Setembro Amarelo: profissional destaca importância da campanha de prevenção ao suicídio
Neste mês acontece a campanha “Setembro Amarelo”, ação nacional de prevenção ao suicídio e que busca combater as questões de saúde mental que envolvem esse problema de saúde pública. No Brasil, dados recentes do Ministério da Saúde, apontam que ocorrem mais de 30 casos de suicídio por dia, com estimativa de aproximadamente 14 mil por ano. Entre as vítimas, mais de 75% são homens. A reportagem conversou nesta semana com a Dra. Angélica Soares, psicóloga e especialista em saúde mental. Ela comenta sobre a importância da campanha, que de acordo com ela é “uma oportunidade de falarmos sobre suicídio sem estigmas ou tabus”, porém “não deve restringir-se a este mês, a atenção ao tema deve ser contínua, uma vez que os índices de suicídio continuam aumentando e o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial”.
A profissional aponta que no mês de campanha, existe uma procura maior por auxílio. “Fico extremamente feliz por isso. Embora a maioria das pessoas seja muito bem-intencionada, profissionais da saúde mental tem ferramentas aprendidas em sua formação para lidar com transtornos que podem levar ao suicídio, bem como manejos adequados em casos de tentativas e acompanhamento terapêutico. O tratamento psicológico é indispensável”, destaca.
A psicóloga explica que a principal ferramenta que pode ser utilizada para combater o suicídio é a conscientização. “As pessoas precisam saber que as crises, angústias, aflições psicológicas e transtornos mentais são naturais do ser humano e que pensar em morrer é uma ideia que perpassa pelo imaginário, já que representa uma tentativa de fuga de tal situação”.
“O sinal de alerta é quando isso se torna um pensamento permanente e surgem as ideações e planejamentos. Se a ideia de suicídio é interessante pra você, é hora de procurar ajuda especializada. Reconhecer-se ou reconhecer amigos e familiares em dificuldades psicológicas, identificar possíveis transtornos e não banalizar ou minimizar a dor do outro são formas de prevenir as tentativas. Saúde mental deve ser nossa prioridade”, reforça Dra. Angélica.
Muitas pessoas têm dificuldades em procurar ajuda e de acordo com a profissional isso se dá, pois somos culturalmente condicionados a solucionar nossos problemas Sozinhos, porém conversar com pessoas despreparadas pode piorar essa percepção. Por isso, a especialista aponta que é necessário compreender que o profissional psicólogo tem compromisso ético com o sigilo de seus atendimentos e se permitir falar sobre suas aflições, alivia e auxilia no autoconhecimento.
“Isso é imprescindível nos processos de cura e bem-estar. Muitas pessoas esperam chegar aos momentos mais críticos para buscar acompanhamento psicológico, quando na verdade poderiam iniciar bem antes, promovendo sua saúde mental e qualidade de vida”.
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a participação de 188 mil jovens, 20% das vítimas de bullying se deparam com pensamentos suicidas. O Anuário 2023 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicou que 38% das escolas brasileiras registram casos de bullying, o que reforça o alerta de que o bullying é um problema nacional e fator determinante no suicídio entre a população jovem.
Ainda sobre a questão do bullying, a situação é ainda mais preocupante envolvendo a comunidade LGBTQIA+, afetada pela discriminação. Uma pesquisa realizada pela revista científica americana “Pediatrics” revela que 62,5% do desse público já pensou em suicídio e tem seis vezes mais chances de tirar a própria vida em comparação com a população que se denomina heterossexual. O risco de suicídio aumenta em 20% quando vivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Dra. Andreia também comenta ao JP a respeito do tema. “Todo preconceito é um comportamento aprendido. A escola tem a função de detectar tais comportamentos e extingui-los, favorecendo a cultura da paz e da tolerância. A conscientização e sensibilização da aceitação das múltiplas formas de ser e se reconhecer no contexto escolar, possibilita que as crianças questionem os comportamentos preconceituosos e não os reproduzam.”
“Interessante também formar entre as crianças, adolescentes e jovens, agentes na luta contra o bullying. A comunidade LGBTQIAP+ deve ter acesso à atendimento especializado, uma vez que possui especificidades que precisam ser atendidas com mais cuidado, tais como traumas e histórico de sofrimento psíquico oriundo dos preconceitos que sofreram”, reforça a psicóloga.
“Como mensagem final, gostaria de enfatizar a importância de observação de amigos e familiares com comportamento indicativo de depressão e buscar ajuda o mais rápido possível”, conclui a profissional.
Como auxílio emergencial, temos o serviço do CVV – Centro de Valorização da Vida através do telefone 188 e também com atendimento online. Orientações psiquiátricas e psicológicas também são necessárias na maioria dos casos, com um índice de sucesso e preservação da vida.