Um “Novo” Carnaval
J.C. Arruda
Ah, mas foi demais! Imagine você que me lê, a emoção que senti agora, no outono da vida, ao estar num camarote com mil mordomias assistindo o Desfile do Grupo Principal do Carnaval Carioca na internacionalmente famosa Sapucaí.
Alguém poderia supor que a majestosidade das Escolas de Samba, a Beija Flor principalmente, foi o que mais me impressionou. E foi mesmo. Mas, o que mexeu mesmo com os meus sentimentos, com a minha saudade, foi o “novo” carnaval carioca. O “novo” está entre aspas porque, na realidade, o Rio de Janeiro está retomando seus antigos carnavais, ou seja, resgatando os blocos populares do tipo “vai quem quer”. Mais ou menos como já foi o Bloco do R em Itu nos áureos tempos, só que multiplicado por cem, por mil, sei lá! Só num dos blocos, o maior deles, o “Cordão do Bola Preta”, havia mais de dois milhões de foliões, entre homens, mulheres, Tico-Ticos no Fubá etc.
Só que com essa multidão, o Bola Preta tornou-se inviável. A maioria dos foliões sequer consegue ouvir a banda durante o desfile. Em comparação, existem outros 500 blocos distribuídos pelos bairros cariocas. Não, você não leu errado não. São quinhentos blocos! Virou uma febre no Rio de Janeiro. Nesses, nós de Itu chegamos até ensaiar uma participação modesta, tentando manter algum rítmo nos pés e nos desajeitados movimentos do corpo meio que enferrujados . Enfim, quebrou o galho e nos deu até alguma euforia.
Fico até torcendo para que a Prefeitura de Itu se atualize no futuro com relação ao Carnaval, incentivando a formação desses blocos, a partir do Bloco do R que também vai precisar se modernizar com instrumentos de sopro (saxofones, pistons) e até mesmo o indispensável cavaquinho. A nova moda dos blocos, faz os foliões cantarem as antigas marchinhas tipo “Dá um dinheiro aí” – “Mamãe eu Quero” e outras. Tenho a convicção de que o povo, principalmente a juventude, vai adorar participar, sem excluir famílias inteiras com pai, mãe, filhos, avós e até mesmo a sogra… se for o caso. Afinal, serão os grupos que formarão o bloco e cada grupo criando sua própria fantasia, de pierrôs, colombinas, piratas, borboletas etc.
Aliás, no Rio cada bloco tem seu nome e cada nome é inspirado no bom humor carioca. Por exemplo, tem o “ Suvaco de Cristo” que é formado pelos moradores do Bairro Laranjeiras, o qual fica sob a estátua do Cristo Redentor; tem o “Bloco das Carmelitas”, que reúne a comunidade de Santa Tereza, onde fica um convento de freiras; tem também o já famoso “Simpatia é Quase Amor” criado por intelectuais de Ipanema; ia me esquecendo de um bloco formado por gays assumidos que foi batizado como “Me Atirei no Pau do Gato” relembrando aquela musiquinha infantil. Só não entendi até agora, foi um bloco formado por jovens alpinistas que, nos fins de semana, fazem escaladas buscando o pico da Urca, ou o cume do Pão de Açúcar, ou os píncaros da Pedra da Gávea. Eles estrearam neste carnaval lançando o bloco “Só o Cume interessa”.