Vídeo de procissão com Libras em Itu viraliza na internet
O vídeo de uma intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) fazendo a tradução para um casal de surdos em uma procissão em Itu viralizou na internet, sendo compartilhado pelo perfil “Razões para Acreditar” – que conta com mais de 4,7 milhões de seguidores no Instagram. O belo gesto de Fabiana Magoga foi gravado durante o Domingo de Ramos (10 de abril).
Fabiana mora em Jundiaí/SP e é professora do ensino básico. Formada em pedagogia, ela sempre foi muito ligada à comunidade católica já que seu irmão é pároco na Paróquia Cristo Redentor, em Várzea Paulista/SP. Como catequista, ela passou a ter contato com fiéis surdos. “Não sabia falar nada em Libras e ficava toda embaraçada sem saber como reagir nem como respondê-los”, recorda.
Foi então que a paróquia ofereceu um curso de Libras gratuito através da Pastoral do Surdo, em 2016, e Fabiana fez. “Desde então passei a conviver com os surdos, os tenho como minha família, é recíproco o amor e a confiança. Muitos fazem videochamada para conversar, desabafar, pedir alguma tradução de oração ou até mesmo um favor, acompanhando para acessibilizar algum compromisso”, conta Fabiana, que hoje também atua profissionalmente na tradução de Libras, em apresentações artísticas, palestras e até vídeos da UNICEF no Brasil.
“Nunca estamos prontos, sempre há o que aprender, mas viver neste mundo do silêncio dos sons me fez ser mais sensível para o ‘olhar’, para algumas causas e situações, como na do vídeo”, explica Fabiana. Na ocasião da gravação, ela participava da celebração de Ramos da Paróquia São Judas Tadeu, em Itu, e um casal de surdos também estava presente. Ela não teve dúvidas e, de costas, começou a interpretar para os dois fiéis.
“Confesso que foi cansativo, sim, porque eu estava de frente para o sol, e depois ainda teve toda a celebração para eu interpretar, mas os surdos estavam participando, cantando e rezando, então no momento eu só pensava em ser o acesso, ser acessível a eles, só pensei em servir. Meu coração estava em paz”, destaca Fabiana, que teve ajuda de amigos para a “escorar” enquanto andava de costas.
Repercussão
O ato foi registrado pela estudante de Jornalismo do CEUNSP, Raquel Silveira. Ela conta que gostou muito do ato e resolveu gravar para os stories do Instagram. “Muita gente do meu Instagram gostou e até me pediu o vídeo para repostar”, comenta a jovem, que enviou o vídeo para o canal “Razões para Acreditar”. O post foi feito na Sexta-feira Santa (15 de abril) e ganhou muita repercussão.
Até então, Raquel e Fabiana não se conheciam. Elas começaram a se falar pelas redes sociais. Na missa do Sábado de Aleluia (16 de abril) veio o encontro das duas. “Muitas pessoas com deficiência começaram a me seguir também e mandaram mensagem”, conta a estudante, informando que, por conta do vídeo, agora as missas da Igreja São Judas às 19h de sábado terão acessibilidade em Libras.
Fabiana ficou feliz com a repercussão. “Foi uma surpresa enorme, muita gente escrevendo mensagens carinhosas, muita gente repostando e me marcando, e eu pensava: ‘nossa, mas eu fiz uma coisa que me parece tão normal’! Então, lendo tudo, passei a sentir que realmente acharam um gesto muito válido! Ainda não sei classificar”, afirma.
Entre as mensagens, uma se destacou: da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Brasil, Damares Alves, falando do direito ao culto. “Eu penso que talvez em muitos lugares infelizmente ainda Jesus estaria a dizer que a messe é grande, mas são poucos os operários”, conta Fabiana. “Fico feliz por ter sido útil, feliz por ajudar a aquecer o coração de tanta gente e mais feliz ainda pelas muitas mensagens carinhosas me desejando o bem”, finaliza a intérprete.
Acessibilidade
A Pastoral do Surdo completa 25 anos em 2022 e atende toda a Diocese de Jundiaí. A sede atualmente fica na Paróquia Cristo Redentor, em Várzea Paulista/SP. Roseli Santos e seu marido, Marcelo, são os coordenadores dos intérpretes. “O nosso objetivo é a evangelização”, explica Roseli.
Hoje são cerca de 30 intérpretes que atuam em missas, catequeses e outras atividades das igrejas da Diocese, sempre com o objetivo de acessibilizar esses momentos aos fiéis surdos. A partir do segundo semestre, haverá formação de novos intérpretes para atender mais comunidades da região.
“É um trabalho muito bonito, de amor e dedicação, porque o intérprete precisa estudar, precisa conhecer uma língua e treinar essa nova língua”, conta Roseli, destacando que a Pastoral do Surdo é “uma família” e que o intérprete se coloca se torna a boca de Deus para o surdo. Ela conta ainda que a pastoral está de portas abertas para receber mais intérpretes. Para saber mais sobre o trabalho, acesse: https://dj.org.br/pastoral-dos-surdos/.