Um novo Obama
Por André Roedel
Em 2008, o então candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais norte-americanas Barack Obama revolucionou o modo de se fazer campanha política. Apostando muito nas redes sociais (que ainda engatinhavam) e numa propaganda convencional mais moderna, o hoje presidente da maior potência mundial inspirou centenas de milhares de outros políticos planeta afora. Todos querem ser o “novo Obama”.
Porém, boa parte desses candidatos que se inspiram no democrata não tem a principal qualidade dele: seu peculiar carisma. Falta aos aspirantes a cargos públicos a mesma facilidade em falar com as pessoas e de tratar de temas difíceis como Obama faz com maestria. A situação fica mais desesperadora quando a gente traz essa comparação para o cenário da política nacional.
Por aqui, a coisa só piora. Estamos longe de termos um político sequer próximo do presidente dos EUA. Muita gente tentou, mas parou na propaganda – o “Yes, We Can” (“sim, nós podemos” em português) virou slogan padrão, assim como a imagem estilizada do rosto de Obama. Nas eleições presidenciais de 2014, por exemplo, a então candidata do PSB (Partido Socialista Brasileiro) Marina Silva apostou nesse modelo, mas não levou. Nem passou para o segundo turno, mesmo estando em segundo nas pesquisas em boa parte da campanha.
Isso acontece porque é a velha maneira de se fazer política que ainda manda e conquista votos pelo Brasil. E a gente nem precisa ir muito longe para constatar isso: aqui em Itu a coisa não muda muito. Quantos conhecidos seus não prometeram votos a esse ou àquele candidato a prefeito ou vereador por ter recebido um dinheirinho para, simplesmente, colocar um adesivo no vidro traseiro do carro?
Os políticos brasileiros – e ituanos também, claro – têm muito a aprender ainda, em todos os aspectos. São poucos os que conseguem captar as reais necessidades da população e converter esses anseios em propostas sérias e palpáveis. E também divulgar essas ideias para seus eleitores da maneira correta, com uma propaganda eficaz como a de Obama.
Propaganda eleitoral por aqui é simplesmente forrar as vias públicas com os populares “santinhos” ou panfletos acusando adversários. São poucos os candidatos que se utilizam das redes sociais e dos benefícios que elas trazem para uma campanha mais limpa, em todos os sentidos. E esses poucos acabam não tendo a mesma visibilidade, pois apelam para a internet justamente por não ter o mesmo dinheiro que os “grandões” têm para investir em publicidade convencional.
A Justiça Eleitoral até tem promovido mudanças nas regras das campanhas, porém essas alterações parecem ter beneficiado apenas quem tem “bala na agulha”. O encurtamento do período de propaganda, por exemplo, favoreceu os candidatos que podem investir numa publicidade maciça, fazendo os pequenos correrem contra o tempo para angariar alguns votos. O fim do financiamento por pessoas jurídicas também parece não ter dado em nada, pois muitas empresas usam pessoas físicas como doadores “laranjas”.
O fato é que, enquanto o sistema eleitoral e a nossa educação não sofrerem uma profunda mudança para melhor, o eleitor continuará votando da mesma forma: sem analisar propostas, escolhendo quem lhe paga uma cesta básica. Ao menos que algum político decente apareça nas próximas eleições e saiba imitar os pontos bons da campanha de Obama…