Tudo bem não ter opinião para tudo
Por André Roedel
Com o advento da internet… Bem, você já deve ter lido diversos textos iniciados assim. É um grande clichê, mas a rede mundial de computadores realmente mudou nossa maneira de agir, de pensar e até de opinar. Até porque hoje é necessário ter opinião para tudo, principalmente de assuntos que você não domina ou que nem ouviu falar. De economia à física quântica, é possível ver o comentário de alguém nas redes sociais – mesmo que esse alguém nem o ensino fundamental completo tenha, com todo o respeito.
Acho importante que as pessoas tenham um posicionamento perante assuntos polêmicos. É necessário para manter viva a nossa democracia e permitido pela liberdade de expressão. Porém, há certos temas que requerem mais aprofundamento para se dar um parecer. Necessitam de uma base, um estudo maior. Como é o caso, por exemplo, da famigerada PEC 241, a “PEC do Teto”.
Tão comentada no noticiário político e econômico da grande imprensa brasileira atualmente, a proposta de emenda constitucional proposta pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB) – que estabelece um teto para o aumento dos gastos públicos pelas próximas duas décadas – é um assunto complexo até para especialistas que falam o velho “economês”. Então não vai ser aquele amigo de Facebook que você mal conhece que terá a verdade absoluta sobre ele, não é mesmo?
Nem eu, que trabalho com comunicação e li um punhado de artigos sobre, cheguei a uma conclusão decente sobre esse tema. Então está tudo bem se você também não tiver a sua ainda. A única preocupação que você deve ter nesse momento é a de não ser induzido pelo pensamento de outros. Acreditar que, se seu colega mais estudado tem um determinado posicionamento, é este que deve ser seguido. Não é bem assim.
Questione sempre. Talvez esse seja o mantra para essa década de desinformação que vivemos. Não acredite em qualquer coisa jogada nas redes sociais. Vá atrás das fontes, compare opiniões, cheque e veracidade dos fatos. Desperte o lado jornalista em você e, assim, vá moldando sua opinião – que também pode mudar à medida que novos dados e informações vão surgindo, claro.
A menos que você seja um profissional que trabalhe com opinião, não é necessário palpitar sobre tudo. O mundo não vai acabar se seus amigos não lerem seu pitaco – e esse é um conselho que eu mesmo devo seguir com mais atenção, pois acabo muitas vezes discutindo com pessoas queridas por uma bobagem.
E esse é um dos grandes perigos de querer opinar sobre tudo: criar atritos desnecessários. Vivemos uma era em que o amor ao próximo virou apenas uma falácia, então basta qualquer divergência (política, sobretudo) para atiçar um incêndio. Também há o perigo da opinião sem fundamento, baseada em achismos. Esse tipo pode causar feridas ainda mais sérias, como a ruína da carreira de alguém ou fazer com que um povo eleja um fascista.
Por isso, reitero: se não for extremamente vital, guarde sua opinião para você. No máximo, compartilhe com seus amigos mais próximos numa conversa descompromissada em torno de uma mesa de bar. O impacto negativo de um palpite mal colocado na internet – ou em qualquer outro lugar, até nas páginas de um jornal – muitas vezes supera os pontos positivos. Pense nisso.