Solicitada ao Governo do Estado a intervenção no Hospital São Camilo
Vice-governador do Estado recebe documentação do vereador Matheus Costa para a retomada da gestão direta do Estado, visando um atendimento digno à população
O vice-governador Márcio França recebeu nesta quinta-feira (23) o pedido para que o Estado retome, diretamente, a intervenção no Hospital São Camilo de Itu, tendo em vista a situação, cada vez mais crítica, do atendimento que vem sendo oferecido aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). O dossiê, levantado pelo vereador Matheus Costa (PHS) a partir das inúmeras denúncias que chegam ao seu gabinete no Legislativo, foi elaborado junto com o Executivo municipal e encaminhado por meio de uma carta ao governo de São Paulo. Por questões de agendamento, a documentação foi entregue pelo vice-prefeito Neto Beluci ao vice-governador, durante a audiência.
De acordo com o vereador, a Sociedade Beneficente São Camilo administra o hospital desde 2009, mas não cumpre com as suas obrigações nem quanto ao Pronto Socorro (fechado há cerca de dois meses) nem quanto à manutenção dos leitos SUS, uma vez que vem extinguindo o número de leitos e demitindo funcionários. Ele cita uma sucessão de episódios que resultam, a cada dia, no desrespeito à saúde dos cidadãos.
Pelo levantamento feito na Câmara, o hospital demitiu 94 funcionários desde o final de 2015 até este mês de setembro. Dos 175 leitos SUS que o hospital dispõe, foram fechados 30% na área clínica, 30% na maternidade e 20% na UTI neonatal. Além disso, a pediatria tem apenas 4 leitos SUS e, no entanto, foi apurado que nada disso foi informado ao DRS (Departamento Regional de Saúde).
“O hospital encerra suas atividades de porta aberta de pronto atendimento ao usuário SUS, atendendo apenas convênios e particulares, resultou disso que as necessidades da rede de urgência e emergência passassem a ter outro fluxo de entrada, sendo a unidade hospitalar apenas referencia para este serviço”, ressalta o vereador.
Num primeiro momento, o hospital conseguiu tirar o PAM (Pronto Atendimento Municipal) de dentro de suas instalações. Isso aconteceu em maio deste ano, quando a Prefeitura foi obrigada a readequar o serviço no PAM do Rancho Grande até que o PAM do Parque Industrial abrisse as suas portas, no mês passado. A direção do hospital queria um aumento de mais de 100% no repasse que a Prefeitura realizava mensalmente para manter o Pronto Atendimento lá dentro, o que se tornou inviável.
Depois, vieram os problemas com o Pronto Socorro e, agora, com o fechamento dos leitos SUS. “Essa situação reflete o enorme descaso e prejuízo para a população de Itu e região”, diz o documento. Ainda no dossiê encaminhado ao governo do Estado, consta expressamente que “isso significa retroceder, é uma desumanização, somada ao risco de morte, risco de condições subumanas na atenção hospitalar para os pacientes/usuários SUS dependentes de uma cidade de 170 mil habitantes”, acrescenta Matheus.
Casos de destrato no atendimento
No dossiê elaborado pelo parlamentar, ele cita casos que refletem o retrocesso que o São Camilo está causando na saúde de Itu. Sem citar nomes, em preservação à identidade dos pacientes, há casos como o de uma gestante que procurou a maternidade e foi encaminhada ao PAM para ser avaliada em trabalho de parto, com fortes dores e não foi aceita pela maternidade que era porta de entrada, aberta para o SUS. Este bebê nasceu na ambulância.
Há também o caso do paciente que deu entrada no PAM enfartando e o médico consegue interná-lo no hospital após três dias de espera e sendo medicado e acompanhado no PAM. E do paciente que chega ao PAM numa sexta às 17h com fortes dores abdominais, náuseas, vômito com fezes devido a uma obstrução intestinal, sem diagnóstico fechado, e aguardou no PAM 23 horas para ser internado e foi fazer a intervenção cirúrgica na segunda-feira às 15h. Um tumor de intestino era a causa da obstrução.
Outro caso dado como exemplo é o de uma senhora de 82 anos de idade, com fratura de fêmur, levada ao hospital e o mesmo não permite sua a entrada, encaminhando para o Conjunto Hospitalar de Sorocaba em ambulância.
Histórico da intervenção
A intervenção estadual na gestão da Santa Casa de Misericórdia de Itu ocorreu em 1991, por solicitação do prefeito da época, Sergio Previdi, com o propósito de garantir ao povo ituano a dignidade de ter o seu único hospital novamente de portas abertas ao usuário SUS. “Nesta proposta, o Estado exerceu uma de suas melhores gestões públicas hospitalares por ininterruptos quinze anos, atendendo e ampliando o papel de gestor do cuidado de maneira exemplar”, diz a carta.
Passados esses anos, a Organização Social Sanatorinhos assumiu a gestão da Santa Casa de Misericórdia de Itu, sob intervenção estadual, não conseguindo exercer o pleno pacto estabelecido no processo, passando a administração a também mantenedora OSS – Sociedade Beneficente São Camilo, que segue na gestão até os dias atuais.
A Sociedade Beneficente São Camilo, através do pacto pela saúde, regionalizou os leitos SUS em sua totalidade (UTI adulto e pediátrico, Centro Cirúrgico, Leito Cirúrgico, Leito de Clínica Médica, Maternidade, Pronto-Socorro), para os quarenta e oito municípios pertencentes à DRS XII (Diretoria Regional de Saúde).