Saúde em Foco: Trombose venosa: O que é e quais os seus riscos
Por Dr. Eneas Rocco*
Em nosso sistema circulatório, há dois tipos de vasos sanguíneos, cada qual com função específica; as artérias transportam o sangue oxigenado para os tecidos e as veias responsáveis pelo retorno do sangue para o coração. As artérias têm uma estrutura mais elástica e as veias, mais complacente.
O sangue que circula pelos vasos do corpo humano, tem seu estado fluido assegurado por alguns fatores: a integridade do revestimento dos vasos, uma velocidade normal do fluxo sanguíneo e taxas normais dos fatores relacionados à coagulação.
A formação de coágulos poderá ocorrer caso haja uma perda desse estado de equilíbrio ao qual chamamos de hemostasia, e pode ocorrer tanto nas artérias como nas veias.
Falaremos hoje da formação desses coágulos no interior das veias. Chamamos de trombose venosa profunda à formação de um coágulo de sangue (trombo) no interior das veias, provocando interrupção, ou severa limitação do fluxo de sangue. O local mais acometido são os membros inferiores, com uma prevalência de cerca de 4% da população em nosso meio.
Há diversos fatores de risco para a perda da hemostasia. Entre esses fatores destacam-se as próteses de quadril, as cirurgias ginecológicas, as viagens aéreas de longa duração como consequência da estase circulatória, tumores malignos produtores de substâncias que aumentam a coagulabilidade do sangue, obesidade, tabagismo, uso de certos medicamentos como os anticoncepcionais hormonais e o tamoxifeno, insuficiência cardíaca, gravidez, idade acima de 60 anos. As varizes aumentam as chances de trombose especialmente quando associadas a outros fatores de risco.
A oclusão de uma veia, impede a livre circulação de sangue por essa via, obrigando o organismo a lançar mão de outras trajetórias, em geral, através de vasos mais finos resultando em lentidão do fluxo de retorno venoso ao coração e por consequência a presença de inchaço e dor no membro em que houver a injúria. Outras manifestações da trombose incluem a mudança de temperatura e coloração da extremidade. Há casos que não manifestam sintomas dependendo do calibre da veia acometida e do grau de oclusão.
O diagnóstico poderá ser confirmado através da realização de exames de imagem, como o doppler venoso.
A complicação temida da trombose venosa profunda é o deslocamento desse trombo para uma artéria pulmonar, causando a embolia pulmonar, que se caracteriza por intensa falta de ar de início repentino, dor torácica e que em casos graves pode levar à morte. As tromboses venosas que ocorrem nas veias mais próximas dos membros inferiores, como as veias poplíteas e femorais são as que oferecem maiores riscos de desprender coágulos, com elevada incidência de embolia pulmonar.
O tratamento da trombose venosa profunda tem como principal objetivo, a redução das chances de embolia pulmonar. Dessa forma, o uso de anticoagulantes se destaca como medicamento fundamental nesses casos. Os anticoagulantes, são substâncias capazes de dissolver o trombo. É essencial que nos primeiros dias da anticoagulação, seja mantido o repouso no leito, para evitar o deslocamento do trombo.
E a mensagem que sempre é preciso transmitir, é que também nestes casos, são possíveis as ações preventivas; cuidados pré-operatórios com uso profilático de anticoagulantes, abandono do tabagismo, tratamento da obesidade, uso de meias elásticas para evitar o fluxo lentificado do sangue nos membros inferiores, são algumas das medidas que se pode adotar, para reduzir o risco da trombose venosa. Boa semana a todos.
*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.