliar a capacidade física de pacientes com doença cardíaca e também em atletas, chamado ergoespirometria, que faz as medidas dos gases respiratórios enquanto o indivíduo pedala ou anda na esteira.

De forma muito sumária, estão aí algumas características desse método laboratorial, que proporciona ao clínico uma avaliação dinâmica, que vai muito além do exame físico tradicional, realizado com o paciente deitado e que durante séculos foi o recurso de que dispusemos para fazer diagnóstico. Bom fim de semana a todos.

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.