Vereadoras de Itu analisam desempenho feminino nas Eleições 2022
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2019, a população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres, porém, após as eleições no último dia 2, apenas 91 mulheres foram eleitas a deputadas federais, o que representa 17,7% do total de 513 parlamentares.
Nesta eleição, foram eleitas 302 mulheres, contra 1.394 homens para a Câmara dos Deputados, Senado, Assembleias Legislativas e governos estaduais. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 9.794 mulheres se candidataram aos cargos disponíveis, incluindo para posições de suplentes, e 302 foram eleitas [3,1%]. Já entre os homens, 19.072 se candidataram e 1.346 foram eleitos [7%].
Ainda sobre os números envolvendo as eleições, de acordo com números divulgados pelo Ministério Público Federal (MPF), o número de procedimentos abertos pelo órgão para apurar crimes de violência política de gênero no país. Entre 8 de agosto, quando a lei que criminaliza a violência política contra mulheres completou um ano em vigor, e 2 de outubro, dia do primeiro turno das eleições, foram contabilizados 78 inquéritos contra 31 dos últimos 12 meses.
Diante desses números, o Periscópio questionou as vereadoras de Itu, Célia Rocha (PL), Patrícia da Aspa (PSD) e Maria do Carmo Piunti (PSC), para uma avaliação dos dados. Para Célia, sobre o desempenho feminino na eleições, “podemos dizer que estamos caminhando, porém com passos muito tímidos.”
“Não podemos negar que houve um estímulo para aumentar a participação das mulheres e o interesse melhorou significativamente, porém não é suficiente. O número de candidatas foi de 34%, ou seja, acima da cota partidária que é de 30%, porém os partidos estimulam e abrem espaços para candidaturas femininas, mas é necessário melhorar o apoio na questão de reverter ações em votos, pois os espaços permanecem muito favoráveis aos homens e as mulheres enfrentam ainda muitas barreiras nas campanhas competitivas não obtendo maiores resultados nas urnas”, destaca a vice-presidente da Câmara de Itu.
A parlamentar prossegue. “Se fizermos uma avaliação desde 1932 [quando a mulher conquistou o direito ao voto] até o momento atual verificamos que houve avanço e que nunca se debateu tanto sobre a importância da mulher na política, mas chegou o momento da política, dos movimentos, das associações e de todos os segmentos debaterem e entenderem a importância desse aumento na representatividade feminina na política nacional com uma proporção mais justa, em prol do nosso país e pelo fortalecimento da democracia”.
Em relação aos crimes de violência com viés político no país, Célia vê como um fator extremamente preocupante, “pois a única forma de acabar com a liberdade de expressão é o extremismo que gera atos criminosos, intolerantes e de extrema ignorância.”
“É preciso ações de conscientização, mas principalmente ações punitivas contra aqueles que por radicalizarem opiniões políticas partidárias e praticarem atos de violência em nome de posições contrárias, haja consequências, fazendo valer a Lei e a punição inerente aos atos de infração”, complementa a vereadora.
Patrícia da Aspa também opina. “Houve um aumento significativo no número de mulheres na política. Esse número vem sendo crescente a cada eleição, não só eleição municipal. Falando em crime de gênero isso é lamentável, porque muitos dos políticos, quando tem a sua cadeira, usam sim do seu posto para levantar a voz contra a mulher”.
“A gente vê muito disso, principalmente na bancada dos deputados em Brasília. Onde a mulher tenta se expor, falar e é muitas vezes interrompida, estapeada, colocada para baixo, sendo discriminada”, acrescenta a parlamentar.
“O lugar da mulher e onde ela quiser. Eu gosto muito dessa frase. A minha situação como protetora dos animais,por exemplo, muitas vezes tenho que ir pra cima de muita coisa e têm homens que não respeitam e isso acontece muitas vezes na política. O crime de gênero acontece sim, infelizmente”, conclui Patrícia.
Maria Carmo Piunti, que é ex-deputada estadual, também comentou. “Infelizmente, ainda temos de conviver com essa triste realidade no nosso país, sendo que as mulheres representam quase 52% da população e para a Câmara Federal foram eleitas 17,7%, então é uma representatividade muito pequena, ainda que ela tenha aumentado, porque eram 77 na Câmara Federal e agora serão 91 e isso reflete na desigualdade de gênero que a gente vive no país”.
“As mulheres ainda sofrem muito preconceito ao adentrar no mercado de trabalho. Muita dificuldade para poder desenvolver a atividade de mãe, de dona de casa e profissional, porque os homens ainda não aprenderam a dividir o trabalho de casa e o trabalho da educação”, prossegue Maria do Carmo, que acrescenta. “Temos que persistir muito e penso que lutando cada vez mais com essa questão de cotas que realmente é importante e acredito que vamos conseguir ainda na próxima eleição ampliar um pouco mais esse leque.”
Quanto à violência, Maria do Carmo opina. “Eu não vi a violência política deste ano como violência de gênero, eu não entendi dessa forma. Eu entendi como uma violência em que os dois lados que polarizaram a eleição já no primeiro turno estavam muito incitadores de violência”, conclui.