Saúde em Foco: Transtornos do sono

Há 54 anos, quando comecei meu curso de medicina, não havia muitas das especialidades existentes hoje. Diversas disciplinas médicas atuais, desenvolveram-se ao longo das décadas seguintes. 

Os conhecimentos sobre terapia intensiva, medicina do exercício, medicina do sono de anos atrás, eram meramente observacionais e dependiam do olhar e da experiência profissional dos médicos de então.

A medicina do sono, entre essas áreas do conhecimento, é das que mais se desenvolveu. As pesquisas nesse campo, permitiram correlacionar os transtornos do sono com doenças cardíacas, metabólicas e vasculares.

As alterações do sono deixaram de ser vistas como uma questão individual, para ganhar espaço como uma especialidade médica consolidada. Antigamente, o indivíduo que roncava durante o sono, era evitado pelos demais membros da família, porque incomodava a todos na casa e em nenhum momento era cogitada uma consulta médica. 

Entre os distúrbios do sono conhecidos, destacam-se a insônia e os transtornos respiratórios do sono. Outras frequentes alterações são o sonambulismo, a confusão mental ao despertar, a troca do dia pela noite, as movimentações constantes das pernas que denominamos de “pernas inquietas”, o bruxismo e o ronco. 

A insônia é definida como a dificuldade em conciliar e/ou manter o sono, bem como o despertar precoce. Sua origem pode ser uma resposta anormal ao estresse, mas também pode estar associada a certos transtornos psiquiátricos. As principais manifestações decorrentes da insônia, são a sonolência diurna, os distúrbios do humor, a falta de concentração, o prejuízo da memória e a fadiga física. 

Em relação aos transtornos respiratórios do sono, sua prevalência vem crescendo em decorrência do envelhecimento populacional e principalmente do aumento da incidência de sobrepeso e obesidade na população mundial. O incremento desses fatores predisponentes, e a disponibilização de meios de investigação, têm permitido ampliar o diagnóstico da apneia obstrutiva do sono (AOS). Um estudo epidemiológico realizado na cidade de São Paulo (SP) revelou uma prevalência de AOS de 32,9%.

O teste utilizado para diagnóstico dos transtornos respiratórios do sono é a polissonografia. Esse exame é composto por diversos registros simultâneos durante o período de sono como o eletroencefalograma, a oximetria de pulso, sensores de fluxo nasal e esforço respiratório e eletromiografia dos membros.

Existe correlação de diversas doenças cardiovasculares, com a AOS. Entre elas estão a hipertensão arterial, a doença das artérias coronárias, a insuficiência cardíaca e arritmias como a fibrilação atrial.

Os distúrbios do sono precisam ser tratados. Medidas de ordem geral como tratamento da obesidade, prática de exercícios, abandono do tabagismo são essenciais. Medidas mais específicas vão desde a adequação do travesseiro e posicionamento ao deitar-se, ao uso de medicamentos para melhorar a qualidade do sono, dispositivos respiratórios de pressão positiva denominados CPAP, e até mesmo determinados procedimentos cirúrgicos podem estar indicados em casos específicos.

Uma coisa é certa, a velha máxima de que a consciência tranquila é a garantia do sono dos justos, já não pode ser mais considerada tão verdadeira!!! Bom fim de semana a todos!

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.

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