Pé Pequeno

Por André Roedel

Faz tempo que as animações deixaram de ser coisa somente de criança para se tornarem obras com uma certa complexidade, que fazem o espectador – de qualquer idade – pensar. São diversas as animações que conseguem isso, muitas com maestria. Geralmente são da Disney/Pixar. Mas ultimamente outra produtora tem conseguido preencher esse espaço: a Warner Animation Group.

Depois dos bons filmes da série LEGO e Cegonhas, a sucursal de animações do estúdio da caixa d’água entrega o ótimo Pé Pequeno (Smallfoot, 2018, Família), que estreou esta semana nos cinemas. Dirigido por Karey Kirkpatrick (de Os Sem-Florestas), o filme mostra a vida dos yetis, criaturas conhecidas como o “Abominável Homem das Neves”

Um deles, Migo (dublado no original por Channing Tatum), está indo na contramão do que todos os seus semelhantes acreditam: ele tem a certeza que os seres humanos, para eles até então um mito, realmente existem, mesmo que todos da sua espécie neguem. Ou seja, o inverso do que estamos acostumados. E é essa inversão que dita a boa dinâmica do filme, que tem um fundo ético e moral.

O filme tem um começo irregular, flertando com o gênero de animações musicais. Sério, tem algumas cenas com música bem desnecessárias. Porém, encontra o tom no segundo ato quando se torna uma crítica à falta de pensamento crítico. Um grupo de yetis começa a questionar se Migo teria razão e começa a procurar evidências da existência do “pé pequeno” – como os humanos são conhecidos para eles.

O filme trata de opressão e a ignorância causada pela falta de diálogo em regimes ditatoriais, em que simples questionamentos se tornam motivos para punições. Ou seja, Pé Pequeno consegue ensinar os malefícios da ignorância – e de se querer um regime autoritário, como muitos brasileiros vêm demonstrando dia após dia – de maneira didática. E para crianças de todas as idades.

Se tecnicamente o filme peca em alguns pontos, principalmente na qualidade da animação e na edição e mixagem de som (talvez tenha sido um problema na hora da dublagem, não sei), compensa num roteiro afiado, cativante e com personagens divertidos. Não cai no maquiavelismo de que os yetis são bons e os humanos são ruins, ou vice-versa.

Aliás, o filme tem uma mensagem tão bonita no final que foi um momento de luz e calmaria em meio a todo clima de ódio instaurado no País por conta das eleições… Então você já sabe: se quiser ver um filme good vibes, com um roteiro questionador e um final fofinho, assista Pé Pequeno. Vale o ingresso!

 

Nota:

 

 

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