Um pouco de economês

Por José Pio Martins*

Um aluno me pergunta: “Por que os economistas dão tanta importância ao Produto Interno Bruto (PIB)? Por que interno e por que bruto?”. Respondendo, o PIB é a soma de todos os produtos finais produzidos pelo país durante o ano. O produto é a soma dos bens materiais e os serviços resultantes da atividade de produzir, que é juntar os fatores de produção (recursos naturais, capital físico, trabalho humano e iniciativa empresarial) para transformá-los e atender às necessidades da população.

O capital físico é um fator de produção e é composto pela infraestrutura física (estradas, portos, aeroportos, armazéns, usinas de energia), a infraestrutura empresarial (prédios, máquinas, equipamentos) e a infraestrutura social (hospitais, escolas, creches). A expressão “interno” refere-se ao território nacional. Produto interno é aquele feito dentro das fronteiras geográficas de um país, mesmo que seja elaborado por empresa estrangeira.

Se uma multinacional vem ao Brasil, instala uma fábrica ou empresa de outro setor aqui dentro, contrata trabalhadores, usa recursos naturais, vende e paga impostos no Brasil, seu produto é brasileiro, é interno. Mas se a Petrobras compra uma refinaria nos Estados Unidos (EUA) e faz tudo isso lá, os produtos resultantes entram no produto interno dos EUA.

A palavra “bruto” sugere que deve haver também um produto líquido. E há. Imagine o país no primeiro dia de janeiro. Há os recursos naturais, um número de trabalhadores em condições de trabalhar e um estoque de capital físico. No último dia do ano, 31 de dezembro, à meia-noite, o país fecha a contabilidade e encontra o PIB, que é o total de bens e serviços colocados à disposição da população durante o ano. Entretanto, há um fenômeno pouco percebido a olho nu: o estoque de capital físico, no decorrer do ano, desgastou-se e já não é o mesmo.

As três infraestruturas – a física, a empresarial e a social – terminam o ano com desgaste físico, envelhecimento tecnológico e muitos itens de capital já não servem mais, viraram sucata. Se o país não renovar seu estoque de capital físico, o PIB dos anos seguintes decairá. É o mesmo que observar um fogão de cozinha. Seu desgaste não é visto no prato de comida, mas nem por isso deixa de existir. O desgaste é real e, mais cedo ou mais tarde, o fogão irá para o ferro-velho.

Os economistas calculam anualmente o desgaste do capital físico por meio de uma conta chamada “depreciação”, deduzem-na do produto bruto e obtêm o Produto Interno Líquido. Esse desgaste tem de ser reposto e a forma de fazê-lo é pela elaboração do PIB dividido em duas fatias: uma, os bens e serviços de consumo; outra, os bens de capital. Do PIB anual, uma parte não são produtos que consumimos; são bens destinados a aumentar aquelas três infraestruturas já citadas, que ficarão no sistema com o fim de possibilitar o aumento do PIB dos anos seguintes.

Considerando que há limite para o PIB (o máximo que a nação consegue produzir com os recursos de que dispõe), quanto maior for o volume de bens de capital, menor será o volume de bens e serviços de consumo. Para aumentar o PIB em 5% todos os anos (meta desejável), a fatia de bens de capital deve ser de 25% do PIB, logo, somente 75% da produção poderia ser destinada ao consumo.

Por isso, tentar estimular o aumento da produção (para aumentar o nível de emprego) com medidas de incentivo ao consumo não é receita de sucesso em longo prazo. No máximo, serve para mitigar os problemas no curto prazo.

*José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.