Prefeito Tuíze abre o jogo: “Dei a volta por cima e trabalhei por Itu”
Perto de encerrar o seu mandato à frente da Prefeitura de Itu, o prefeito Antonio Tuíze atende o Jornal Periscópio em seu gabinete e concede entrevista onde fala dos principais temas que nortearam o seu governo até aqui. Tuíze respondeu a questões como a ruptura com Herculano Passos, as dificuldades que enfrentou durante a crise da água, as alternativas encontradas para driblar a crise econômica, os avanços que cravou durante o seu mandato e também comentou sobre como lida com as críticas: “Não sou candidato a nada, mas não me arrependo, fiz o que pude e faria tudo outra vez se fosse preciso”, desabafa.
JP: Nesses últimos anos, assistimos a uma transformação sem precedentes na história recente do Brasil em se tratando de política, economia e democracia. Passamos de um levante histórico sem igual, daquele 20 de junho de 2013, quando brasileiros foram às ruas clamar por dias melhores, seguido de manifestos por toda a parte e presenciamos, mais recentemente, o afastamento da presidente da República. Os governos municipais sofreram – e ainda sofrem – os reflexos dessa ciranda de imundícies que tomou conta da política. Como o senhor analisa isso, do ponto de vista de quem governa?
Tuíze: Eu vejo que essa ciranda a qual você se refere, eu vejo como um ciclo. Um ciclo que, se de um lado nos traz a sensação de retrocesso, que o país como um todo estaria caminhando para trás, de outro é uma fase que anuncia novas formas de se governar e de se fazer política. O Brasil está sendo passado a limpo. Por inúmeras vezes, inclusive em entrevistas que já concedi, eu costumo dizer que não sou político. Muitas vezes, recebo pessoas aqui em meu gabinete e quando digo isso, sinto o olhar estranho de algumas pessoas. Elas devem estar se perguntando: se não é político, como é prefeito, então? Não me sinto parte dessa política, não me considero um articulador, não tenho essa habilidade. Sou engenheiro e talvez por pensar como engenheiro e como administrador eu não me importei com muita coisa. Como prefeito, apenas foquei em realizar o que era possível realizar, sem mesmo fazer alarde dos nossos feitos, como a maioria faz. Penso que nesse processo evolutivo pelo qual o país atravessa, a duras penas, vamos conseguir avançar para, se não banir, renovar a política. Hoje as pessoas, felizmente, estão muito mais atentas, mais posicionadas, mais esclarecidas. Enfrentamos logo no início do meu governo os reflexos dessa ciranda em ebulição. Tivemos aqui na Prefeitura as manifestações do movimento vem pra rua. Estiveram aqui, acampados. Foi o primeiro momento tenso, quando tivemos que usar de habilidade e bom senso para superar.
JP: E qual seria o segundo momento tenso do seu governo? Foi a crise da água? O que veio primeiro, a ruptura de Herculano Passos ou a falta d’água em 2014?
Tuíze: Olha, a crise hídrica foi, sem dúvida, o momento mais difícil de todo o governo, eu diria que, do ponto de vista pessoal, o momento mais difícil que enfrentei em minha vida. Sofri como todos os moradores. Fiquei sozinho, sem apoio, deu para contar nos dedos da mão as pessoas que estiveram ao meu lado, além é claro, da minha família. Enquanto muitos chegavam a colocar nas redes sociais que eu estava tomando banho de banheira, eu passava dias e noites pensando em alternativas para trazer mais água para a cidade. Montamos um enorme sistema de emergência que injetava 6 milhões de litros de água por dia na cidade, com água transportada de outras cidades e captadas junto a poços e represas particulares. Foi o suficiente apenas para manter os serviços essenciais funcionando, as escolas, postos de saúde, repartições públicas. Imagine se as crianças tivessem que ficar em casa, com escolas fechadas, o consumo seria muito, mas muito maior. Enfim, esta é uma página muito dolorida para reler. Mas, em meio a isso tudo, eu fui buscar alternativas e, dentre elas, não apenas as paliativas, mas as definitivas, com o projeto da Adutora Mombaça, hoje em pleno funcionamento, assim como o projeto da Adutora Cajuru, que já está em andamento, é um legado do meu governo. Essas duas obras importantíssimas para garantir a segurança hídrica para Itu nasceram no meio desse enorme sofrimento. Então, eu prefiro ver, em tudo, o lado bom. Eu agradeço a Deus todos os dias por ter me dado sabedoria e força suficientes para encontrar soluções. Deus quis que eu passasse por isso, como prefeito em meio àquela crise, mas me deu coragem e força para continuar lutando. “Dei a volta por cima e trabalhei por Itu”. Ou “Superei o isolamento e trabalhei por Itu”.
JP – Existem acusações de que o Mombaça não estaria, de fato, concluído. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Tuíze: São acusações inverídicas, atitudes daqueles que ainda não se conformaram com a grandiosidade do Mombaça, com a segurança hídrica que a adutora representa para a nossa cidade. A Prefeitura acompanha e fiscaliza todas as realizações dos serviços de água e esgoto do município, que agora estão a cargo da empresa Eppo Águas, que tem a obrigação de manter e operar o sistema. Além disso, hoje os reservatórios da cidade operam com mais de 95% de sua capacidade.
JP: Como surgiu a ideia da nova adutora no Pirapitingui? Quem foi responsável pelos estudos de viabilidade do projeto?
Tuíze: A ideia de captar água bruta da represa Cajuru surgiu no auge da crise hídrica. a ocasião, a represa, localizada as margens da rodovia Castello Branco, serviu para a retirada de mais de 1 milhão de litros de água por dia, que era destinado até a ETA VIII – Pirapitingui através de carretas tanques. Foi então que iniciei os estudos para a captação definitiva nessa barragem, com previsão de captação de 30 a 50 litros por segundo, gerando um incremento de 108 metros cúbicos por hora na Estação do Pirapitingui. Através de levantamentos realizados foi possível dimensionar a extensão da adutora, com pouco mais de 6 km. A Adutora Cajuru está em andamento. No início deste mês, o anteprojeto foi finalizado e será encaminhado ao DAAE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) do Estado para os trâmites burocráticos necessários, visando a liberação para o início efetivo das obras.
JP – Além do problema da falta de água, outro assunto que recentemente ganhou destaque na imprensa local foi o fim do Pronto Atendimento do São Camilo. Por que o fechamento ocorreu?
Tuíze: A Sociedade Beneficente São Camilo queria um reajuste de mais de 100% sobre o valor do convênio para a prestação dos serviços do PAM (Pronto Atendimento Municipal) e, obviamente, a Prefeitura não teve como atender esse reajuste tal alto assim. Diante disso, ao contrário do que foi dito, não houve fechamento do Pronto Atendimento em Itu, mas sim a transferência do serviço que funcionava dentro do São Camilo para um outro endereço. A princípio, o PAM funcionou no bairro Rancho Grande, em caráter provisório até a abertura do PAM do Parque Industrial, no começo de agosto. O novo PAM foi construído com recursos próprios do município, totalizando um investimento de mais de R$ 2 milhões, e conta com dois pavimentos distribuídos em 2.193.17 metros quadrados de área construída. No térreo há salas de espera, de atendimento odontológico, pré-consulta, consultórios, inalação, aplicação de medicamentos e reidratação, gesso, raio-x, farmácia, eletrocardiograma, postos de enfermagem e prescrição médica, além de salas de emergência, observação feminina, observação masculina, observação individual, esterilização, posto policial, quartos para plantonistas e acomodações para servidor, almoxarifado e administração. O PAM foi construído de acordo com os padrões técnicos exigidos pelo Ministério da Saúde, atende 24 horas por dia, com capacidade para 10 mil atendimentos por mês. O serviço de pronto atendimento destina-se ao atendimento a urgências, ou seja, ocorrências que não envolvam risco de morte ou de lesão irreversível no paciente como, por exemplo, casos de dores abdominais, cólicas renais, dores de cabeça, vômitos, diarreias, crise de hipertensão e situações de baixa e média complexidade ou que necessitem de procedimentos como suturas, curativos, injeção e inalação. Atualmente a equipe do PAM do Parque Industrial é formada por 4 médicos clínicos, 4 médicos pediatras, 9 enfermeiros, 21 técnicos de enfermagem, 6 recepcionistas, 3 auxiliares administrativos, 10 profissionais no setor de limpeza e 6 pessoas no setor de segurança. A cada plantão de doze horas atuam, no PAM do Parque Industrial, 2 médicos clínicos, 2 médicos pediatras, 2 enfermeiros e 5 técnicos de enfermagem.
JP – Em entrevistas anteriores, o senhor comentou que está prevista, ainda no seu mandato, a inauguração da 1ª UPA 24h do município. Quando isso deve ocorrer e quais os ganhos que esse novo equipamento trará para o ituano que depende da saúde pública municipal?
Tuíze: Sim, vamos entregar ainda em 2016 a primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) da cidade, que está sendo construída na Avenida Nove de Julho, 691, no Bairro Nossa Senhora Aparecida. Com mais de 1.300 metros quadrados, o prédio pode atender cerca de 500 pessoas por dia e terá dois pavimentos. Houve um investimento de mais de R$ 3 milhões para esta nova unidade, que contará com equipamentos de radiologia, eletrocardiografia e laboratório, além de uma sala para gesso/fratura. Eu posso assegurar com tranquilidade que sempre dei muita atenção para a área da saúde. Nos primeiros oito meses de governo, além da verba para construção da UPA, consegui recursos federais de aproximadamente R$ 1,7 milhão para construção, ampliação e reforma de Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Como parte da aplicação dessa verba, estamos construindo UBSs nos bairros São Camilo, Portal do Éden e Dona Tonica. Em relação às reformas, promovidas por meio dessa verba, foram contempladas as Unidades situadas nos bairros Santa Terezinha, São Luiz e Novo Mundo. Esse recurso está sendo utilizado ainda para as obras de ampliação da UBS do bairro São Judas Tadeu, que deve ser concluída em breve. Também em 2013, conseguimos verbas junto ao Ministério da Saúde a implantação do Laboratório Regional de Prótese Dentária, que aconteceu no ano passado.
JP – Na Educação, o senhor também enfrentou dificuldades. A questão das vagas em creches, que é uma preocupação constante das mães, está resolvida?
Tuíze: Desde 2013, para atenuar uma demanda crescente da ordem de três mil vagas, geradas principalmente em virtude da maior participação da mulher no mercado de trabalho, a administração municipal trabalha para minimizar cada vez mais este déficit. Entregamos neste período cinco novas creches, mais a ampliação de uma unidade. Entregaremos ainda neste ano mais uma creche, totalizando 6 creches novas desta administração, somando cerca de mil novas vagas, todas com berçários. Aproveitando o assunto da Educação, gostaria de ressaltar um fato importante, que é a implantação do Sistema Anglo para os estudantes da rede municipal de ensino. Cerca de 15 mil alunos nossos passam a ter acesso a um dos melhores e mais completos materiais pedagógicos, proporcionados por um dos mais conceituados sistemas de ensino do país. Que cidade que não gostaria de ter um sistema Anglo, gratuito, para os seus alunos? Pois nós temos.
JP – Uma das principais reclamações dos ituanos – e que inclusive é abordada em todos os planos de governo dos candidatos à Prefeitura – é a quantidade de buracos existentes no asfalto da cidade. Por que isso ocorre?
Tuíze: A Prefeitura utiliza cerca de 11 toneladas de asfalto por dia na operação tapa buracos. Mas o desgaste das vias asfaltadas em Itu é agravado em algumas regiões pelo tipo do solo da cidade, que oferece grande deformidade, comprovada em estudos geológicos. No entanto, existem métodos de pavimentação específicas para esse tipo de solo que garantiriam um asfalto mais duradouro e adequado ao perfil do nosso município. Infelizmente, ao longo de nosso mandato, não conseguimos os repasses necessários para a efetivação dessas obras. Além dessa questão do asfalto, cuidamos também da Zona Rural. O trabalho é realizado diariamente e intensificado em períodos de chuva nos mais de 600 quilômetros de estradas de terra. Isso inclui manutenção de pontes, limpeza de mato nas laterais da pista e nivelamento do solo.
JP – A entrega dos Alpes I e II foi o suficiente para acabar com as favelas da cidade?
Tuíze: Sim. Conseguimos, com a entrega dos 600 apartamentos do Conjunto Habitacional Alpes I e II, acabar com as favelas dos bairros Novo Itu, Canguiri, Chácaras Bar e Cachoeirinha, entre outros pequenos núcleos. Os trâmites para construção Começaram em 2013 e a entrega dos apartamentos ocorreu em fevereiro deste ano. Foi, sem dúvida, uma das minhas maiores satisfações como administrador público, poder entregar uma moradia digna, um apartamento com 54 metros quadrados, com acabamento muito bem feito. Além disso, no último mês de junho, assinei mais um convênio com o governo do Estado, para a construção de novas moradias em Itu, visando completar a segunda etapa habitacional da Vila Lucinda, que também foi um compromisso que assumi.
JP – Se pedissem ao senhor para citar as principais ações do seu governo, o que mais incluiria, além do Mombaça e dos investimentos na área da saúde, educação e habitação que já foram citados.
Tuíze: Olha, tem muita coisa. Por exemplo, as sedes próprias da Guarda Civil Municipal, do Grupo da Melhor Idade e da Funerária. Tudo isso com recursos próprios da Prefeitura, somando cerca de R$ 6 milhões. Tem os três parques ecológicos, o Taboão (no Novo Centro), Chico Mendes (na Cidade Nova) e Almeida Júnior (próximo ao shopping). Também participamos do restauro do maior patrimônio histórico da cidade, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária. Tem também o videomonitoramento, que reduziu em 92% a criminalidade nas áreas cobertas pelo sistema. Criamos o Canil da GCM, que conta com cães e guardas municipais treinados pela Companhia de Defesa Química, Biológica e Nuclear da Marinha do Brasil, em Aramar. Em 2014, durante a Copa do Mundo, sediamos duas delegações (Rússia e Japão) e graças a isso conquistamos melhorias para o Estádio Municipal “Novelli Júnior” com revitalização do gramado do campo principal e construção de dois novos campos de treinamento. Tem ainda os sete ecopontos na cidade, com o objetivo de evitar o despejo de entulho em áreas impróprias e direcionar esse material para local apropriado. Ainda no que se refere à nossa política de gestão de resíduos sólidos, considerada modelo no Brasil e no exterior, inovamos com a implantação de oito contêineres subterrâneos em 2015. Fizemos a canalização dos córregos urbanos do Taboão, Guaraú e Brochado, junto à reestruturação dos piscinões de contenção de enchentes no Jardim Faculdade e na Villa Gatti. De 2013 até agora, houve um investimento de mais de R$ 13 milhões para a melhoria da frota do transporte público com a entrega de 30 novos ônibus à população. No ano passado, entregamos também um novo portal de acesso na Rodovia Convenção. Agora em setembro devolvemos à população a oportunidade de desfrutar de um conhecido e tradicional imóvel de nossa cidade. O Espaço Ituano de Turismo e Cultura funciona no prédio do antigo Ituano Clube e está aberto para visitação gratuita. No local estão a Central de Apoio ao Turista, o Museu e Arquivo Histórico Municipal de Itu, o Museu de Arte Sacra e o memorial do Ituano Clube, com exposições.
JP – A crise está afetando diretamente os municípios, o que a sua administração tem feito para driblar a crise? O senhor vai fechar as portas no vermelho em dezembro? O 13º salário dos servidores está garantido?
Tuíze: De fato a crise econômica tem afetado todos os municípios. Para driblá-la, muitas medidas foram tomadas desde 2015, como por exemplo a readequação de cargos comissionados, o que garantiu uma economia de mais de R$ 1 milhão no ano. Além disso, eu posso afirmar que a prefeitura está ciente do momento delicado que estamos vivendo e, por isso, está tomando todas as providências possíveis para assegurar que as contas serão fechadas no final deste ano, sem pendências para a próxima administração. Com relação ao 13º salário dos servidores, ele também está garantido. Eu costumo dizer que os funcionários da prefeitura são meus primeiros fornecedores e, portanto, o pagamento de salários e demais direitos sempre foi uma prioridade pra mim.
JP – Mas o senhor falou de tudo, respondeu às nossas perguntas sobre várias áreas, mas não falou da ruptura. Eu volto no assunto: O Herculano o acusou – e isso foi inclusive manchete de nosso jornal na época – de ser o único culpado pela crise da água…
Tuíze: Como eu falei na época a vocês. O tempo é o senhor da razão. Nunca acusei ninguém, nunca falei mal de ninguém, nunca usei dessa política, por isso saio, agora em dezembro, termino meu mandato de cabeça erguida. Dei a volta por cima e trabalhei por Itu. O tempo é realmente fantástico. Se você olhar apenas para um recorte no tempo, as coisas geralmente não são como são. Um pouco mais de tempo e já temos a noção suficiente para olhar, com uma visão mais justa, sobre a realidade, sobre o que efetivamente impacta na vida das pessoas. Afinal, é para as pessoas que um governante tem que voltar o seu governo. Os meses se passaram, na verdade um ano passou e conseguimos, com dificuldades, após a intervenção na concessionária Águas de Itu, entregar o Mombaça para a região central da cidade. O tempo vai passar mais um pouco e, seja quem estiver aqui nesta cadeira, no ano que vem, terá a adutora Cajuru para a região do Pirapitingui. E quando o tempo passar mais ainda, eu quero que meus netos possam olhar e reler esta página com muito orgulho. E saber que o então prefeito Antonio Tuíze deu a sua colaboração para a nossa querida Itu.